Muito bom, apesar de tudo

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Desfile no domingo, nos jardins do MAM

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Um bom desfile supera a mera apresentação de roupas. Para descobrir novidades é preciso apostar em convites para lugares inacessíveis, em horários estranhos e em dias ainda inusitados. Já assisti a desfile do Jacquemus, atual queridinho da moda, em pé, em um espacinho no Museu Beaubourg, em Paris. Aqui, pode acontecer de receber convite para ver uma coleção em pleno domingo, ao meio-dia, no Jardim do MAM RJ (Museu de arte Moderna do Rio de Janeiro). Detalhe: aos domingos, estão fechados os acessos ao Museu.

Apesar destes fatores adversos, deu certo, ver a coleção do Rafael Caetano, 31 anos, oriundo de São Caetano do Sul, há 13 anos fazendo moda.


Por que passou longe de um provável arrependimento? Primeiro, pela coleção, original e sensata, com roupas que vão da peça longa, listrada a looks que lembram pijamas, ou um quase sóbrio terno preto, com paletó curto e calça reta. Depois, pelo fato de, ao mesmo tempo, ter uma feira literária e o apoio da Estante Virtual. Em terceiro, a homenagem ao Antônio Cícero, que motivou a leitura de trechos de seu livro Fullgás entre as passagens dos modelos, muitos também escritores. O elenco incluiu escritoras, demonstrando que a roupa veste todos.


Histórias do Rafael Caetano

O protagonista do evento fez uma bela estreia no Rio. Na moda, começou com 15 anos, tentando entrar nos concursos. Até participar da Casa dos Criadores, onde ficou 16 anos. Depois passou para a agenda da São Paulo Fashion Week, onde já desfila há três anos.

Sua carreira extrapola o eixo Rio-SP. Rafael participou de uma programação do Sebrae em Pernambuco:

“Com o apoio da Nicoletti, tecelagem de jeans, percorri cidades do Agreste, Zona da Mata e do Sertão, vendo o artesanato local e acabei em Toritama (n.r. um dos maiores polos de jeans do mundo). Trouxe muito trabalho de crochê e macramê para minha coleção seguinte.”

Rafael foi além. Em 2023 fez uma pós graduação em São Paulo e seguiu para um mestrado em Madri. Desde então vem alternando o endereço entre Brasil e Espanha.



E o estilo, afinal

Não é do tipo que propõe saias e laços para os homens. “Fiz isto no começo. Depois, vi que já tinha sido muito feito. Mas minha base é a costura francesa, feminina. Penso em uma peça feminina e transformo em masculina”.

É uma marca básica? Clássica? De jeito nenhum. Louca? Nem tanto. É um aviso de mudança, de liberação do marasmo. Vale ver o trabalho do Rafael Caetano.