O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

[email protected]

O OUTRO LADO DA MOEDA

Inflação de 5% em março deixa Copom em xeque

.

Publicado em 18/01/2021 às 18:11

Alterado em 18/01/2021 às 18:11

... ...

As previsões do mercado financeiro de aumento da inflação para 5% nos 12 meses terminados em março, segundo a Pesquisa Focus feita pelo Banco Central entre 100 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa e divulgada nesta 2ª feira, vão deixar em xeque o Comitê de Política Monetária (Copom), que inicia amanhã dois dias de reuniões.

Não se espera alta da taxa Selic, hoje em 2% ao ano (na média, o mercado espera que a Selic suba para 3,25% até dezembro, mantendo a previsão da semana anterior, e para 4,75% em 2022, também pela 2ª semana, 6,00% em 2023 e em 2024). Mas as Top 5 (as cinco instituições que mais acertam as previsões) preveem que a Selic feche 2021 em 3,25%, em 4,25% em 2022, em 5,75% em 2023 e 6% em 2024. O mais provável é que o BC abandone o “forward guidance” a anuncie o início de alta de juros ainda no 1º semestre.

As previsões reagem ao aumento das pressões inflacionárias de curto prazo. Na média do mercado a taxa acumulada em 12 meses chegaria a 4,99% em março, ou a 5,11%, na visão das Top 5. No fim do ano desceria para 3,43% e 3,40%, respectivamente (há uma semana, as previsões eram de 3,34% e 3,33%).

Salto previsto pelas “Top 5” alerta Banco Central

O salto previsto pelas Top 5 deve servir de alerta ao Copom. Na média do mercado, o IPCA de janeiro vai aumentar 0,27%, o de fevereiro, 0,45% e o de março, 0,29%. Como as taxas foram, respectivamente, de 0,24%, 0,21% e 0,07% nos três primeiros meses de 2020 e a taxa acumulada em 12 meses terminou 2020 em 4,52% isso implicaria uma inflação de 4,99% de 12 meses em março. As Top 5 têm visão mais pessimista: 0,33% em janeiro, 0,54% em fevereiro e 0,25% em março. Com isso, a taxa alcançaria 5,11% em março.

Itaú espera alta da Selic em maio

O Itaú, que revisou na 6ª feira a projeção do IPCA de 2021, de 3,3% para 3,6%, está prevendo que a taxa Selic vá fechar o ano em 3,5%, mantendo a previsão do final do ano passado. Mas agora acredita que os juros sobem na reunião de 5 de maio.

“Passamos a esperar início do ciclo de alta em maio (antes era em agosto). Tal antecipação se deve ao aumento da pressão inflacionária no curto prazo, dado o ambiente de alta de preços de commodities não compensada pela apreciação da taxa de câmbio”, diz o Itaú.

O Banco adverte que “em caso de novas surpresas altistas no IPCA ou piora do balanço de riscos, a taxa Selic poderia subir ainda antes, já na reunião de março” (dias 16 e 17).

Bradesco vê redução do Auxílio afetando vendas

Ao analisar o recuo de 0,1%, na margem, descontado os efeitos sazonais, das vendas do varejo do comércio, em novembro, (a 1ª queda desde abril), o Departamento Econômico do Bradesco considera que o movimento já “refletiu a redução do valor do auxílio emergencial e maior deslocamento de consumo para serviços.

As vendas de supermercados e hipermercados tiveram desempenho mais fraco, o que reflete também a alta dos alimentos. Ao incluir as vendas de automóveis e de materiais de construção (varejo ampliado), a alta de 0,6% na margem, também mostra forte recuo, após a expansão de 2,1% em outubro.

Com isso, o Bradesco espera “nova queda do volume de vendas em dezembro, período impactado também pela pandemia, conforme sugerido pelas pesquisas de confiança e por indicadores de alta frequência, como os de mobilidade”.

