Por Coisas da Política

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COISAS DA POLÍTICA

Lição de um Finados

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Publicado em 02/11/2021 às 08:12

Alterado em 02/11/2021 às 08:12

Enterro de vítima de Covid em cemitério de São Paulo Foto: Epa

Este é um Finados diferente, sinistramente diferente, porque já são 607 mil brasileiros que temos a prantear. Nunca foram tantas as razões coletivas para o país chorar, a uma só vez; porque chora sobre a multidão de túmulos e covas rasas, onde foram parar as vítimas de dois anos da epidemia mais trágica que todas as nossas guerras e revoluções; pior que todas as pestes contemporâneas. Particularmente cruel.

O que fazer quando o Finados passar, e esses mortos condenados a serem apenas números de estatísticas fúnebres? Diria que a forma de não permitir que eles e seu sacrifício passem em vão é levar o Brasil a cuidar mais da Saúde; preventivamente, sem esperar que a morte chegue de surpresa, mas quando puder ser evitada.

As campanhas de vacinação – nossos governantes e políticos precisam saber – têm de ser permanentes, sem tréguas. Ao contrário da doença, que requer ações curativas, a defesa da Saúde é essencialmente preventiva. Defesa antes do ataque. Neste particular, ainda falando aos que têm poder para decidir, a começar pelo Congresso Nacional, não é suficiente correr atrás de culpados, mas prestigiar os programas sanitários, a produção de vacinas em escala, decretar que sejam disponíveis e elaborar distribuição com logística competente. O que se viu nos últimos meses: enquanto nossos dirigentes digladiavam, multidões estavam morrendo.

Neste Finados é preciso que os governantes do Brasil deixem o campo santo sabendo que ali está um pouco de cada um deles, sobreviventes. E entender que a morte das pessoas, sejam parentes, amigos ou anônimos, é algo que aniquila a todos, porque todos somos parte de uma nação, por mais empedernidos que sejam os corações. Precisam pensar bem nisso.

Experiência da montanha

A tradição das disputas partidárias sempre indicou que é preciso passar por Minas, não necessariamente para se tirar dali o candidato a presidente ou, pelo menos, um vice que entre na chapa para ajudar ou não atrapalhar; mas colher experiência para contornar obstáculos. Como em quase tudo os tempos andam diferentes, desta vez os mineiros vivem entressafra na política. No caso de opções para a eleição de 2022 terão em disponibilidade, se tanto, o senador Rodrigo Pacheco, que, admitido no PSD, é apontado como candidato em potencial para a sucessão de Bolsonaro. Fora dele, viaja-se na paisagem política e não se vislumbram outras opções viáveis naquelas montanhas, principalmente depois que outro senador, Antônio Anastasia, manifestou desinteresse. Para ampliar limitações, uma facção pessedista local reage a qualquer acordo com o PT; mas o partido de Gilberto Kassab realmente mantém a expectativa de atrair o mineiro ou Henrique Meireles para tomar parte na chapa de Lula, seja este ou qualquer outro o candidato petista à presidência.

Mas Minas, mesmo diante da atual escassez de nomes de projeção nacional, mantém-se digna de merecer atenção, pois detém, depois de São Paulo, o segundo colégio eleitoral do país. Nenhum projeto de disputa presidencial pode desconhecer isso; e os dois partidos em questão certamente não fazem vista grosa a essa realidade. Também não podem negar a evidência do restrito leque de opções que lhes restam naquele estado.

Prevalece a dificuldade de nomes convenientes e agregadores, o que constitui problema imediato ou residual para todos os demais postulantes, quando fazem as contas dos votos possíveis. Têm razões de sobra para isso, cabendo lembrar um entre os exemplos, o PDT, de Ciro Gomes, que passou por uma singular experiência com os mineiros. Em 1989, Leonel Brizola, que ganhou deles 418.000 votos, perdeu para Lula o acesso ao segundo turno, por faltarem 454.000, que teriam sido facilmente obtidos se seu vice fosse de Minas. Fernando Collor percebeu o risco do vácuo, instalou-se em Belo Horizonte, tentou atrair Hélio Garcia e Márcia Kubitschek, para, ao final, convidar Itamar Franco, sugerido por Hélio Costa e Renan Calheiros.

Mas o que dali se deve extrair, com ou sem candidatos, são velhas lições sobre como construir diálogos e alianças, exatamente o que neste momento se reclama dos partidos de oposição, da esquerda e afins. Nas dez vezes em que os mineiros estiveram na presidência, de Afonso Pena até Itamar Franco, não falou obediência a dois postulados, que depois seriam resumidos por Paulo Pinheiro Chagas e Tancredo Neves: 1 - em briga de políticos de ideias parecidas todos perdem; 2 – é conversando que a gente se entende. Antes de procurar nomes, é isso que as oposições teriam de buscar, se realmente pretenderem o poder.

Segundo turno é certo

Se as pesquisas eleitorais até agora realizadas vão se contradizendo em alguns pontos, e com todas as cautelas, pois ainda vai bem distante a disputa presidencial, parece que, pelo menos em um detalhe, revelam-se acordes: a sucessão não estará em condições de se definir no primeiro turno. Os dados e tendências já agora perceptíveis sugerem a segunda votação, no domingo 30 de outubro.

Quando se consulta a opinião pública, os candidatos hoje preferenciais, para mais ou para menos, não prometem desempenho de tal forma convincente que autorize eleger-se o presidente apenas com os votos de turno único.

Há dois aspectos interessantes que concorreram para consolidar o instituto do segundo turno. O primeiro, e mais importante, é que confere ao eleito a autoridade de quem leva o aval da maioria inconteste. O novo presidente assume ungido por uma suficiente força política. Outro aspecto, este antecedendo as urnas, mas não menos relevante, é que a premissa de uma segunda rodada de votação impõe aos partidos e grupos litigantes - ou, pelo menos, devia impor - que considerem a inconveniência de campanhas excessivamente agressivas, cercadas de ódios e temeridades, porque os perdedores do primeiro turno se verão na contingência de acomodar seus projetos e pretensões em uma das duas candidaturas mais votadas.

Criada essa realidade, aos concorrentes da primeira fase não cabe promover tamanhas hostilidades, que, constrangidos, não possam participar de novas alianças.

Pelo que representa e enseja antes e durante o primeiro turno, a expectativa do segundo sempre tem tudo a ver com melhor desfecho da eleição.

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