Agência EFE
WASHINGTON - Um grupo de pesquisadores americanos conseguiu criar em laboratório um 'super-camundongo' que corre, come e vive mais e se mantém em melhor forma do que os roedores comuns, o que abriria grandes expectativas para pesquisas sobre a melhora da condição humana, disseram hoje fontes ligadas à pesquisa.
Um dos membros da equipe, o guatemalteco Marco Cabrera, explicou à Efe que no laboratório da Escola de Medicina da Universidade Case Western, em Cleveland (Ohio, EUA), foram criados mais de 500 "Ligeirinhos', que 'passam todo o tempo em que estão acordados em atividade'.
Os resultados do estudo, coordenado por Parvin Hakimi, Jianqi Yang, Fátima Tolentino Silva e Richard Hanson, foram publicados esta semana na revista 'Journal of Biology Chemistry'.
- Basicamente o que ocorre é isto: a enzima fosfoenolpiruvato carboxiquinase naturalmente produz glicose no fígado e no rim. Nestes ratos a enzima se expressou geneticamente nos músculos - explicou Cabrera, engenheiro biomédico radicado nos EUA desde 1983.
O resultado gerou ratos sete vezes mais ativos que seus congêneres não modificados geneticamente, que podem correr de cinco a seis quilômetros a uma velocidade de 20 metros por minuto sobre uma esteira por até seis horas, sem parar.
Os animais, denominados como 'PEPCK-Cmus' pelos cientistas do laboratório de Engenharia Biomédica, comem 60% a mais que os ratos comuns e, no entanto, não aumentam de peso, têm 10% menos de gordura e uma capacidade aeróbica duas vezes maior que a dos ratos normais.
Todos os ratos 'PEPCK-Cmus' têm vidas mais longas que os outros, e algumas fêmeas procriaram até os 2,5 anos de idade. É um aumento enorme de fertilidade se for considerado que a maioria dos demais ratos não se reproduz depois do primeiro ano de vida.
- Metabolicamente, estes ratos são similares a Lance Armstrong pedalando pelos Pirineus. Eles utilizam principalmente ácidos graxos para obter sua energia e produzem muito pouco ácido láctico - explicou Richard Hanson, autor principal do artigo, comparando-os com o ciclista americano.
- Estes ratos funcionam de maneira similar que os atletas humanos de maratona - disse Cabrera, que trabalhou desde os anos 1980 no estudo da fisiologia do exercício, e no laboratório de exercício para crianças em um hospital de Cleveland.
Agora o principal desafio é poder aproveitar estes avanços no ser humano.
- Encaramos agora nos EUA uma verdadeira epidemia de obesidade entre as crianças e adolescentes, e sabemos que a obesidade está ligada ao desenvolvimento do câncer - disse Cabrera.
Um dos próximos projetos do grupo de pesquisadores é a comparação das probabilidades de câncer entre ratos atletas e ratos comuns com um regime de exercícios.
Como parte do estudo, os pesquisadores determinaram o consumo de oxigênio, a produção de dióxido de carbono e as concentrações de lactato no sangue dos ratos 'PEPCK-Cmus' e dos ratos em grupos de controle durante o exercício em uma esteira com inclinação de 25 graus.
A velocidade da esteira foi aumentada em dois metros por minuto a cada 60 segundos até que o rato parou de correr.
Os imitadores do 'Ligeirinho' correram uma média de 31,9 minutos comparados com 19 minutos nos animais do grupo de controle.