IESA RODRIGUES
Vamos fazer crochê
Publicado em 19/03/2022 às 12:27
Iesa Rodrigues JB
Renovar estilos de décadas passadas tem sido inspiração para os criadores da moda. Desde os redingotes dos anos 1960 ao colorido de 1980, falta década que supere o poder de musa dos anos 1970. Minissaias, saias longas em estampas indianas, jeans a todo vapor, tie dye, quantas ideias andam voltando nas coleções? A maior influência foi a era hippie, incluindo o espírito de revolta contra a burguesia, as guerras e ditaduras, mais o poder de comunicação do festival de Woodstock.
Ganchos trabalham
Agora a influência dos 70 vem do artesanal, do feito à mão. É o crochê que volta, dando um aspecto exclusivo mesmo nas grandes marcas. As lembranças incluem a famosa sunga de crochê do Fernando Gabeira, os biquínis da Blue Man, as bolsas da Feira Hippie. E a atualidade renova as trancinhas nos biquínis. Por exemplo, da Magu, que lança modelos de fios de algodão, pintados à mão, como um mix de crochê e tie dye.
Já no catálogo da Amaro, entre calças flare (parente das bocas de sino e patas de elefante) e estampas psicodélicas (de novo, os anos 1970) destaca-se a linha de tops e vestidos associados a Woodstock e aos looks favoritos de Jane Birkin, ícone da época. Para Paula Trabbold, gerente de estilo da marca, "os elementos da década de 70 são muito expressivos e frequentemente utilizados como inspiração para releituras da moda contemporânea. Para essa coleção, que faz um esquenta para o outono, apostamos nesse resgate cultural, com peças soltas e coloridas, que representam liberdade e leveza, sem preocupação com julgamentos”..
No shopping de luxo
Nem o luxuoso Village Mall, que reúne grandes marcas nacionais e internacionais, escapa da simplicidade do crochê. Um painel com 600 flores confeccionadas por moradoras da Rocinha, em parceria com a ONG Nós do Crochê, decora um painel de cinco metros de comprimento. Inaugurado em oito de março, em homenagem ao Dia da Mulher. A ação ainda oferece aulas para quem pretende manipular o ganchinho.
Opinião de especialista
Pode ser que falte coragem para aderir à nostalgia deste artesanato tão antigo. Camile Stefano, personal stylist e consultora de imagem indica um começo suave:" investir em chapéus e bolsas, peças fáceis de incorporar ao dia a dia, que completam qualquer visual".
Um bom exemplo na linha de acessórios do Atelier Chilaze, com bolsas de vários tamanhos. Ou nos chapéus bucket da Renner, também frequentes nas cabeças dos grupos Pop internacionais. Camile ainda propõe modernizar um vestido de crochê, contrastando com tênis branco.
De Nova York
Um sucesso na recente semana de moda novaiorquina foi a coleção da grife Partow. A razão? Os vestidos de crochê, além dos casacos mouton retourné, influência total dos anos 1970. Já na Coach, a ideia de Stuart Vevers foi trazer o legado do estilo americano. Tanto que a coleção foi batizada como Somewhere in America. As peças ícones da marca, em couro e shearling, desfilaram no cenário de um bairro imaginário americano, ao lado de delicados vestidos em renda e crochê.
Sandra Chilaze, diretora comercial da Chilaze resume o espírito desta volta aos ganchinhos, pontos baixos e altos. "É curioso conferir o espírito daquilo que se criava há mais de 50 anos, então com materiais poluentes, hoje ganhar corpo com a bijuteria em resina handmade sem descarte, assim como o crochê, que volta à condição de último grito, e não como artesanato banal", observa Sandra.
Se ainda restam dúvidas se o crochê está IN, aconselho a trocar os velhos ganchinhos de metal pelos novos, made in China, em plástico, com luz na ponta. Dá para crochetar até no escuro!
O que é:
Casaco mouton retourné: hit dos anos 1970 em Paris. O couro fica do lado direito, a pele, do avesso (mouton: ovelha; retourné: revirado). Símbolo do estilo hippie, os Beatles usavam
Shearling: material feito com lã da primeira tosquia de ovelhas.
Bucket: balde, em inglês. Uma forma de chapéu muito usada por hip hoppers, K-Pops, rappers.
Clutch: nome atual para a antiga carteira.
Woodstock: quem vive fora deste planeta talvez não saiba que foi um festival com muita lama, paz, amor e música, em 1969, em uma fazenda no estado de Nova York.