Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

O que vem por aí, segundo as pesquisas

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Publicado em 19/11/2022 às 10:18

Alterado em 19/11/2022 às 10:24

Iesa Rodrigues JB

Desde 2020 a vida no planeta acelerou, mudou em todos os setores do dia a dia, o convívio social, os governos, até o clima. A moda não podia ficar de fora das revoluções inesperadas, ainda que previstas – mas não acontecendo tão rapidamente.

 

Macaque in the trees
Estilo genderless, mais básico e amplo: uma tendência forte. Um exemplo da Wildfang (Foto: reprodução catálogo)

 

Na corrida para atualizar as previsões, a empresa WGSN (Worth Global Style Network), um dos principais grupos de pesquisas de tendências, realizou nesta quinta-feira um encontro online para tentar explicar as mudanças que devem durar (espera-se) pelo menos dois anos.
Compras em casa

Apesar de um começo lento, as compras de roupas e acessórios dispararam com a pandemia, graças ao hábito já instalado de apelar para Americanas.com ou a Amazon.com. O e-commerce se transformou em estratégia forte de varejo, chegando a representar 25% das vendas nos Estados Unidos. O fato de roupas mais largas e sem formas definidas liderarem as preferências pode se dever ao fato de elas reduzirem a necessidade de trocas, já que há menos chances de não vestirem bem. Segundo as pesquisas, outro tipo de comércio que cresceu foi o resale, ou o de segunda mão, o brechó, o usado. Que além dos preços baixos são objetos de desejo de colecionadores de roupas e acessórios de luxo.

 

Tipo de roupa

 

Macaque in the trees
Conforto, peças básicas e versáteis, na marca Tempus (Foto: reprodução site da marca)

 

Há um futuro tecnológico em produção na área têxtil. São os tecidos capazes de controlar as condições do clima, que esquentam ou esfriam conforme a necessidade das temperaturas ambientes.

Na hora da compra, quem está consumindo pensa no custo de vida. “Quero esta peça. Quantos looks consigo fazer com ela?” É a busca pela versatilidade e o fim de certos paradigmas, que já começa agora pela permissão de usar tênis com roupas de paetês, por exemplo. Ou Havaianas com terno, quem sabe?

 

Jeans no túnel do tempo

 

Macaque in the trees
Jeans de luxo na Blumarine (Foto: divulgação)

 

Tommy Fahrner, o especialista em jeans da WGSN, prevê o fim da modelagem skinny nas calças jeans. “Há uma volta às formas vintage, uma busca pelo conforto, depois da pandemia. Nos desfiles internacionais 64% dos modelos eram largos ou retos e 31%, skinnies. No mínimo, há a tendência do boot cut, isto é, a barra mais larga, que permite calçar botas. “Nota-se que, quanto mais luxo for o segmento da marca, mais larga é a calça. Outra volta: o cós baixo. Esta origem é mais jovem, vem da observação de festivais como o Coachella”, afirma Fahrner. Para acostumar-se com as calças largas a pesquisadora Susie Draffan aconselha a ver o que anda acontecendo nos tutoriais de vídeos de gente como Beyoncé. Para ela, o colorido também volta aos tradicionais azuis. “ Diesel e Blumarine enfatizaram o True Blue, mas acrescentaram verdes e o pink”

 

Macaque in the trees
Estilo Beyonce serve de tutorial para os jeans vintage (Foto: divulgação)

 

 

Alcance do gênero

 

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Peças para consumidores não-binários são o foco da marca Zappos (Foto: reprodução site)

 

O Genderless será superado pelo simples gênero, das comunidades ditas não binárias. Sara Maggioni, especialista na moda feminina, tem uma explicação convincente. “Por que o sucesso do gênero inclusivo? É o foco-chave de uma evolução típica da moda, depois da saturação do streetwear. O gênero é o novo neutro, como se viu em Balenciaga. Na marca americana Zappos desde 2013 o caminho é o básico, em paletós, calças, jaquetas. Há mais drapeados e silhuetas flexíveis, que se adaptam a todos os tipos de corpos. A alfaiataria é minimalista. Neste caso o e-commerce é fundamental, ainda pode existir o constrangimento de ir a uma loja física. Calcula-se que existem cerca de 15 milhões de pessoas não-binárias, um mercado que merece toda a atenção. Acrescente-se que já há algum tempo algumas mulheres fazem compras nas seções masculinas, para uso próprio”.

 

Dúvidas óbvias

Enfim, Nick Paget, Senior Estrategista da WGSN, faz a pergunta óbvia. “Será que os consumidores estão prontos para esta “desgeneração”? Vai depender do país, da cidade até do bairro. Um exemplo é a mudança no masculino. Eles estão comprando no e-commerce, apesar de nos sites ainda serem poucos itens, comparando com o feminino. Ninguém mais se espanta se um homem usa cosméticos, como base e bronzers (produtos que dão falso bronzeado). Admite-se que há diferentes tipos de masculinidade”.

 

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Sapatos no estilo Barbiecore, o auge do pink (Foto: divulgação)

 

Mas há outra questão: e o estilo Barbie? Ele anda justificando o sucesso do pink, dos adereços exagerados, dos babados e brilhos. “É uma tendência à hiperfeminilidade, uma possibilidade presente nas tendências”, acrescenta Paget.

Há dois pontos polêmicos nesta apresentação da WGSN. O primeiro, o fato de as pesquisas serem feitas apenas com dados dos Estados Unidos e Inglaterra. O segundo, a não inclusão do Brasil na pesquisa do jeans. Nenhum país tem o poder de mercado no jeans – não que marcas como Dolce & Gabbana, Diesel, Dsquared não sejam originais – mas o consumo brasileiro nunca se interrompe, não cede a pressões de moda. Tanto que, no mundo, sempre se diz que é fácil reconhecer o turista brasileiro porque eles e elas estão sempre de jeans.