TELEVISÃO

Cid vai detalhar como Bolsonaro alinhava discursos com a Jovem Pan para se promover, diz site

Tenente coronel tinha contato direto com comentaristas e jornalistas da emissora, que recebeu R$ 18,8 milhões do governo Bolsonaro somente em publicidade oficial.

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 14/09/2023 às 11:11

Alterado em 15/09/2023 às 11:22

Jair Bolsonaro posa com a equipe da Jovem Pan Foto: Reprodução

Além do desvio das joias, da minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, do envolvimento de militares do governo em conversas sobre golpe de estado e das fraudes em cartões de vacinação, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), vai revelar detalhes da relação do ex-presidente e seu entorno com veículos de imprensa alinhados ao bolsonarismo. A informação foi divulgada pela Folha de S. Paulo nesta quarta-feira (14).

No acordo de delação premiada que culminou em sua soltura, homologado pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), na semana passada, o militar prometeu destrinchar minúcias sobre a proximidade do ex-mandatário com a Jovem Pan e como, a mando do capitão, a emissora teria agido nos bastidores para combinar pautas e entrevistas favoráveis, como se fosse uma espécie de assessoria de imprensa do governo.

Com a Jovem Pan, Bolsonaro cedeu diversas entrevistas, especialmente dentro do programa Pânico, exibido entre 12h e 14h e comandado por Emílio Surita. Durante a campanha eleitoral, em agosto do ano passado, o então presidente foi pessoalmente à sede da empresa, na avenida Paulista, em São Paulo, e ficou por duas horas e meia conversando com o elenco do humorístico. Em setembro de 2022, ele foi ao Morning Show, matinal da mesma emissora.

A emissora de Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, era uma das principais vitrines de Jair Bolsonaro e teve um pedido do Ministério Público Federal (MPF) para a cassação da concessão pública por "alinhamento à campanha de desinformação que se instalou no país ao longo de 2022 até o início deste ano, com veiculação sistemática, em sua programação, de conteúdos que atentaram contra o regime democrático”.

Nos quatro anos de Bolsonaro no poder (2019-2022), a rede de rádio e TV firmou contratos que somaram R$ 18,8 milhões, de acordo com informações públicas da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República. São excluídos dos números a publicidade de bancos e gigantes estatais, como a Petrobras.

O valor colocou a Jovem Pan como a 12ª empresa com mais verbas de publicidade federal na gestão Bolsonaro. Sob Lula, há um único registro no sistema de divulgação de verbas federal em 2023, de R$ 2,4 mil, para uma rádio afiliada de Manaus (AM), para veiculação de campanha de combate à tuberculose.

Ainda segundo a reportagem de Gabriel Vaquer, Cid vai abordar a relação financeira com empresários, jornalistas e donos de órgãos de imprensa ligados à extrema-direita, e que teriam recebido financiamento para aumentarem sua estrutura em troca de defesa e divulgação de realizações do antigo governo federal. A defesa de Cid diz ter comprovações de pagamentos que teriam sido feitos e que irá apresentá-los na delação.

A Jovem Pan ainda não se pronunciou a respeito das denúncias.

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