Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Conceitos passados e futuros

Publicado em 14/10/2023 às 09:54

Alterado em 14/10/2023 às 14:02

Quando acabam as principais Fashion Weeks do mundo, a tradição quase obriga a um resumão, um ataque de xamã (com guizos e tudo) prevendo o que vamos vestir daqui a seis meses. Mas depois de revisar as fotos, vídeos e comentários de colegas que estiveram no circuito internacional, como a Carol Chang, do Pop Fashion ou o Tim Blanks do Business of Fashion, cheguei à conclusão que podia selecionar alguns momentos mais diferentes, divertidos ou estranhos. No fundo, eles é que definem o Futuro, justamente por serem originais. Sabem aquela característica da moda? Quase tudo o que achamos horrível hoje, daqui a três meses estamos loucas (loucos) procurando comprar pelo mundo.

Modelinho puff reforça a volta dos poás na Marni
Foto: divulgação

Para começar…
Há uma parte da criação que é tão estranha que cai na categoria conceitual. Serve para anunciar ou reforçar uma tendência. um bom exemplo: esta fofíssima vestimenta de poás assinada por Dingyiun Zhang para a Marni.

Fox eyes, na base da toxina botulínica
Foto: divulgação
 

Falando em orientais, há uma mania pelos fox eyes, os olhos de raposa. A Dra. Samanta Bussolaro, da Clínica de Estética Avançada Bequeen redesenha o formato dos olhos com a toxina botulínica, que ao mesmo tempo relaxa os músculos ao redor dos olhos, levanta a cauda das sobrancelhas e suaviza as linhas de expressão. Quem se habilita?
Mais uma que tem a ver com o trabalho do outro lado do mundo: o grupo LVMH, a Hermès e a Gucci estão reforçando os contatos com os fornecedores artesanais do Japão, principalmente os que lidam com antigas técnicas de esmalte, tingimento do índigo e trabalhos com folhas de ouro. Sabem qual é o problema? Não, não é a língua: é a diferença de timing entre a pressa dos grandes grupos europeus e a lenta tradição perfeccionista dos orientais.

TBT de ideias

Lagosta da Schiaparelli em versão 2023
Foto: divulgação
 

Sempre é bom combinar novas tecnologias ou novas ideias com referências clássicas de certas marcas. Como a Schiaparelli, que se destacou nos anos entre as duas grandes guerras. Amiga dos artistas que viviam em Paris naquela época, aproveitava palpites de Salvador Dali, por exemplo. Daí, que Daniel Roseberry, atual diretor de criação, lembrou de pendurar uma lagosta dourada sobre o vestido preto.

 

Victoria´s Secret volta aos bons tempos
Foto: divulgação
 

A outra volta é estratégica: depois de lançar coleções mais discretas, visando mais o conforto, na quinta-feira os investidores da Victoria´s Secret receberam a notícia de um plano b: a marca terá lojas mais bonitas, vai entrar em novas categorias e voltará às origens. Isto é, às calcinhas e sutiãs sensuais, em rendas preciosas, transparências ousadas. Um dos executivos usou o argumento do momento: “sensualidade é inclusiva”..
Outra marca tradicional se deu mal, apostando na qualidade de seus produtos. As ações da alemã Birkenstock deram uma queda inesperada na Bolsa de Nova York. Qual será o plano B deste calçado famoso? E a Birken já complementou desfiles do Rick Owens e da Dior.

Bolsinha prata da Coperni
Foto: divulgação
 

Nos acessórios
Se o Jacquemus esgota as bolsas prateadas, a coisa vira obrigatória em todas as marcas de acessórios. Uma das mais conceituais (leia-se inútil, porque não cabe nada) é a mini bolsa Pétala prata da Coperni. Vai ver que esgota, mesmo que por 590 euros (R$ 3.150).

A outra proposta não chega a ser novidade. É a boot, tipo coturno. Mas a da marca alemã Tamaris é vegana (não me perguntem como, os guizos não souberam responder), tem lindas fivelinhas prateadas e a indicação é para usar no trabalho (office), encontros com namorados (date night) e para sair a qualquer hora do dia ou da noite. Deixem os escarpins no bazar da igreja, por favor.

O que dizer desta camiseta, deste look masculino?
Foto: divulgação
 

Manifestos
Quanto à moda masculina, prefiro deixar para o José Gayegos, mestre que trabalhou com Dener e faz sábios comentários no Facebook, a análise das coleções desfiladas nestes dois meses. Mas há dois pontos fortes, dentro de um mesmo estilo: as letras góticas nas palavras estampadas. E as frases-manifesto, em geral ainda bem machistas. Como a assinada por Willie Norris para a Outlier, onde se fica sabendo que “homens de verdade não comem quiche”.

Jeans desgastados da Maison Margiela, por John Galliano
Foto: catálogo
 

Enfim, ainda bem que John Galliano continua à frente da Maison Margiela, com variações do básico trenchcoat, vestidos pretos de golas brancas e propõe os distressed jeans, que são os desgastados, clássicos tanto na forma como no tingimento. Relembrando o currículo do Galliano, conclui-se que seus desfiles eram loucos, espetaculares, mas as coleções sempre foram elegantes e impecáveis.

Longo colante, de ombros pontudos, do Rick Owens
Foto reprodução desfile
 

Um dos meus favoritos, Rick Owens, parou com os happenings e apresentou um conjunto de peças colantes, sedosas, à primeira vista estranhas, pelos ombros pontudos, o exagero no ajuste. Mas são primores de costura, como afirmou Tim Blanks, que o considera um dos grandes talentos da moda atual. Eu também.

Desfile da Balenciaga no lamaçal, no ano passado
Foto: reprodução de video
 

Aliás, falando em desfile, ainda está para ser produzido um mais lamacento do que o Balenciaga do ano passado. A moda suja os sapatos da plateia, mas diverte.

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