IBC-Br rateia em novembro

Os dados do IBC-Br, divulgados nesta 2ª feira pelo Banco Central, com crescimento (descontando efeitos sazonais) de 0,59% sobre outubro, que tinha aumentado 0,75% sobre setembro, confirmam a desaceleração da economia, não só pela redução do estímulo do auxílio emergencial. Extinto em janeiro.

O repique da convid-19, que antecedeu o início meio caótico e improvisado – quase a contragosto – da vacinação, com São Paulo tomando a dianteira e o presidente Jair Bolsonaro tendo que aceitar a antes criticada “vacina chinesa do Dória, a CoronaVac produzida em SP pelo Butantan – pode atrapalhar o desempenho da economia neste 1º trimestre.

Sem o auxílio R$ 300 e com a inflação em alta, o consumo tende a diminuir. E, como a base de comparação é o 1º trimestre de 2010, quando os indicadores do PIB só tiveram comportamento negativo em março (a pandemia foi declarada em 16 de março), a base de comparação vai ser duplamente negativa.

Economia da China dribla a covid-19

Berço do novo coronavísrus, que surgiu em Whuan, em novembro-dezembro de 2019, a China, que acumula oficialmente pouco menos de 4.700 mortes, parece ter sido o único grande país a driblar a recessão no ano passado. No 4º trimestre, o PIB chinês retornou ao nível pré pandemia, com expansão de 6,5% ante o 4º trimestre de 2019. As previsões eram de uma alta de 6,1%.

Assim, o PIB chinês cresceu 2,3%. Foi a menor taxa neste século (em 2019, o PIB crescera 6,1%). Mas o que interesse é comparar com o resto do mundo.

E aí a vantagem chinesa só aumentou: a previsão é de que o PIB global encolherá 3,4%, sendo de 7% a queda na área do Euro e de 3,5% nos EUA.

General Pazuello deixa tartarugas fugir pela escada

Quando a turma do contra (à direita e à esquerda) queria desmoralizar Ulysses Guimarães, o “senhor Diretas-Já” e o artífice da Constituição de 1988, teclavam no fato de sua idade longeva e diziam que ele deixara 2 tartarugas de estimação fugirem pela escada do prédio em que morava, em Brasília. Fernando Collor foi uns dos que espicaçaram Ulysses, chamando-o de “velhor”. Levou uma resposta lapidar: “Velho, sim, velhaco nunca”.

Nosso atrapalhado ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, com a habilidade e a perspicácia do Sargento Garcia, deixou o “Zorro” Dória dribla-lo facilmente, como se duas tartarugas fugissem pela escada abaixo.

Irritado com a ousadia tática do governador de São Pauloe Dória, de iniciar a vacinação no domingo, o presidente Jair Bolsonaro, que já tinha que engolir a única vacina disponível (a chinesa do Dória), ordenou ao general a antecipar a vacinação (antes prevista para às 7 da manhã de 4ª feira, 20).

Pazuello marcou para estranho horário das 17 horas de hoje, parecia o “a hora H do Dia D” (certamente para dar tempo da entrega por avião, a partir de são Paulo, sede do Butantan, às capitais mais distantes do Norte e Nordeste).

Mas o ministro, especialista em Logística, falhou redondamente na largada. Os aviões já saíram com atraso de São Paulo (Guarulhos). A chegada ao Rio de Janeiro, distante pouco mais de 370 km, atrasou e a cerimônia no Cristo Redentor, marcada para as 17 horas, pode ser adiada. Até para chegar a Curitiba, cidade mais próxima (340 km), vai atrasar.

O mais grave é que a campanha começa sem segurança de uma 2ª dose. O comportamento do Ibovespa, que chegou a se aproximar de alta de 2% no final da manhã, desceu depois do almoço para alta de 1,5% às 15 horas.

Outro indicador em baixa (por enquanto só refletindo a redução e o fim do Auxílio Emergencial) foi o de aprovação do governo Bolsonaro: o índice de Bom e ótimo caiu de 38% em dezembro para 32% em janeiro. Já o de ruim e péssimo, subiu de 35% para 40%, no mesmo período.