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Resistência a dor e o mistério do cultivo ao sofrimento

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Agência JB

RIO - Frida Kahlo além de pintora, escritora e artista vanguardista de renome em sua época, chamou atenção e deixou sua marca além dos dotes artísticos. Frida conviveu durante sua vida com dores insuportáveis e é praticamente inexplicável como ela pode ter sobrevivido a tantas décadas com esta e tantas outras patologias.

Aos seis anos de idade, Frida contraiu poliomielite. A doença deixou como marcas o membro inferior direito mais curto e a musculatura atrofiada. Quando tinha 18 anos, o ônibus no qual Frida Kahlo viajava chocou-se com um bonde. Em conseqüência da gravidade do acidente, no qual várias pessoas morreram, ela sofreu fraturas em três vértebras, fragmentação da tíbia e fíbula direitas, além de três fraturas de pelve (bacia). Nada passava desapercebido por Kahlo, além de retratar em aquarelas sua visão do acidente, em telas que vivem em destaque no centro cultural dedicado a ela em seu país de origem , México. Especialistas, vêem, porém, mais de uma explicação para a capacidade artística de Frida. Ela foi diagnosticada, postumamente como portadora de bipolarismo( a antiga psicose maníaca depressiva). Frida demonstrou uma total inabilidade de aceitar a orientação médica de que, devido a extensão de suas doenças adquiridas, não era recomendável que ela engravidasse é mais um sintoma que corrobora essa tese. O acidente também destruiu seu sonho de ser médica. Em 1929 ela sofreu o primeiro aborto; em 1932, o segundo e último.

No leito do hospital Henry Ford, em Detroit, EUA, Frida pintou um quadro que intitulado 'A cama Voadora'. Além do impacto visual que explica a dor da perda do filho, Frida demonstra, neste momento estar no polo deprimido de sua doença psiquiátrica. No quadro, ela desenha flutuando sobre o leito um feto do sexo masculino, Nesse período, Frida pintou o quadro O Hospital Henry Ford, também conhecido como A Cama Voadora (1932). O quadro mostra a pintora deitada no leito do hospital, localizado em Detroit, EUA. Flutuando sobre o leito, pode ser visto um feto do sexo masculino, um caramujo e um modelo anatômico de abdome e de pelve. No chão, abaixo do leito, são vistos uma pelve óssea, uma flor e um autoclave. Todas as seis figuras estão presas à mão esquerda de Frida por meio de artérias. Neste período, Kahlo se desenhava extremamente pequena em relação aos móveis do cenário, intensificando externamente o desconforto, a solidão e como o aborto a fazia sentir-se menos mulher.

Os fatos marcantes da vida de Frida e a completa falta de recursos apropriados na época para tratar seus múltiplos sintomas, faziam com que Frida superdimensionasse todos os acontecimentos de sua vida. Numa outra referência ao bipolarismo, vemos a completa dependência emocional de Frida por Diego Rivera, seu marido e contemporâneo na arte do muralismo. Diego podia traí-la repetidamente, inclusive com sua irmã, Cristina. Frida, como parte dos maníaco depressivos que não recebem tratamento adequado, desenvolve uma necessidade visceral de cultivar sofrimentos, sejam eles em forma de lembrança( o que é virtualmente demonstrado nas constantes pinturas sobre seu passado familiar e seu cotidiano de dores).

A pintora se submeteu a mais de 30 cirurgias, entre as quais sete de coluna. O Dr. Juan Farill foi o médico que operou sua coluna e foi homenageado por Frida com o quadro Auto-Retrato com o Retrato do Dr. Farill (1951). Em 1954, Frida Kahlo foi encontrada morta. Seu atestado de óbito registra embolia pulmonar como a causa da morte. A última anotação em seu diário permite aventar-se a hipótese de suicídio.