Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Mais uma cidade da moda

Publicado em 28/10/2023 às 10:12

Alterado em 30/10/2023 às 17:59

Xangai, pelo menos no linguajar do sul do Brasil, já foi sinônimo de cafona, vulgar, brega. Uma pessoa xangai não sabia combinar cores, usava brilhos fora de hora ou exagerava na maquiagem. Pois este significado já pode ser cancelado (se é que ainda existe) dos dicionários.

Porque depois das semanas de desfiles européias, em que os destaques não chegavam a 10 em cada cidade - Paris, Londres, Nova York, Milão - Xangai foi alvo de coberturas dos sites internacionais, principalmente Vogue e WWD. No circuito da imprensa especializada, esperava-se que as semanas de Hong Kong, Tóquio e Cingapura fossem as novas referências das tendências. E aí, de oito a 16 de outubro (nove dias, mais do que os eventos europeus e americanos!) Xangai faz sua primeira edição depois das restrições da Covid, com 1000 participantes, showrooms espetaculares e até uma moda de rua digna dos paparazzi mais exigentes.

Além dos desfiles com propostas clássicas, conceituais ou extravagantes, há um senso de realidade de acordo com estes tempos estranhos. Edison Chen, um dos criadores mais ativos da China, comentou: "Não sabemos se nossas coleções vão vender bem. Mas estamos apresentando o nosso trabalho.". A prova da vontade de atender a uma clientela menos milionária é o empenho em aumentar a faixa de preços, começando a oferecer peças mais baratas.

Importante nas coleções chinesas: crochê, malhas metálicas (mesh), cores delicadas ou vibrantes, saias evasês, década de 1990, figurinos de cinema, pretinho básico, ainda muito jeans. Tradição, minimalismo e genderless.

Vejam alguns destaques citados pelos grandes sites internacionais.

Alfaiataria em preto e branco da Comme Moi
Foto reprodução IG

Comme Moi: marca da modelo Lu Yan, apoiada pelo Chenfeng, o grupo mais poderoso da China, celebrou 10 anos de trabalho com uma apresentação para mil convidados. Muito jacquard e crochê metálico em preto e branco, couro luxuoso e alfaiataria para as elites urbanas locais. Inspiração: anos 1990.

Edison Chen e a coleção-cápsula para a Adidas
Foto reprodução IG

Edison Chen: celebrou 20 anos de sua marca Clot convidando grifes nacionais e internacionais - como Tommy Hilfiger - para reinterpretar seu logo. Apresentou a colab com a Adidas, sandálias de palha Samba e muito estilo athleisure (atlético urbano). A colaboração com a Adidas vai além do design de roupas: Chen vai trabalhar no Innovation Lab baseado em Xangai, para que a marca alemã entre em contato com os talentos locais. "Esperamos descobrir de cinco a oito nomes que nos representem. Atualmente temos o projeto Earn your stripes (ganhe suas listras, referência às listras da Adidas). Se surgir um artista plástico, vamos montar uma exposição; se for um fotógrafo, ele será escolhido para fotografar o catálogo. "

Tons de névoa de verão nos ternos e vestidos da Icicle
Foto reprodução IG

Icicle: marca com 26 anos estreou na SFW (Shanghai Fashion Week), mostrando vestidos inspirados em pipas, trenchcoat transparente e um terno assimétrico em tom de névoa de verão. Bénédicte Laloux é a diretora de criação.

Uma das bolsas de laço de canutilhos da Shushu/Tong
Foto reprodução Farfetch
 

Shushu/Tong: Inspiração na série Big Nude, do fotógrafo Helmut Newton levou a dupla Lei Liushu e Yutong Jiang a usar rendas como base para esculpir modelos que são ao mesmo tempo sensuais e modestos. Segundo os autores, o sonho das suas garotas é ser uma boneca que adora a bolsa com um laçarote borboleta e os óculos enfeitados com pérolas.

Plumas e tons de aquarela nos vestidos de Xu Zhi
Foto reprodução IG
 

Xu Zhi: Taoismo e os ensinamentos do ying-yang são as bases da elegante série de franjas de plumas de avestruz, camisas masculinas com paetês e minissaias bordadas com miçangas.

Oude Waag: marca de Jingwei Yin, aluno do Royal College of Art. Inspiração na cultura Ama, das mulheres japonesas que mergulham buscando pérolas. Drapeados em alfaiatarias e vestidos lembram as texturas das cascas dos moluscos abalones e aplicações imitam as pérolas. É uma grife cara, mas mostrou moda de praia com estampas gráficas com preços razoáveis.

Looks da coleção Orgasmic, de Louis Shentag Chen
Foto reprodução IG

Louis Shengtao Chen: semifinalista no prêmio do grupo LVMH, apresentou a coleção Orgasmic em um armazém histórico de um Banco com vista para o rio Bund. Vestidos em tecidos amarrotados ou com muitos cristais Swarovski, um rosto preenchendo um modelo. "Além do prazer sexual, é um caminho entre auto-conhecimento e auto-evolução", explicou Shengtao Chen, que lembrou do filme "Silêncio dos Inocentes".

Foto reprodução IG
Foto reprodução IG

Assim Marc Gong imagina as executivas estilo Samantha Jones. Fotos acima

Mark Gong: reinterpretou o figurino de Samantha Jones do filme Sex and the City, que ele assistiu quando tinha 11 anos. Principalmente a cena em que ela perde o lance de um anel de brilhantes para o namorado. O resultado é a coleção perfeita para executivas, que também acham que uma mulher deve comprar suas próprias joias. Nos destaques, pretinhos transparentes, tricôs franjados, um minivestido de paetês vermelhos, uma saia com a letra M do logo e um look de jeans com correntes de metal. Tudo, com lindas meias e muita bijuteria. Gong estudou na Parson's.

Estilo da Ponder.er, marca premiada como melhor genderless
Foto reprodução IG

Ponder.er: Alex Po e Derek Cheng ganharam um prêmio como melhor marca genderless e encaram a primavera/verão de 2024 como a busca pelo seu próprio paraíso na Terra. Elenco inclusivo, muito jeans combinado com crochê

A elegância para a geração G, segundo Haizhen Wang
Foto reprodução IG

Haizhen Wang: ganhou o prêmio francês Fashion Fringe e renovou o pretinho básico com técnicas de Madeleine Vionnet e Madame Grès, visando encantar a geração G chinesa.

Moda para os tristes e românticos, na Danshan
Foto reprodução IG

Danshan: é baseada em Londres, assinada por Danxia Liu e Shan Peng Wong, que se dedicam à moda masculina. A coleção fala com os "tristes modernos e o guarda-roupa que estes românticos partilham com seus amores". Em um cenário de quarto, os modelos atuavam como se estivessem em um sonho, vestindo camisetas, regatas e hoodies de cetim, chifon e tule.

A inglesa Stella McCartney fechou a série de desfiles. Afinal, quem não se interessaria por um mercado como a China, mesmo que atualmente esteja meio parado? Segundo pesquisa publicada no New York Times, o ranking atual das línguas é: primeiro, o mandarim (pela população chinesa}, espanhol em segundo e inglês, em terceiro. Mais uma razão para cair no mandarim, no Duolingo: brilhante, luminosa, colorida, a julgar pelas cenas de séries como "Entre a razão e a Emoção", Xangai, decididamente não é mais xangai.


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