O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

LCA prevê Selic a 8,75% em fevereiro

.

Publicado em 22/09/2021 às 18:27

Alterado em 22/09/2021 às 23:26

Gilberto Menezes Cortes CPDOC JB

A decisão do Federal Reserve (o banco central dos Estados Unidos) de manter os juros básicos em até 0,25% ao ano e adiar a data em que puxará o tapete das injeções mensais de US$ 80 bilhões na recompra de títulos do Tesouro ou garantidos por hipotecas (o tal do “tapering”) trouxe algum alento ao mercado financeiro brasileiro, assustado com os abalos sísmicos provocados pela gigante imobiliária chinesa EverGrande e as trapalhadas do governo Bolsonaro. Virou consenso de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central anunciará às 18h30 um aumento de um ponto percentual na taxa Selic, para 6,25% ao ano [se estivesse lá, defenderia 1,25 para apressar o ajuste].

Mas, diante do agravamento do quadro hídrico (que já tem originado pequenos apagões previstos por especialistas do setor elétrico, porque as usinas hidroelétricas estão operando com níveis mínimos recordes, que agravam os riscos de interrupção, como vem acontecendo no sistema Furnas no Sudeste), as instituições financeiras estão fazendo novas apostas de alta da inflação e de elevação da Selic. Enquanto o IPCA e os juros sobem pelo elevador, o PIB desce a escada. Tanto em 2021 quanto em 2022.

A LCA Consultores divulgou na noite de ontem um informe em que eleva a previsão de inflação deste ano (medida pelo IPCA) para 8,5% (e a de 2022 para 4,5%). Para neutralizar a inflação, a LCA acredita que o Copom vai elevar a Selic a 8,25% até dezembro (com novas altas de 1 ponto percentual em 27 de outubro e 7 de dezembro) e aumento adicional de 0,50 p.p. na reunião de 2 fevereiro, quando atingiria 8,75%, nível que permaneceria até o fim de 2022.

PIB em queda pode ser negativo em 2022

Mas a maior mudança nas projeções da LCA está ligada à taxa de crescimento da economia. A consultoria, que já chegou a prever alta de 5,2% no Produto Interno Bruto deste ano e de 2,2% em 2022, está agora estimando, no seu cenário base, avanço de apenas 4,8% este ano e de 1,7% em 2022. (o governo trabalha com 5,2% este ano e 2,3% em 2022). O dólar fecharia o ano em R$ 5,10 este ano e em R$ 4,90 em 2022, estima a LCA.

Mas a Consultoria trabalha com dois cenários: um benigno (em que não haveria restrição de energia este ano e em 2022), aliviando as pressões sobre a inflação, por conta também de uma taxa mais baixa do dólar (que influi nos alimentos e preços de combustíveis e na energia elétrica); e outro mais negativo, com crise aguda na energia gerando mais inflação, queda de atividade e desaquecimento da economia, além de crise política na eleição.

No cenário adverso, a Selic fecharia 2021 a 8,75% e 10,25% em 2022, porque o dólar iria a R$ 5,70 em dezembro deste ano e a R$ 5,50 em dezembro de 2022, a inflação saltaria para 9% este ano e 5,2% em 2022, forçando o PIB para baixo: apenas 4,50% este ano (pouco recuperando a queda de 4,1% de 2020) e encolheria 0,4% no ano que vem. Este cenário pressupõe agravamento do quadro fiscal em 2022 (maior reajuste do salário mínimo e da aposentadoria, ou seja, mais despesas, com menor arrecadação e custos mais altos dos juros da dívida).

Já o cenário benigno, só falta ser apresentado por Papai Noel. A inflação seria de 8,2% este ano e de 2,9% em 2022, com o dólar fechando 2021 em R$ 4,79 e R$ 4,05 em 2022. Aí o PIB cresceria 5% este ano e 4.2% em 2022. Esse seria o cenário dos sonhos para Jair Bolsonaro.

Infelizmente, não é assim que pensa a média do mercado financeiro. O Bradesco, que está na ponta dos otimistas, prevê inflação de 7,76% este ano e de 3,34% em 2020, com a Selic fechando os dois anos em 7,50% ao ano. O PIB cresceria 5,2% este ano e 1,8% em 2022 (na previsão de julho seria de 2,3%). Já o Itaú espera inflação de 8,4% este ano e de 4,2% em 2022, com a Selic fechando 2011 em 8,25% ao ano e chegando a 9% em fevereiro. O PIB, que o Itaú já chegou a prever crescimento de 5,8% este ano, avançaria só 5,3% com expansão de modestos 0,5% em 2022 (em julho o Itaú previa 2,3%).

Tags: