CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Estudo: crianças incas escolhidas para sacrifícios ingeriram cocaína e ayahuasca
Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 22/05/2022 às 11:24
Por mais de 500 anos, restos mumificados de três crianças congeladas no topo de um vulcão no sul do Peru mantiveram um registro secreto de seus últimos dias.
Plantas alucinógenas e estimulantes psicotrópicos desempenharam um papel importante nas crenças, rituais e práticas de adivinhação nos antigos Andes.
Desde a descoberta de três múmias na década de 1990, pesquisadores têm se esforçado para desvendar o passado das crianças.
A capacocha foi uma das cerimônias mais significativas realizadas no Império Inca. Durante o ritual, os incas sacrificavam crianças e mulheres jovens que deveriam ser bonitas e imaculadas.
Os restos dos corpos das crianças de 6 ou 7 anos encontrados no vulcão Ampato, nos Andes, em 1995, foram submetidos a um rigoroso exame bioarqueológico.
Um recente estudo publicado no Journal of Archaeological Science acrescentou novos detalhes sobre como era a vida dessas crianças há 500 anos a partir de vestígios de material de cabelo e unhas.
Foi possível registrar que altas doses de diversas substâncias psicodélicas foram ingeridas. Os cientistas encontraram evidências de uso de drogas, apontando especificamente para o uso de folhas de coca e álcool.
Em alguns casos, as crianças foram encontradas com as folhas ainda na boca, com sinais de tê-las consumido com álcool em grande quantidade momentos antes de sua morte.
A descoberta recente aponta uso de metabólitos associados ao consumo de uma bebida psicodélica feita de ayahuasca (Banisteriopsis caapi), um "sinal altamente indicativo de um ritual destinado a acalmar ao invés de estimular".
Os pesquisadores usaram espectrometria de massa para identificar a presença de alcaloides e metabólitos de coca, bem como harmalina e harmina nas unhas de duas múmias Ampato.
Harmalina e harmina são usualmente misturadas com outros materiais para criar uma bebida que induz vômito, diarreia e alucinações vívidas e intensas.
Segundo os pesquisadores, entretanto, o consumo da ayahuasca não tinha como objetivo produzir visões fortes, mas simplesmente reduzir a depressão e a ansiedade.
"Os incas podem ter usado conscientemente as propriedades antidepressivas da Banisteriopsis caapi para reduzir a ansiedade e os estados depressivos das vítimas", conclui a publicação. (com agência Sputnik Brasil)