Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Minas Trend 27: o luxo do handmade

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Publicado em 23/04/2022 às 13:38

Alterado em 23/04/2022 às 13:38

Iesa Rodrigues JB

A 27ª edição do Minas Trend, realizada nesta semana em Belo Horizonte, anunciou as modas do verão 22/23. A intenção é de confirmar as propostas mineiras como representantes da moda brasileira, pelo apelo do handmade. Isto é, pelo feito à mão, o trabalho de bordadeiras, tecelãs e artesãos da região e do Nordeste.

 

Macaque in the trees
Carol Trentini, modelo estrela internacional, no desfile da Skazi (Foto: divulgação/Instagram)

 

Mas o resultado atual se distancia das primeiras edições, quando predominavam os vestidos de festa exageradamente decorados e os acessórios discretos e clássicos. Alguns exemplos, como Victor Dzenk, já merecem figurar nas listas top de criação do Brasil. Ou a designer Mariza Dias, responsável pela criação de sapatos e bolsas da marca Suzani Bissoli, que começou no setor comercial, estudou moda e atualmente faz sucesso com sapatos elegantes e confortáveis, "que podem ser calçados de dia e continuar para uma saída depois do trabalho, uma happy hour, de tão confortáveis que são", contou durante entrevista. Mas não dispensem os saltos altos. Uma das novidades é o salto amassado, produzido em 3D como se fosse de papel alumínio. Se a altura desta parte assusta, a compensação vem no bico quadrado. "É o modelo Square, que existe em versão longa ou light, inspirado pelos lançamentos da Bottega Veneta". Nas cores, destaque para os pinks, o verde palmeira, os metalizados prata e dourado, que viraram neutros. A Suzani Bissoli aposta em cores, quase não inclui sapatos pretos nas coleções.

 

Macaque in the trees
O modelo Square da Suzani Bissoli (Foto: divulgação Minas Trend)


Alquimias nas bijuterias

O colorido também aparece na coleção Baila Comigo, da Sheila Moraes, que trabalha com artesanato do interior do Rio Grande do Norte. "Nosso foco é a festa, a celebração depois destes anos de isolamento. Mais do que brilhar, as pessoas querem iluminar, daí a inspiração nas pistas de dança", comentou Sheila em live. Até o espaço da marca SD no Minas Trend mudou: depois de 19 edições com ambiente em bege e branco, desta vez veio em roxo. Com direito a barman servindo bebidas, para reforçar o clima de festa. “Os próprios lojistas mudaram. Antes, escolhiam as peças e pronto. Agora, querem saber do conceito, o que devem falar para as clientes, qual foi o processo produtivo. Tudo, valoriza as peças". As inspirações vão desde cortinas de veludo, jogos de luzes da pista de dança e esmaltações que parecem pedras. "É um processo nosso, uma alquimia diferente", ri Sheila e arremata: ``Até o nosso humor muda, se estivermos com uma roupa ou um acessório bonito".

 

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Anna Magalhães entrevista Sheila Moraes, de acessórios inspirados em pistas de dança (Foto: reprodução)


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Modelo com brinco e pulseiras esmaltadas da Sheila Moraes (Foto: Instagram)

 


O desfile

Depois de apresentações épicas, com Ludmilla e Juliana Paes a Skazi convocou Lulu Santos para assinar a trilha do desfile produzido junto com a Forum. A inspiração na botânica trouxe flores aplicadas em looks de calça, bolero (casaquinho curto) e top, franjas longas e ombros largos. Tudo esvoaçante com aspecto plumoso, um resultado que confirma a evolução da moda de Minas: é o artesanal de luxo. Um caminho que demonstra a expectativa festeira do próximo verão.


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Longas franjas no desfile Skazi / Forum (Foto: divulgação Minas Trend)

 

Na real

Este Minas Trend lembrou o ID Fashion, de Curitiba, onde a qualidade das palestras competia com os desfiles. Apesar da mediadora Anna Magalhães falar mais do que as entrevistadas, Patricia Sant'anna da empresa de pesquisas Tendere, falou sozinha em live, da importância da sustentabilidade, dando um exemplo internacional. Em 2011, Stella McCartney entrou para o grupo Kering (na época era PPR), com seus conceitos veganos e sustentáveis. Em 2013, o grupo, que inclui marcas como a Gucci, começou a desenhar novas cadeias de valor. A busca atual é pelos parâmetros do ISO 26 mil e pela ODS + agenda 2030". Um setor que cresce é o dos ativistas da slow fashion e dos aficcionados da segunda mão. A ideia é o pós-luxo, mais elitizado, com ideia de exclusividade, uma governança pesada, a valorização de quem fez, sem ostentação óbvia.

Mas Patricia sabe onde pisa. No Brasil, estes conceitos podem demorar a ser aceitos. "Aqui, estamos no primeiro momento, o de conseguir comprar. E quem tem como pagar, não quer vestir uma roupa de garrafa pet".

E por aí vamos: com ISO 26 mil, ODS + agenda 2030, EFG (Environmental Social Governance). Sem falar no metaverso (de novo!), que significa na moda comprar roupas para vestir…seus avatares. Ainda vamos ver semanas de moda dedicadas a esta digi couture. Por enquanto, admiramos a moda do Minas Trend e aguardamos o Dragão Festival, em Fortaleza.

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