Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Um cabide escritor

Publicado em 26/05/2024 às 11:33

Alterado em 26/05/2024 às 11:33

O que se espera de um livro ligado à moda? Complicadas descrições de detalhes de cortes, drapeados e franzidos. Biografia suave de um criador. Até páginas lembrando auto-ajuda, como o Aprendizados, da Gisele Bündchen. Ou verdadeiras enciclopédias, destinadas a nunca serem consultadas.

E eis que um modelo masculino dos anos 1970/80 assina Um cabide que caiu no mundo.

Tinha tudo para ser um currículo ou uma biografia profissional de 535 páginas. Só que não: Beto Simões, lindão sorridente, 1m80, faz um verdadeiro painel da vida pelo mundo, nos 10 anos que foram o auge do seu trabalho.


Capa do livro Um cabide que caiu no mundo Foto: reprodução



Menino do Rio

Alguns prazeres são citados com frequência: o vôlei e o futebol na praia de Ipanema, onde foi descoberto por uma equipe de filmagem. Tipo “quem é aquele, lá no fundo?”, e o nome revelado pelo Arésio, vendedor de mate, as noitadas nas boates Jirau e Le Bateau. O pai, Dr. Simões, advogado, quando viu que o filho rumava para o pernicioso mundo da moda (assim era considerado), não se opôs, mas pediu que completasse o curso de Direito na UFRJ. “Mas na profissão de modelo, meu maior professor foi Roberto Barreira, na época diretor das revistas de moda da Editora Bloch (Desfile, Ele e Ela, Pais e Filhos)”, confirma o que este mestre fez por muita gente.


Cabide do mundo


Close de uma das campanhas de moda Foto: acervo pessoal


Beto fotografou, filmou, desfilou, fez até fotonovela, o que lhe dava prestígio na Itália. Trabalhou nas maiores agências e lembra que “um dia estava em um hotel cinco estrelas com champanhe e caviar. Quando paravam os trabalhos bons, o grupo que trabalhava quase sempre junto estava em casa comendo macarrão, felizes, com esperança, cerveja e parmesão”.

Mas logo chegavam os contratos para catálogos, publicidades. Além dos conselhos do Roberto, Beto tentou melhorar a interpretação no Tablado. “Desisti depois de pedirem para ser uma palmeira, um macaco e o pior: uma tartaruga”. Fez o curso da Socila, conviveu com Marcia Couto, Marcia Jardim, Marcia Brito, Fátima Osório, Alcione Mazzeo, Maria Helena, Monique Lafond, Luiz Dale, os grandes modelos dos anos 1970/80.

Alguns dias começavam na Suíça e acabavam em Veneza.


Publicidade feita junto com o amigo (ate hoje) e modelo Luiz Dale Foto: reprodução



Além da moda

A profissão exigia vestir sunga em lugares gelados, casacões em ruas ensolaradas, pleno verão. Trocar de roupa em camarim único, para fotos de praia “era ao natural, rápido, felizmente não dava para desviar o olhar. Ficava feio desfilar excitado”.

De vez em quando pela eventual solidão e as exigências do trabalho, este bom humor virava uma “fossa” (estado parente da depressão). Nestas horas, Beto escrevia uma espécie de diário, comentários, poesias. Qualquer guardanapo servia para desabafar.

Estes bilhetes deram origem a este livro, que foi adiado durante décadas, para evitar problemas. Porque além da moda, Beto acompanhava os movimentos políticos do Brasil. “Foi sorte minha poder seguir em frente. É claro que sofria e desesperava, mergulhava fundo na tristeza a cada nova prisão”.

Não conto mais do livro O cabide que caiu no mundo, do Beto Simões. Só não escondo o orgulho de ter lido na página 95 que eu o aconselhei a nunca esquecer que tinha aprendido tudo aqui no Brasil.


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