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Tite e a TV, o gato e o guizo

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Uma das mais famosas fábulas de La Fontaine conta que, certa vez, os ratos se reuniram para discutir uma forma de escapar de um gato muito esperto, que se deslocava furtivamente pela casa e, quando atacava, era mais rápido e mortífero que um raio. Várias ideias foram expostas, mas nenhuma parecia razoável, até que um jovem camundongo pediu a palavra:

– Proponho que penduremos um guizo no pescoço do gato. Assim, cada vez que ele se movimentar, o guizo tocará, ouviremos seu barulho e teremos tempo de fugir.

Todos gostaram do plano e o aplaudiram com entusiasmo. Aí, o Velho Rato, até então calado, levantou-se e ponderou:

– Excelente proposta. Só uma dúvida. Quem de vocês vai pendurar o guizo no pescoço do gato?

Silêncio geral e o decano da rataria concluiu:

– É mais fácil ter ideias do que realizá-las.

Lembrei-me dessa fábula ao acompanhar, ontem, a entrevista de Tite, falando da convocação para mais dois amistosos furrecas do Brasil: contra a Arábia Saudita e a Argentina, sem Messi. A folhas tantas (cáspite!), um repórter quis saber se o técnico já estava pensando numa forma de não prejudicar nem a seleção, nem os times brasileiros na próxima temporada – como aconteceu, recentemente, na primeira convocação pós-Copa.

- Estamos atentos ao problema e posso lhe dizer que a CBF, os clubes e até a Conmebol estão discutindo a questão – foi a resposta do treinador.

Faltou dizer que o maior entrave (diria, o único) para que os nossos campeonatos parem nas datas Fifa (como acontece em todo o primeiro mundo do futebol no planeta) é a Rede Globo, que não admite que isso aconteça, porque não quer “buracos” em sua programação do futebol, toda baseada em jogos às quartas (à noite) e domingos (à tarde), não importa em que dia e hora joga a seleção – que é vendida num pacote à parte, com patrocinadores próprios. É esse o busílis. O resto é blá-blá-blá.

Ou a Globo aceita rediscutir a questão, ou os clubes (que vivem de suas milionárias cotas de transmissão) podem tirar o cavalinho da chuva. O resto é papo de encantador de serpentes. Que, aliás, andam cada vez menos encantadas com o senhor Adenor Bacchi.

Quem vai colocar o guizo no gato?

Outra vez o Palmeiras

O único convocado que atua no Brasil foi o endiabrado Everton Cebolinha, o melhor atacante do Grêmio nos dias de hoje. E contra quem ele desfalcará o tricolor gaúcho? O Palmeiras, sempre ele, clube do coração do presidente banido da CBF, mas ainda muito atuante, Marco Polo Del Nero. Não custa lembrar que o Verdão foi igualmente beneficiado na primeira convocação, quando não teve ninguém chamado, enquanto os outros três semifinalistas da Copa do Brasil perderam seus principais valores.

Tite, por sua vez, perdeu a compostura. E passou a ignorar até o célebre dito histórico de que “à mulher de César, não basta ser honesta, tem de parecer honesta”.

Cara de pau

Desta vez, ao menos, não foram chamados atletas dos times que poderão fazer a final da Copa do Brasil, no período em que a seleção estará brincando de jogar bola na Arábia Saudita.

- Prevaleceu o bom-senso! – alardeou Edu Gaspar.

Admitiram, enfim, que na primeira vez faltou o mesmíssimo conceito.

Qual foi a pergunta?

Um jornalista perguntou a Tite qual a avaliação que fazia de Neymar como novo capitão do time, nos amistosos contra EUA e El Salvador:

- Vou responder com uma colocação que achei perfeita do Diego Olivier (colunista da Zero Hora): apoio e responsabilidade – disse, com o olho rútilo e o conhecido ar messiânico, justificando sua escolha.

Ora bolas, mas não foi essa pergunta e sim como achava que Neymar tinha se portado com a braçadeira. Isso ele não respondeu. Como nunca responde às questões que o incomodam. E ninguém tem peito de contestá-lo!

O que foi determinante?

Quando perguntado se Douglas Costa não tinha sido convocado por causa da cusparada que deu num adversário, num jogo do campeonato italiano, entre a Juventus e o Sassuolo, Tite enrolou ainda mais:

- Pela lesão (que sofreu) e pelo incidente... ou acidente... ou ato de indisciplina... – disse, hesitante.

O que se queria saber era se a cusparada seria motivo suficiente para deixa-lo de fora, caso não estivesse contundido. E não se soube.

Hora H para o Fla

Sem Diego, suspenso por ter sido expulso na rodada passada, Maurício Barbieri deve avançar Lucas Paquetá e escalar William Arão como volante, ao lado de Cuellar. É uma alternativa razoável. Outra, mais ofensiva, seria colocar Everton Ribeiro no meio e lançar Berrio, na direita. Como, entretanto, o colombiano ainda luta para recuperar a forma perdida pela longa inatividade, o mais provável é que entre mesmo Arão e Paquetá vá mais pra frente.

Seja como for, a verdade é que se o Flamengo não conseguir derrotar o Atlético Mineiro, amanhã, no Maracanã, só mesmo a classificação para a final da Copa do Brasil, diante do Corinthians, na próxima quarta-feira, no Itaquerão, poderá salvar o estagiário. Enquanto isso, o presidente viaja pelo interior do estado, distribuindo santinhos em sua campanha para deputado...

Inigualáveis

Se confirmadas as semifinais entre Palmeiras x Boca Juniors e Grêmio x River Plate, esta será a reta final mais espetacular da Libertadores em todos os tempos. E o maior adversário para os brasileiros será... a Conmebol.