Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

A estranha moda masculina de Milão

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Publicado em 22/01/2022 às 12:36

Iesa Rodrigues JB

Quando até os criadores definem como ``estranha ou esquisita" (weird) a moda que inventam, esperamos mudanças drásticas. Só que tops de paetês, camisetas com barriga de fora, casacos grandões e calças largas ainda estão longe de satisfazer a expectativa da tal estranheza. Porque a roupa masculina continua difícil de mudar muito.

 

Começa pelo nome

Realmente, é uma marca de nome estranho: Children of the Discordance (filhos da discórdia), assinada por Hideaki Shikama, famoso por trabalhos em games. As fotos mostram cabelos coloridos, desarrumados, casacos pesados com pernas nuas, looks complicados. Mas se olhar com visão de roupa para uso real, nota-se como é bom o estilo de cada peça.

 

Macaque in the trees
Um belo casaco em look desarrumado, da Children of Discordance (Foto: catálogo)

 

Outro inesperado é Arnar Már Jónsson. O nome parece escandinavo, mas trata-se de um designer inglês, que agradou pelos looks de calças largas, blusões grandes, combinações de cores quase neutras, tendendo para o claro,sem desprezar o preto total.

 

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Conforto,primeira qualidade de Arnar, inglês que aposta nas peças grandes (Foto: divulgação)

 

E temos um dos ícones de um setor a escolher: música, moda, celebridade, religião. É o Kanye West, uma das inteligências contemporâneas, que agora resolveu se chamar apenas Ye. Sempre quis assinar coleções para Balmain, mas conseguiu melhor: Balenciaga, junto com outro cara que também abreviou o nome, Demna Gvasalia, que agora é só Demna (ainda bem, porque este sobrenome forçava a conferir sempre). Depois que saiu o sensacional vídeo Heaven and Hell, as vendas de hoodies estouraram, dentro da parceria da Gap com o Ye. Vamos ver o que vai sair da Yelenciaga.

 

Mudança de rumo

O terno foi raridade na semana de Milão. Grandes marcas de alfaiataria, como a Zegna (outra abreviada, deixou de ser Ermenegildo Zegna) apostam mais no uso de tecidos de fibras naturais como cashmeres e sedas e na entrada na Bolsa de Valores de Nova York. É certo que as marcas européias estão assumindo o estilo casual dos americanos, de onde sai o jeito informal. Que também deve vir da situação de home office, sem obrigação de ternos e gravatas. Angelo Urrutia desenvolveu novos tweeds, tecidos tradicionais seculares.

 

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Novas interpretações do terno, em tecidos naturais, em Zegna (Foto: divulgação)

 

Referências estranhas

Jonathan Anderson mostrou a coleção em vídeo. Pretendia produzir desfile presencial, mas a pandemia impediu, adiou para junho. Ele é um dos que definem sua moda como estranha, vale conferir no vídeo. Nas entrevistas, fala de metaverso, experiências digitais, mas achei mais divertido quando falou da inspiração desencadeada por um documentário do jogador Cristiano Ronaldo. “Uma inspiração no limite da hiper-masculinidade”.


Rick Owens é um dos meus favoritos na moda internacional. Nos bastidores, segundo entrevista para a Vogue Runway, comentou que jamais diria que foi para a China e veio inspirado. Mas confessou que foram as formas do Egito que deram a base da coleção. Só que não bastava isto: Owens quis fazer cabeças egípcias combinadas com a inspiração no artista minimalista Dan Flavin, que usava luzes nas obras. Apesar de parecer meio doido, Rick Owens tem orgulho de suas peças fabricadas na Itália, em empresas familiares que unem tradição e o artesanal. Ele gosta quando ouve os donos dizerem “ não somos tão bons assim, mas estamos tentando”.

 

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Alfaiataria de corte estranho, com cabeça de lâmpada e o casaco-máscara, para a pandemia (Foto: reprodução/Vogue Runway)



Ele é a própria referência: o jogador Tom Brady lançou na primeira quinzena de janeiro sua marca Brady, com design de Dao-Yi Chow. Precinhos começando em US$ 129, por uma camiseta. Mas quem não quer correr na praia com uma roupinha do belo marido da Gisele Bundchen?

 

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Peças da coleção Brady, do Tom Brady (Foto: catálogo)

 

 

Homenagem justa

A coleção da Louis Vuitton ainda foi criada pelo Virgil Abloh, recentemente falecido. Não faltaram lágrimas na plateia, era uma pessoa admirada e gentil. Interessante notar que os looks de alfaiataria chamam mais a atenção do que as bolsas, itens prioritários da LV. No dia 26 de janeiro será leiloado um tênis Nike assinado por Virgil, pela Sotheby´s. O valor arrecadado vai para bolsas de estudos de jovens negros que estudam moda.

 

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A alfaiataria da Louis Vuitton e o anjo no final do desfile, homenagem a Virgil Abloh (Foto: divulgação)


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Tênis que vai a leilão na Sotheby´s (Foto: divulgação/Louis Vuitton)


Notaram que quase não há italianos na moda masculina vista em Milão? Vale prestar atenção no Gaetano Colucci, autor da Ardusse. Faz um trabalho com nexo, diria até que capaz de ser adotado pelo difícil mercado do varejo masculino. Basta abstrair das atitudes nas fotos. Tem modelo na terceira posição do ballet, outros com jeito de quem nunca fotografou. Vejam o corte das calças, quase clássicas. A moda masculina muda um pouquinho de cada vez…


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A posição de ballet disfarça a classe da roupa da Ardusse (Foto: catálogo)

 

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