CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Fósseis encontrados na África do Sul podem mudar história da evolução humana

Novos estudos revelam que os fósseis encontrados nas cavernas de Sterkfontein, na África do Sul, podem ser muito mais antigos do que se pensava anteriormente

Por CIÊNCIA JB

Publicado em 04/07/2022 às 13:45

Alterado em 04/07/2022 às 13:45

Fêmea Australopithecus descoberta em 1947 em Sterkfontein, África do Sul, e recentemente datada de 3,4 a 3,6 milhões de anos Foto: Jason L. Heaton

Um novo estudo sobre os fósseis encontrados na África do Sul revela que eles podem ser mais de um milhão de anos mais velhos do que se pensava, o que reescreveria alguns estágios-chave na história da evolução humana.

A descoberta sugere que esses fósseis pertencem a uma espécie que pode ser anterior a Lucy, o fóssil de 3,2 milhões de anos, cuja espécie Australopithecus afarensis era a principal candidata ao ancestral humano direto mais antigo já encontrado.

Pesquisas anteriores sugeriram que o principal candidato a precursor do Homo sapiens poderia ser o gênero Australopithecus, que viveu cerca de 4,1 milhões a 2,9 milhões de anos atrás.

Australopithecus significa "macaco do sul" e inclui a espécie de Lucy. Na época da descoberta de Lucy na Etiópia, em 1974, seus ossos eram o esqueleto mais antigo e completo do mundo de uma espécie relacionada à humana, de acordo com a Nature.

As fontes mais abundantes de fósseis de Australopithecus descobertos até hoje são as cavernas de Sterkfontein na África do Sul, que fazem parte de um local chamado Berço da Humanidade.

De acordo com a Live Science, pesquisas anteriores sugeriram que os ossos em Sterkfontein tinham apenas 2,1 milhões a 2,6 milhões de anos, mas os fósseis Homo mais antigos conhecidos datam de cerca de 2,8 milhões de anos, o que sugeria que a espécie Australopithecus de Sterkfontein não poderia ter sido os ancestrais diretos do Homo.

Mas uma controvérsia em torno das idades dos fósseis em Sterkfontein, como do esqueleto quase completo conhecido como Little Foot (o mesmo que Pé Pequeno) encontrado ali, dataria o fóssil em 3,67 milhões de anos.

Na nova pesquisa o geocronologista da Purdue University em West Lafayette, Indiana, Darryl Granger e seus colegas buscaram novas estimativas das idades dos outros fósseis de hominídeos em Sterkfontein. Eles descobriram que esses ossos podem realmente ter cerca de 3,4 milhões a 3,7 milhões de anos. Isso os torna mais velhos do que Lucy e abre a possibilidade de que o Homo possa ter evoluído das espécies Australopithecus da África do Sul, e não da África Oriental como se pensava.

Os cientistas analisaram os chamados nuclídeos cosmogênicos dentro das rochas, uma técnica extremamente avançada de análise do material ao redor dos fósseis que através de elementos ou isótopos produzidos por raios cósmicos – partículas de alta energia que constantemente bombardeiam a Terra do espaço sideral – consegue datar os sedimentos encontrados junto ao fóssil.

"Foi surpreendente para mim no início que as novas idades de 3,4 milhões a 3,6 milhões de anos fossem tão próximas [em idade] dos sedimentos mais antigos", afirmou Granger à Live Science. "O que isso diz é que todos os fósseis de Australopithecus em Sterkfontein se enquadram em um intervalo de tempo bastante estreito e em um momento específico em que também havia muita diversificação de hominídeos na África Oriental. Isso aponta para uma conexão inicial entre hominídeos na África Oriental e África do Sul", concluiu o pesquisador.

Essas novas descobertas, que mostram que o Australopithecus africanus é pelo menos tão antigo, senão mais velho, que o Australopithecus afarensis, podem descartar a ideia de que um era descendente do outro. Além disso, o A. africanus possui um crânio e características faciais de macaco mais primitivos do que o A. afarensis, disse o paleoantropólogo Yohannes Haile-Selassie, diretor do Instituto de Origens Humanas da Universidade Estadual do Arizona.

De acordo com Granger, outra implicação da pesquisa é que "essa idade mais avançada permite mais tempo para as espécies sul-africanas evoluírem para hominídeos posteriores", o que poderia incluir o Homo. "Não sabemos se isso aconteceu com certeza, mas abre uma janela de possibilidade."

Para dar uma resposta final à questão, os cientistas poderiam resolver o quebra-cabeça das idades desses fósseis através de experimentos duplo-cegos, envolvendo diferentes grupos de pesquisadores examinando as mesmas amostras, sem qualquer identificação, para poder então comparar os resultados obtidos. (com agência Sputnik Brasil)

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