IESA RODRIGUES
Dragão Fashion, esperança da volta ao normal
Publicado em 31/05/2022 às 12:13
Grandes espaços montados na praia de Iracema, em Fortaleza, coleções autorais, artesanato transformado em item de luxo. Isto resume o Dragão Fashion Brasil Festival, atualmente o melhor evento de moda no país. A diferença na edição realizada na semana passada é a retomada da plateia, dos momentos reais, sem edição, dos sapatos que saem dos pés das modelos, do empurra-empurra na entrada das duas salas, cada uma com vinte congelantes Splits e cerca de 500 lugares cada, mais a alegria de reencontrar as equipes de produção e os colegas de coberturas jornalísticas. Sem falar na volta aos voos lotados, todos os passageiros de máscara, apesar de nada ser oferecido, nem um copinho de água (só pedindo ao único comissário), pelo menos na Latam. O Dragão significou a esperança de quase normalidade, de absorver os riscos da pandemia. Afinal, o Ceará está entre os estados com maior índice de vacinação.
Destaques das coleções
A vantagem do estilo autoral é o uso do artesanato. Nota-se a evolução do design contemporâneo usando as peripécias das rendeiras locais. Almerinda Maria continua sendo uma das melhores criadoras do MUNDO, com seus longos, curtos, nas renascenças misturadas. Assim como a Rendá, que acrescentou muito colorido no branco tradicional. Ou o Ivanildo Nunes, que assinou uma série de richelieu em preto, pelas artesãs de Maranguape para o SENAC.
A valorização das artesãs surpreendeu na marca Olé Rendeira, uma reunião de mulheres que confeccionaram lindos casacos, saias longas, padrões em verde e vinho, maiôs e tops coloridos.
A Hand Lace investiu em looks mais modelados, como os vestidos e saias brancos lembrando aventais, pantalonas de cós amarrado e as peças montadas em triângulos. Este efeito de aplicações apareceu também como pastilhas na moda praia da Sau Swim.
A sustentabilidade sempre fez parte dos conceitos da seleção feita por Cláudio Silveira, bravo responsável pelo Dragão. Agora temos o luxo integrado nas rendas bordadas e rebordadas em grifes como a Theresa Montenegro, Lindebergue ou a solo do Ivanildo Nunes. Endereços certos para os tapetes vermelhos. Uma surpresa, a Vi Lingerie, que evitou desfilar calcinhas e sutiãs e mostrou looks dignos até de festas, em tons nudes típicos de peças íntimas. Já a Banana Urbana, em sua primeira apresentação, reinventou o jeans, com calças e jaquetas com camadas de tinta amarela, provável sucesso de vendas.
Na agenda dita masculina, dois destaques: Bruno Olly, uma alfaiataria perfeita e ousada e David Lee, nome reconhecido internacionalmente, eleito entre os 50 jovens importantes pela Forbes. Além das roupas com detalhes em crochê, das listras neutras, foi a melhor encenação, com stabiles no meio da sala e móbiles nos chapéus, assinados por Narcelio Grud. Dignos de galerias de arte.
Nos 25 desfiles vistos de quarta a sábado, um anunciou um provável futuro da moda: o Enel Upcycling, transformação de 2000 uniformes velhos da Enel, empresa de energia, em modelos com curadoria do Cláudio Silveira. O resultado como Imagem atual dispensa brilhos e glamour, mas chama a atenção para o reuso de matérias-primas e manufaturados fora de moda.
Outro anúncio do futuro ficou aquém dos anos anteriores: a pandemia pode ter prejudicado os resultados, mas os trabalhos dos universitários perdeu a impressão de criatividade. Uma das coleções deixou rastros de pérolas que se soltavam das roupas. O destaque foi para a equipe do SENAC Sergipe, rebordados coloridos, cabelos em rabos de bolas, diferentes dos stylings de cabelos eriçados ou black Power que dominaram a beleza do Dragão.
Quanto a um dos meus favoritos, Kallil Nepomuceno, confesso uma certa decepção com a série de leggings, capas, longos em estampas e pérolas, dando uma impressão de reposicionamento do estilo, mais jovem. Ainda assim, o hoodie de listras de crochê se destaca no Dragão.
Caminho do varejo
Nos exíguos momentos de intervalo nos desfiles, vimos algumas tentações próximas do varejo. A primeira, o shopping Giga Mall, que a partir de maio de 2023 abre mil lojas para atacado, em Messejana. A segunda, a série de espaços para acessórios, gastronomia, do lado de fora do complexo (onde até campeonato de Beach Tennis rolou), onde as sandálias do Seleiro provocavam saudades do cartão de crédito deixado no hotel e onde Daniela Falcão exibia o grupo Nordestesse, reunindo talentos como George Azevedo, do Rio Grande do Norte, com pinturas sobre peças de jeans.
Haja estudo
Quem frequenta semanas internacionais, paulistanas, cariocas, curitibanas sabe identificar materiais e texturas. Quando vai para o Dragão fica com pescoço doendo, de tanto esticar para identificar as técnicas. Será que é renda renascença, de bilro, filé. Ou crochê, tricô, macramê, de agulhas? Quem sabe, são os recortes primorosos do richelieu? O melhor é aprender em curso prático, para poupar as dúvidas.