CINEMA
Crises conjugais, pandemia e política
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
redacao@jb.com.br
Publicado em 09/09/2023 às 11:16
Alterado em 09/09/2023 às 11:16

“O filme parece um documentário sobre o futuro”, diz André Pellenz, diretor de “Fluxo”, em cartaz nos cinemas.
Dirigido e roteirizado por ele, é o primeiro capítulo de uma trilogia sobre a angústia e mais uma prova da maestria do cineasta.
Ele é autor de vários sucessos, como a comédia “Minha mãe é uma peça” e o infantil “Detetives do prédio azul”, entre outros.
Filmado em preto e branco e durante a pandemia da Covid-19, o longa é uma distopia que segue um casal em crise (Gabriel Godoy e Bruna Guerin) que terá que lidar com uma situação inesperada: um lockdown.
Obrigados a conviver, eles reavaliam seus conceitos, enquanto uma ameaça maior vai se formando lá fora: um governo de direita prepara um golpe de estado.
O elenco conta também com Cássio Gabus Mendes, Silvero Pereira e Guida Vianna.
Outro grande trunfo de “Fluxo” foi sua contribuição para manter a produção cinematográfica brasileira em funcionamento mínimo num período inóspito em que o setor cultural, e especialmente o cinema, foi duramente afetado.
Em entrevista por e-mail ao JORNAL DO BRASIL, o talentoso cineasta falou sobre o filme, a abordagem escolhida para o seu desenvolvimento, as mudanças que decidiu realizar durante a filmagem e novos projetos.
JORNAL DO BRASIL - Há muitos filmes já realizados – e certamente continuará havendo outros – em torno da covid-19 e com diversas abordagens. Qual o principal fator para a escolhida por você e qual o maior desafio para conseguir filmar em momento tão conturbado?
ANDRÉ PELLENZ - No momento que eu filmei, não havia protocolos e ninguém tinha ideia do que iria acontecer, havia até um clima de tragédia maior no ar. Então, a minha abordagem foi de não esperar, eu pensei “não vou esperar, vou fazer o possível para o cinema não parar”, porque naquele momento o cinema tinha parado totalmente no mundo inteiro. Então eu queria mostrar, mesmo que fosse uma coisa menor, que o cinema não vai parar nunca.
No desenvolvimento do filme, você optou por realizar mudanças em várias passagens como, por exemplo, em alguns conceitos, na montagem (como você mesmo mencionou numa entrevista) e em outros momentos. O que principalmente o levou a tomar essas decisões?
A maior mudança realmente foi na montagem, porque quando o filme ia entrar em finalização, já estávamos no fim da pandemia, e eu comecei a querer contar as coisas do fim para o início. Eu queria fazer uma viagem de volta onde tudo começou, e não retomar o início das coisas.
Você é um realizador de grandes sucessos de público e bilheteria, mas cada novo trabalho é um, o que sempre causa aquela expectativa relacionada com a receptividade pelos espectadores, as prováveis premiações, as críticas e outras. No caso de “Fluxo”, que tem um foco mais artesanal, como espera essa reação, enfim, qual sua expectativa?
Olha, apesar de eu ter feito alguns filmes que tiveram uma boa recepção crítica de alguns veículos e críticos importantes, de fato, o filme que tem uma expectativa comercial tem outro foco. No caso de “Fluxo”, ele poderia ser um filme de circuito de festivais e voltado à crítica, mas acontece que a gente não teve tempo para isso, porque a finalização dele acabou demorando muito, por outras questões, e por uma questão contratual, a gente tinha que lançar o filme agora. Então não houve tempo de trabalhar o filme no circuito dos festivais, o que é uma coisa profissional, uma coisa que tem que ser feita com investimento, com um trabalho que acabou que nós não tivemos tempo de fazer, mas o filme está aí, isso que é importante, o filme estar sendo exibido.
Já tem novos projetos em mente?
Sim, em novembro eu começo a rodar um novo filme, dessa vez eu estou fazendo uma comédia, estou voltando para a comédia. É um filme chamado “Caindo Na Real”, uma produção da ELO, com roteiro da Bia Crespo e estrelado pela Evelyn Castro. É um filme muito divertido, muito engraçado, para o grande público, mas que tem um contexto interessante, porque tem um contexto do reforço da importância da democracia. Estamos em um momento em que está se discutindo se houve ou não um golpe de estado no Brasil, tem gente que ainda deseja isso, é uma coisa doida. E esse filme vai tratar do quão importante e do quão frágil a democracia é. Então é muito gratificante fazer uma comédia de grande público, que tem uma base dramatúrgica tão importante por trás. É um lançamento para junho de 2024, deve chegar aos cinemas por aí.