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A música sem fronteiras de Ibrahim Maalouf

Reprodução -
Ibrahim Maalouf
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Essa polaridade em torno da política que vivemos no Brasil e as consequentes discussões acaloradas em defesa de um dos lados me remetem de certa forma ao que acontece com relação à música. Existem aqueles artistas que levantam a bandeira da tradição, tentando manter a qualquer custo sua suposta integridade, não deixando ninguém violar seus valores. E há os que panfletam por uma ruptura, buscando a diversidade e a liberdade por novos caminhos.

No meio desse “conflito”, sugiram músicos que preferiram transitar nos dois lados, buscando alcançar uma visão cultural moderna sem perder o contato com suas raízes e origens. Mas é possível ser uma pessoa tradicional vivendo no futuro?

Macaque in the trees
Ibrahim Maalouf (Foto: Reprodução)

Nascido em Beirute e criado em Paris, Ibrahim Maalouf é uma das grandes lideranças da música instrumental deste século. Filho de intelectuais e artistas, Maalouf é compositor, arranjador e professor e também toca piano. Mas é no trompete que ele vem quebrando barreiras e ganhando súditos por todo planeta (é, aliás, o único no mundo a tocar em um instrumento de quarto tom, inventado por seu pai nos anos 1960).

Seu início foi na música clássica, na qual, desde muito cedo, já se destacava com interpretações de Bach. A partir de 2001, começou a desbravar novos caminhos, se tornando uma referência no jazz e também na world music.

Seu virtuosismo chamou a atenção de nomes como Wynton Marsalis, com quem se apresentou na França, no tradicional festival Jazz in Marciac, em julho deste ano. Para Maalouf, o desafio era enorme, exatamente por Marsalis ser uma referência no tradicionalismo. “Mas nos entendemos, ele me deu liberdade para criar meu som”, disse o músico durante o festival.

Com 12 álbuns lançados nos últimos dez anos (entre eles “Wind”, meu favorito), o músico lançou, semana passada, “Levantine Symphony no 1 (Mister Ibe)”, que reúne numa peça sinfônica as músicas clássica e moderna, além do jazz, juntando culturas musicais do Levante, região no Oriente Médio. O projeto é ousado e foi composto e dirigido por Maalouf, que coloca, além da orquestra sinfônica, um coro de crianças e um conjunto de cinco trompetes microtonais. Uma obra eclética que diz muito sobre este idealizador, que, com apenas 37 anos, assume a postura de não impor limites à sua música e à sua criatividade.

Ainda este mês, ele lança (mais um!) álbum: “Live in Paris 14.12.16”, um concerto ao vivo no AccorHotels Arena, em Paris. O show durou quase quatro horas, numa peça moderna de sinfonia dividida em duas partes, repleta de surpresas, como ele mesmo garante.

Maalouf entende que está associado ao jazz, mas gosta de se enxergar como uma pessoa aleatória fazendo música, podendo ter sua liberdade para criar qualquer tipo de som, respeitando e cultivando todas as referências de sua origem.

Quem me dera não precisar escolher lados e encontrar meu Ibrahim Maalouf para votar no dia 7 de outubro.

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