Moda e Estilo

Por Iesa Rodrigues

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IESA RODRIGUES

Bordado, a arte sem avesso

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Publicado em 10/04/2021 às 09:24

Alterado em 10/04/2021 às 10:03

Iesa Rodrigues JB

Macaque in the trees
A arte do bordado no bastidor de Sissi Antunes (Foto: Acervo)

Correntinha, rococó, haste, crivo: estes eram nomes de pontos de bordados aprendidos há quase meio século, principalmente em colégios de freiras. Pois esta arte de linhas coloridas, agulhas e bastidores volta a encontrar seguidoras. E o motivo nem sempre é este tempo de ficar em casa e arranjar algo para passar o tempo. Muitas mestras têm currículos de mais de 10 anos ensinando turmas de até 60 alunas: é uma questão de moda mesmo, de paixão por um jeito de tornar diferente uma roupa ou de passar uma mensagem delicada. E um aviso a quem temia pela reprovação das freiras professoras: segundo as novas mestras, não existe avesso perfeito!


Fora do clássico

Macaque in the trees
O muro das tentações, painel de linhas coloridas na parede da Sissi (Foto: Acervo)


Sissi Antunes superou uma depressão por perda familiar, bordando 12 horas por dia, em silêncio. “Depois, fui me aperfeiçoando na pandemia. Resolvi ensinar minhas técnicas livres, mais visuais, impressionistas, do que clássicas. No princípio, eram aulas presenciais, mas depois parti para as lives, sem pretensão. Acaba que chego a ter 300 pessoas, 1.400 visualizações no YouTube” Sissi gosta de cores, trabalha com linhas Âncora e DMC, mas também tinge fios de algodão e organiza tudo em uma parede. “É o muro das tentações, dizem minhas alunas!”.


Moda e cores

Macaque in the trees
Jaqueta com interferências e o pássaro colorido que Rita Moreno vai enviar para a Austrália (Foto: Acervo)


Rita Moreno foi produtora de moda no JB durante quase 20 anos. Em 2019, quando decidiu mudar de atividade, encontrou uma amiga que estava bordando um abacaxi. “Ela perguntou se eu gostava. E gostei! Procurei aulas presenciais, fiz dois workshops e comecei a entrar neste mundo de linhas matizadas, rendas, pontos rococó (o mais difícil, para mim), correntinha, ostra.“ Os belos bordados da Rita voam para as casas das filhas, para a Tula, em Paris e para a Bea, na Gold Coast, na Austrália. O passado nos estúdios e nos desfiles faz a diferença no seu trabalho , porque os bordados aparecem em um lado de uma jaqueta, em um lateral de camiseta, unindo a moda ao bordado.
Ah: até hoje a amiga não terminou de bordar o abacaxi.


Pedrarias nas redes sociais

Macaque in the trees
O requinte do bordado de pedrarias sobre renda, por Marisa Tanaka (Foto: Acervo)



Marisa Tanaka viajava duas vezes por mês, ensinando bordado de Norte a Sul do país. A adaptação ao novo normal foi difícil. “Sempre resisti muito às redes sociais, não queria ficar escrava de buscar seguidores e visualizações.” Mas um sobrinho incentivou Marisa a experimentar as lives. Fez um portfolio (coisa que ela nem sabia como era), e logo estava trabalhando, dando aulas com pedrarias, rebordando rendas, fazendo upcycling de vestidos, bolsas e camisetas. “Só em 2011 aprendi o bordado em linha. Criei um projeto social, de capacitação, com uma metodologia minha, como autodidata que sempre fui. Mas acabei cansando de ensinar, tinha sempre que voltar às cores clarinhas, os beges, os rosas. Precisava ter cores, queria ser feliz bordando. Até que em um programa de Tv o Ronnie Von ganhou um jogo americano bordado por mim. ”Dali em diante, ensino meu bordado criativoe colorido, com criatividade e todos os pontos, desde as 50 variações do correntinha até os crivos e richelieu.”

