CIÊNCIA E TECNOLOGIA

O que é anomalia magnética que fica em cima do Brasil e é monitorada pela Nasa

Relatório da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial dos EUA e do Centro Geográfico de Defesa do Reino Unido aponta que o fenômeno está crescendo

Por JB CIÊNCIA com Revista Fórum
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Publicado em 26/05/2024 às 10:45

Alterado em 26/05/2024 às 10:45

Crescimento da anomalia magnética Foto: Reprodução/Agência Espacial Europeia

Lucas Vasques - A Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (NGA) dos Estados Unidos e o Centro Geográfico de Defesa (DGC) do Reino Unido divulgaram um relatório que tem relação com o Brasil.

O documento confirmou que a anomalia no campo magnético da Terra que fica sobre o Brasil está crescendo.

Com o nome oficial de Anomalia do Atlântico Sul (AAs ou Amas), o fenômeno tem sido estudado por cientistas e é monitorado diretamente pela Nasa, agência espacial estadunidense.

O campo magnético da Terra funciona como uma espécie de escudo ao redor do planeta, que rechaça partículas carregadas do Sol, como radiação cósmica e ventos solares. Porém, sobre a América do Sul e o Sul do Oceano Atlântico, há uma região em que esse campo é enfraquecido. A Nasa relata que o este fato “permite que essas partículas mergulhem mais perto da superfície do que o normal”.

As autoridades dizem que a intensidade do campo magnético nessa área chega a ser de um terço da média no restante do planeta. Embora não saibam o motivo exato para ela existir, os pesquisadores já verificaram que a anomalia se aprofunda cada vez mais e se expande para Oeste.

No relatório, eles estimam que, de 2020 a 2024, a área da AAS aumentou em cerca de 7%. Em 2020, a Nasa revelou que “grupos de pesquisa geomagnética, geofísica e heliofísica observam e modelam a AAS para monitorar e prever mudanças futuras e ajudar na preparação para futuros desafios aos satélites e aos seres humanos no espaço”.

Embora não existam riscos aparentes para o ser humano na Terra ou para atividades do cotidiano da população, a anomalia magnética é conhecida por “causar danos de radiação a satélites e problemas com a propagação de rádio, problemas que são exacerbados pelo seu crescimento”.

Segundo a Nasa, “a radiação de partículas nessa região pode derrubar os computadores de bordo e interferir na coleta de dados dos satélites que passam por ela”.

“A Anomalia do Atlântico Sul também é de interesse para os cientistas da Nasa tanto para saber como essas mudanças afetam a atmosfera da Terra quanto como um indicador do que está acontecendo com os campos magnéticos da Terra, nas profundezas do globo”, acrescenta o órgão.

A Nasa ressalta, também, que, além de se expandir, a AAS continua a ter sua intensidade enfraquecida e está se dividindo em duas, o que “cria desafios adicionais para as missões de satélite”.

Consequências em satélites
O enfraquecimento do campo magnético na região faz com que os satélites, quando passam por ela, precisem “ficar em stand by, desligar momentaneamente alguns componentes para evitar a perda do satélite, de algum equipamento que venha a queimar”, afirmou o doutor em Física, Marcel Nogueira, que pesquisou a anomalia no Observatório Nacional (ON), em entrevista à Agência Brasil.

“Porque a radiação, principalmente elétrons, nessa região é muito forte. Então, é de interesse das agências espaciais monitorar constantemente a evolução dessa anomalia, principalmente nessa faixa central”, ressaltou.

O especialista contou, ainda, que existem observatórios magnéticos no Brasil com a preocupação de acompanhar a AAS. Além disso, em março de 2021, o país lançou o nanossatélite NanosatC-BR2com, em parceria com a Agência Espacial Russa, com o objetivo específico de monitorar a anomalia.