O que aprendemos com os antigos?

Por RICARDO SALLES

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As cidades devem oferecer uma vida agradável aos seus cidadãos e aos que as visitam, facilidades e diversão.

O sucesso de uma cidade se dá pela qualidade de seus serviços, afinal de contas, vivemos a era da eficiência, da velocidade. Como estas cidades se apropriam das tecnologias para atingir seus objetivos?

Vamos viajar no tempo... Quem não é curioso com relação à Atlântida? Superevoluída cidade perdida.

Há mais de 2200 anos, havia um computador, não se sabe se houve outros, mas é o mais antigo que conhecemos. O Mecanismo de Anticítera, descoberto em 1901, na cidade grega de mesmo nome. Monitorava o ciclo de jogos antigos além de identificar o movimento de corpos celestes e 42 eventos astronômicos. Servia para facilitar a vida dos cidadãos pois além de poder prever eventos climáticos, auxiliava no dia a dia com uma precisa marcação do tempo.

Há quem defenda a tese de que cidades antigas seriam mais inteligentes urbanisticamente que as modernas por não considerarem vias para locomoção de veículos, ou seja, na época carruagens. Que por isso seriam mais voltadas às pessoas. Não entendo dessa forma até porque os meios de locomoção só existem para melhorar a vida das pessoas. As cidades precisavam ser completas por, na maioria dos casos, estarem isoladas umas das outras, necessitavam ser autônomas.

Sabemos que o planejamento urbano de cidades é fundamental para que sejam consideradas inteligentes. Já falamos aqui sobre o tema. Cidades que se organizam de forma a facilitar acesso a produtos, serviços, lazer e moradia, sem necessidade do uso de meios de transporte individual, facilitam tudo.

A Grande Pirâmide de Gizé, construída há mais de 4500 anos conforme defendido por uns, por outros ha mais de 10.000 anos, e a bateria de Bagdá na geração de energia são referências ainda em estudo.

Vikings eram exímios navegadores e talvez essa habilidade tenha sido desenvolvida pela necessidade de alimentação do povo. Navegavam basicamente pela orientação solar por milhares de quilômetros a velocidade de 6 nós, por vezes, mais de 3 semanas. Considerando que muitas vezes navegavam sob forte neblina e céu nublado, sem instrumentos, isso nos deixa perplexos. Mas eles tinham as famosas sunstones, ou pedras do sol, que auxiliavam na identificação da localização do sol com céu fechado. Considerando que na China a bussola já existia ha mais de 2000 anos, os Vikings sofreram pela dificuldade de aquisição deste conhecimento à época. Fortalezas Circulares (Trelleborg) de 975 D.C. no Reino do Rei Haroldo, o Bluetooth, também mostrava a forma de manutenção da segurança do povo.

Conversei com o amigo Celso Simões Alexandre, presidente da Trox Américas, referência há décadas em sistemas de filtragem e qualidade do ar em ambientes internos. Celso destacou a importância de um ar de alta qualidade na manutenção da saúde dos cidadãos e que este não é um tema recente. Celso lembrou que médicos recomendavam que doentes fossem a cidades com melhor qualidade de ar para se tratar de doenças como a tuberculose. Lembrou também que no início do século XVI padre José de Anchieta recomendava que hospitais tivessem janelas opostas (janelas em lados opostos do prédio) abertas para que o ar circulasse fazendo a renovação e com isso mitigando a chance de contaminação.

Aqui no Brasil, o médico Clemente Ferreira, identificou que a qualidade do ar de Campos do Jordão era bem melhor que a de Davos, na Suíça. Davos era, até 1950, a referência mundial para tratamento da tuberculose, daí Campos do Jordão ficou conhecida a “Suíça brasileira”.

Onde este conhecimento, tão importante, tem influenciado em nossas vidas neste momento tão especial que vivemos? Entendemos que nossas construções hoje são diferentes, muitas vezes prédios colados uns aos outros e janelas que não abrem em hotéis e edifícios comerciais. Para tal, sistemas de condicionamento de ar especiais devem ser considerados, onde a captação de ar externo é feita com ventiladores e o ar interno filtrado constantemente. A qualidade do ar tem relação direta com a saúde do ser humano, se considerarmos que vivemos mais de 90% de nossas vidas em ambientes internos, esse é um conhecimento que deve ser mais bem difundido.

Um outro caso pode ser destacado aqui, na era inca, prédios eram construídos de forma a forçar a circulação do ar sobre uma lâmina d’água com objetivo de resfriar os ambientes internos, e esta condição também favorecia muito a minimização do nível de particulados.

Cidades inteligentes devem desenvolver conhecimento e difundir a seus cidadãos, isso cria um ciclo virtuoso no desenvolvimento, além de garantir melhor qualidade de vida.

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