 

Aprendendo o digital

Macaque in the trees
A técnica Crewel, em flores, por Fernanda (Foto: Acervo)



Fernanda Vilhena de Carvalho começou a dar aulas presenciais há 15 anos, depois de largar a advocacia. Chegava a ter turmas de 60 alunas. Quando veio a pandemia, procurou o universo digital. “Bati cabeça, não sabia abrir a tela, fazer o zoom, comprava tripés que não serviam. Com tudo isto, as aulas virtuais eram informais, com muita risada.”
Atualmente Fernanda já tem projetos no YouTube, com encontros de grupos virtuais que aprendem o que a mestra sabe do bordado moderno e o 3D. “Meu bordado não conta pontos, não é bainha aberta, nem de cruz. Estudo muito, pesquiso e sou apaixonada pelo Crewel, bordado que aprendi na Inglaterra. E para quem ainda pensa que são apenas senhorinhas que pegam nos bastidores, vejo que a garotada está fazendo coisas lindas, em bordados!”

 

Mensagens nas agulhas

Macaque in the trees
Toda forma de amor, no enquadramento do bastidor, por Silvana Monteiro (Foto: Acervo)


Um exemplo de modernidade está nos temas da Silvana Monteiro. Entre suas muitas habilidades _ cozinha muito bem, costura, customiza – ela borda riscos de menininhas, de namorados, de grávidas, em estilo ingênuo. Quem encomenda, pode pedir para botar um sapatinho alto, um penteado diferente na bonequinha. Há frases, um ícone afetivo, que conquistam quem curte esta arte secular das linhas coloridas, dos tecidos, dos riscos (o Pinterest é uma grande fonte de inspiração para as bordadeiras) e das agulhas (em geral, a número 3).

Para entrar na onda do bordado:
Sissi Antunes: no canal sissiantunes, no YouTube; o pontoapontosissiantunes, no Facebook e no @sissiantunes, no Instagram, com aulas às terças e quintas, às 15h30
Marisa Tanaka: no Facebook, marisa tanaka, no Instagram @marisatanaka
Fernanda Vilhena de Carvalho: no Instagram @mfernandavc
Silvana Monteiro: no Instagram @silvanamonteiro55

 

Cartier na vibe sustentável em nova plataforma digital

Parece absurdo comentar sobre um artigo de luxo, internacional, nesta época em que muitos enfrentam dificuldades financeiras, e vivem o medo de perder a saúde. Mas assim como a Arte, a criatividade continua, inclusive dentro da indústria do design utilitário. Falamos dos relógios Cartier, que ganham a partir desta semana uma plataforma digital das várias linhas de relógios.

Macaque in the trees
Na abertura do site está a escolha das várias linhas de relógios (Foto: Reprodução)

Algumas atrações

O modelo Pasha tem cronógrafo novo, referências em aço e ouro e quatro novos mostradores.
O Cloche Watch, raridade criada em 1920, aparece na linha Cartier Privé, cobiçada por colecionadores e connoisseurs desde 2017, por reunir edições limitadas e numeradas dos principais relógios da marca.
Os visitantes da plataforma podem explorar o excepcional diálogo entre relojoaria e joalheria. Como o relógio Rosary, inspirado em um estojo de cigarros Art Deco, ou o Reptilis, relógio de diamante com design de segunda pele.

A surpresa no material

Macaque in the trees
O Tank Must se destaca pelo material na pulseira (Foto: Reprodução)

Um destaque é o Tank Must, inspirado pelo primeiro Tank criado por Louis Cartier em 1922. No novo, o material é o aço, a pulseira pode ser trocada e um dos modelos é equipado com movimento fotovoltaico e uma pulseira definida como noleather - isto é, um material que não é couro, produzido a partir de restos de maçã que sobram da indústria de alimentos na Europa.

Pronto: este é o ponto alto da plataforma que exibe as obras-primas da Cartier: restos de frutas se transformam em acessórios de peças caras. É o exemplo da adaptação aos novos tempos sem desperdício.
É o verdadeiro luxo, ostentar um relógio Cartier com pulseira de sobras de maçã.

A plataforma em inglês, francês, japonês ou chinês é www.cartierwatchmakingencounters.com ou www.cartier.com.