O carimbo da corrupção

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Avaliações insuspeitas olham para o ano que já vai entardecendo, e admitem que o 2025 nos carimbou como o país mais corrupto do mundo, deixando frustradas e invejosas republiquetas onde reinam ditadores campeões em desonestidade. Se subimos a esse pódio indesejável, razão para que se envergonhem os brasileiros, cabe, como consolo ou expiação, tirar algumas conclusões para refletir. A primeira delas é a dúvida que vem nos perseguindo, faz tempo: a nossa corrupção, essa que grassa ( sem graça) em todos os quadrantes, é endêmica ou epidêmica? Tem tempo certo para durar, como a epidemia que há alguns anos assolou o país? Ou, alternadamente, vem com diferentes intensidades? A quem possa responder seja indagado, também, se é verdade que o mal disseminado resulta do fato de o mau exemplo vir de cima. Se os poderosos corrompem ou se deixam corromper, ouçamos conhecido humorista para dizer que, então, melhor é que nos locupletemos todos. É o direito de avançar sobre os cofres do povo, porque, sendo do povo, não há quem tenha força suficiente para reclamar.

Outra constatação que ocorre, com perdão pela insistência em cima de assunto tão triste, é que entre nós o crime obedece a nítida tendência pluripartidária, quando se vê que prospera em legendas diversas, as que aplaudem o governo ou a ele fazem oposição. É o que leva a uma conclusão dolorosa: não há um único partido que se revista do direito de criticar ou cobrar ações moralizadoras. Em todos, alguns mais outros menos, há mãos hábeis e ágeis na arte de desapropriar o alheio. É o grande problema a resolver, numa quadra em que a corrupção teve o cuidado de estender-se para o bem de todos os que detêm o poder.

(De tal forma, que a imprensa vai sentindo ser mais fácil desconhecer os bandidos, que deixam de ser exceção, para dar notícia sobre os políticos honestos, casta rara que, como os micos-dourados, corre risco de extinção).

Os dinheiros roubados, por serem tantos e de procedências as mais diversas, acabaram perdendo o que lhes restava de dignidade. Enfiam-se em sacos de lixo ou em cuecas de duvidosas condições de higiene, ou carregados em bagagens, misturados com roupas sujas e restos de comida que vão para os porcos. Dinheiros humilhados, tão diferentemente dos tempos em que os políticos preservavam um mínimo de compostura. Se roubavam, era discretamente, com algum falso pudor. Hoje, até disso abriram mão.

O ano já vai cuidando de fechar portas e janelas, sem permitir uma fresta de luz, por onde escape a esperança de a nação conter essa avalancha de corrupção. A desesperança vem de uma outra tragédia que se abateu sobre o Brasil – a impunidade – manifestamente soberana, plena e intocável, agasalhada pelos três poderes da República, sem distinção de palácios, e capaz de prodígios, mais agora permissiva, quando vamos colocando os pés no ano eleitoral. A permissividade – pobres de nós! – tem longos e bem articulados tentáculos, e com eles as excelências sabem como se socorrer mutuamente.