Cidades Inteligentes

Por Ricardo Salles

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CIDADES INTELIGENTES

A Cúpula do Clima e as soluções nacionais

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Publicado em 23/04/2021 às 20:32

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O Brasil produziu em 2020 32,4 bilhões de litros de etanol, enquanto nos EUA foram produzidos 60 bilhões de litros. Respondemos por menos de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, isso mostra que falta pouco para chegarmos a zero em emissão e despontarmos como uma potência agroambiental.

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Canavial no interior de São Paulo (Foto: Ricardo Salles)

Participei recentemente de um debate muito enriquecedor promovido pela Fenemi Brasil onde o etanol veio à pauta como um promissor instrumento na busca de soluções ambientalmente adequadas, não apenas para o presente, mas também para o futuro.

O Etanol começou a ser usado como combustível na década de 20, onde a Ford já tinha em sua linha de produção o famoso Modelo T, com motor de quatro cilindros em linha, 2.894 cm³, 17 cv de potência, movido a este biocombustível.

Durante a segunda guerra mundial, a Alemanha fez uso deste biocombustível produzido através da beterraba.

Na década de 70, motivado pela guerra do petróleo, o Brasil se reinventou e lançou o Proálcool. Em 1979, a Fiat colocava um veículo no mercado, era o FIAT 147 , o qual tinha motor 1.3 de 70 cv e 11,5 kgfm. Era o início de uma nova indústria no Brasil, que precisava inovar para se destacar. Excelente estratégia, hoje a FIAT é conhecida como inovadora e parceira do país. Como consequência, colhe os louros tendo um dos veículos mais vendido por aqui hoje, o Fiat Strada, com mais de 10.ooo unidades/mês. Atualmente, os veículos movidos a etanol, os flex, chegam a ser equipados no Brasil com motores 2.0 de até 192cv, como é o caso da BMW.

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BMW 320i flex 2021 (Foto: Divulgação)

Com uma ação coordenada, em um momento em que o milagre econômico incentivava investimentos, o Brasil veio crescendo sua produção dos então 2 milhões de metros cúbicos por ano. Nos dias atuais, esta marca é cumprida apenas nas regiões Norte e Nordeste.

O Etanol é uma marca brasileira e deveria ter denominação de origem. Precisamos nos valorizar e reconhecer que os brasileiros são criativos, empreendedores e podem ajudar muito nesta escalada de cuidados com meio ambiente e consequentemente na preservação da vida.

Uma solução que está sendo potencializada pela engenharia brasileira é a geração da energia elétrica com a utilização do etanol em veículos. Esse sistema, combinado com a eficiência dos motores elétricos, dá aos furgões da Nissan uma autonomia acima dos 600 km, com apenas 30 litros de etanol.

Veículos movidos a SOFC – Solid Oxide Fuel Cell (célula de combustível de óxido sólido) são o caminho natural da evolução, afirma Roberto Hollanda Filho, presidente da BioSul - Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul -, levando em conta que esta solução evita o custo e risco do armazenamento de hidrogênio em estações de abastecimento ou nos tanques dos veículos, aproveita a estrutura de abastecimento existente hoje no Brasil e incrementa o emprego e renda.

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Nissan E-NV200 (Foto: Reprodução)

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Protótipo Nissan movido a célula de hidrogênio de bioetanol roda 600 km com 30 litros de etanol (Foto: Reprodução)

Entenda a tecnologia assistindo ao vídeo


Roberto considera ainda que as 18 unidades que têm o maior potencial do Biogás no Mato Grosso do Sul podem aumentar de 30% a 40% a produção, e atender ao crescimento do mercado, com uma capacidade de produção pronta para expansão.

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Nissan (Foto: Divulgação)

Um outro dado interessante é o que acontece com o sistema e-Power, um híbrido similar ao que existe no BMWi3 que tem um motor a combustão e gera energia elétrica para carregar as baterias, estendendo assim a autonomia do veículo que roda 100% com eletricidade. Pablo de Si, CEO da Volkswagen na América do Sul já se manifestou mostrando interesse nesta tecnologia por facilitar a entrada do veículo elétrico no Brasil.

Mesmo com tantas vantagens, a adequabilidade dos veículos elétricos em Terra Brasilis é uma preocupação, como dito em uma matéria anterior. O sistema precisa estar preparado, não apenas no lado da concessionária, mas também nos pontos de abastecimento. Um exemplo da necessidade de cautela aconteceu na Alemanha, líder na campanha desse tipo de veículo, que tentou tirar o carvão da matriz energética e precisou retornar imediatamente por ter causado uma forte instabilidade no sistema.

Dentro desse processo de adequações temos um importante player, o setor público. Jaime Verruck, secretário Estadual de Meio Ambiente e Produção (indústria, comercio, agricultura e serviço) do Mato Grosso do Sul destaca a importância estratégica de união das disciplinas, potencializando e dinamizando as ações. Atitudes estas que têm levado seu estado a ser uma referência em Bioenergias. Jaime destacou que tem promovido muitos estudos e apoiado ações, como as de uma fazenda de eucaliptos que, com as raízes (subproduto do processo), gera hoje 30Mw, energia suficiente para alimentar mais de 200.000 casas populares. Ele acredita também que o etanol de segunda geração pode aumentar em 50% a produção por hectare, e está em linha de desenvolvimento este etanol celulósico com a palha, nas usinas de açúcar e álcool.

Todo este processo vai gerar créditos de carbono, e precisamos quantificar e precificar. O Crédito de Descarbonização (CBIO) é o ativo que dá suporte ao maior programa de descarbonização do planeta, e oferece a solução para a economia de baixo carbono.

Um CBIO equivale a uma tonelada de emissões evitadas, representando sete árvores em termos de captura de carbono. Segundo o Ministério de Minas e Energia, até 2030 serão compensadas emissões de gases causadores de efeito estufa que correspondem à plantação de 5 bilhões de árvores, o que equivale a todas as árvores existentes na Dinamarca, Irlanda, Bélgica, Países Baixos e Reino Unido juntas.

A Portaria MME nº 122, de 23 de março de 2020 regulamenta a emissão, a escrituração, o registro, a negociação e a aposentadoria do CBIO, que é comercializado pela B3 S.A. desde junho de 2020.
Sem dúvida alguma temos uma jornada de grandes conquistas pela frente, na redução de gases poluentes, na utilização de energia limpa e consequentemente na edificação e consolidação das cidades inteligentes. Nosso desafio é a perseverança, as boas práticas e a interação entre os setores público e o privado.

Gosta do tema? Quer apresentar algum projeto inteligente para cidades? Envie um e-mail e vamos conversar.