Longe do Oscar, Tilda Swinton ganha o afago do Urso Honorário da Berlinale
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Contrariando expectativas (e torcidas), a escocesa Tilda Swinton ficou de fora do páreo do Oscar 2025, por seu desempenho em “O Quarto ao Lado”, do espanhol Pedro Almodóvar, sem vaga para concorrer ao prêmio de Melhor Atriz contra Fernanda Torres (em “Ainda Estou Aqui”) e Demi Moore (“A Substância”), mas ganhou um mimo de peso da Berlinale. Na abertura da 75ª edição do evento, ela foi coroada com o Urso de Ouro Honorário pelo conjunto de sua carreira, marcada por parcerias com cineastas de grife autoral (e experimental). Chegou a ser oscarizada no passado, em 2008, por “Conduta de Risco”, e, no ano seguinte, presidiu o júri do festival alemão que hoje a acolhe, numa edição em que concedeu o troféu principal para a América Latina, laureando o filme peruano “A Teta Assustada”, de Claudia Llosa.
“Eu não falo português para poder avaliar o que seu país faz como poderia, mas, ao longo dos anos, tenho conferido retratos humanos carregados de verdade vindos dos países latinos, cheios de diversidade, de ritos culturais”, disse Tilda ao JB, antes de Berlim, em sua passagem pelo Festival de Marrakech, no Marrocos.
Embora abrace a Escócia como pátria, Tilda nasceu em Londres, há 64 anos. Hoje, ela circula por mostras internacionais com o musical “O Fim”. Será vista em breve no papel central do novo longa do cineasta germânico Edward Berger, “The Ballad of a Small Player”. Berger hoje está na corrida pelo Oscar com o sucesso “Conclave”.
A vinda de Tilda para a Alemanha no abre-alas da Berlinale faz parte do simbolismo que a atual diretora artística do evento, Tricia Tuttle, busca construir, investindo numa curadoria pautada pelo otimismo e pela solidariedade.
“A variedade do trabalho de Tilda Swinton é de tirar o fôlego. Ela traz ao cinema muita humanidade, compaixão, inteligência, humor e estilo, e expande nossas ideias sobre o mundo por meio de seu desempenho”, disse Tricia em comunicado oficial do Festival de Berlim. “Tilda é um de nossos ídolos do cinema moderno e também faz parte da família Berlinale há muito tempo”, ressalta a curadoria.
Transformada na nova diva de Almodóvar desde o curta “A Voz Gumana” (2020), Tilda atraiu os holofotes do audiovisual a partir de suas colaborações com o diretor inglês Derek Jarman (1942-1994) e por sua atuação em “Orlando, A Mulher Imortal” (1992), de Sally Potter. Travou parcerias com medalhões como Jim Jarmusch, Bong Joon Ho, Joanna Hogg, os irmãos Joel e Ethan Coen e Apichatpong Weerasethakul.
Logo após a homenagem à atriz, a Berlinale abriu sua programação com uma sessão hors-concours de “Das Licht”, de Tom Tykwer. Nesta sexta começa a competição. O primeiro dos 19 concorrentes ao Urso de Ouro já exibidos foi “Living the Land” (China), de Huo Meng. É a saga de um menino de 10 anos que acompanha as transformações sociais de seu país na década de 1990, enquanto seus país trabalham longe de casa.
No domingo, será exibido o competidor brasileiro do Urso dourado de 2025, “O Último Azul”, de Gabriel Mascaro. Denise Weinberg e Rodrigo Santoro integram o elenco dessa distopia com base na Amazônia.
Nesta sexta, o Brasil avança Berliane adentro, pela seara hors-concours do evento, com o novo filme da paulista Anna Muylaert. Dez anos depois de ter exibido “Que Horas Ela Volta” (2015) por lá, ela retorna ao festival para lançar “A Melhor Mãe Do Mundo”. Com ecos de “A Vida É Bela” (1998), a trama é protagonizada por Gal (Shirley Cruz), uma catadora de materiais recicláveis que luta para escapar da violência do marido Leandro, (Seu Jorge). No empenho para fugir dele, ela coloca seus filhos pequenos em sua carroça e atravessa a cidade de São Paulo. Pelo caminho, enfrenta os perigos das ruas enquanto tenta convencer as crianças, Rihanna e Benin, de que estão vivendo uma aventura em família.
A Berlinale termina no dia 23.