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Todos contra Haddad

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O crescimento consistente e contínuo do candidato do PT, Fernando Haddad, indicado pelas últimas pesquisas, produz a reação natural, o ataque simultâneo de todos os concorrentes que podem sonhar com o segundo turno. O tucano Geraldo Alckmin faz um esforço desesperado para deslanchar, atacando ao mesmo tempo o petista, Bolsonaro e Temer. A campanha de Bolsonaro reage declarando ser ele o único “anti-PT de raiz”, seja lá o que isso signifique. Ciro Gomes também ataca o petista que, ao se tornar “o candidato de Lula”, cortou sua onda de crescimento. São movimentos táticos que também confirmam a natureza plebiscitária da disputa entre o nome do PT e o antipetismo.
Nos 18 dias que faltam para o pleito a taxa de agressividade vai subir. É nesta fase que o desespero produz as campanhas de desconstrução do adversário, daquele que representa o obstáculo imediato. Alckmin foi convencido por aliados do Centrão e do próprio empresariado que o apoia a adotar um tom mais agressivo. E ele o fará tanto contra Bolsonaro e contra o petista. No horário eleitoral de ontem, referiu-se mais de uma vez a “Dilma e Temer” como responsáveis pela crise, pela recessão e o desemprego. Agora vai retomar os ataques a Bolsonaro, interrompidos quando o candidato do PSL foi esfaqueado. Espera o tucano atrair eleitores antipetistas que estão com Bolsonaro. Mas o tempo é curto e os aliados estão céticos. Nada pior para Alckmin do que a notícia de que o Centrão começou a discutir o que fazer num segundo turno entre Haddad e Bolsonaro.
No outro polo, Ciro Gomes acusou ontem o petista de não se comprometer com a inteira revisão da PEC do gasto público, mas apenas com os limites para investimentos. O petista não se deu por achado e declarou que “com certeza” ele e Ciro estarão juntos no segundo turno.
A pancadaria pode ajudar Haddad. Enquanto os outros vociferam, ele segue recordando o que fez no MEC, apresentando propostas e falando em pacificação. No fechamento desta coluna ainda não havia saído uma esperada pesquisa IBOPE. Anteontem, a CNT/MDA trouxe Bolsonaro com 28,2%, Haddad com 17,6%, Ciro com 10,8% e Alckmin com 6,1%. A turma de Bolsonaro fala em arrancada para vencer no primeiro turno mas não existe, na sociedade, uma clivagem antipetista que permita isso.

Quem inventou
A questão do indulto a Lula brotou do nada e virou pauta embaraçosa para o candidato do PT, embora desprovida de sentido. Nenhum presidente poderá, de uma canetada, indultar um único preso apenas porque lhe deu vontade. Haddad finalmente disse um não sonoro à hipótese e, após visitar Lula, o deputado Wadih Damous jogou a pá de cal: “Lula quer ver reconhecida sua inocência e não quer saber de indulto”.

Quem se desculpa?
Quando o senador Renan Calheiros foi acusado, em 2007, de contar com a ajuda de uma empreiteira para custear a pensão de uma filha tida fora do casamento, estava começando para ele um calvário pessoal mas também uma fase peculiar na política brasileira. Estava começando ali a cruzada moralizante que seria encarnada depois pela Lava Jato. Renan teve a privacidade, a vida familiar e financeira devassadas, teve que renunciar à presidência do Senado para salvar o mandato. A imprensa também fez sua parte, alimentando o caso. Onze anos depois, a Justiça o absolve por falta de provas mas, como perguntou ele ontem, “a quem responsabilizar?”

Nas redes
Entre os dias 7 e 13 de setembro, a chapa de Ciro Gomes teve um salto espetacular de relevância e visibilidade no Twitter, segundo a mensuração da agência Aja Solutions. Ficou com 28,09% do total, logo atrás de Bolsonaro. Isso ocorreu no lapso entre a inabibilitação de Lula pelo TSE e o registro de Haddad como candidato do PT, período em que Ciro mais cresceu. Com a facada, a atividade digital da campanha de Bolsonaro reduziu-se, e começa a ser retomada. Agora cresce a presença da chapa petista, com presença mais intensa da vice Manuela D’Ávila nos primeiros dias.