CINEMA
‘Athena’, de Romain Gavras, concorre ao Leão de Ouro em Veneza
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
[email protected]
Publicado em 06/09/2022 às 11:11
Alterado em 06/09/2022 às 11:11
Cena do filme 'Athena', de Romain Gavras Netflix
Como dá para imaginar pelo sobrenome, Romain é filho do cineasta Constantin Costa-Gavras. Por sinal, o cinema parece estar no DNA da família Gavras. Além do consagrado cineasta grego de 89 anos – autor de clássicos como “Z” (1969) e “Estado de sitio” (1972) – sua esposa Michèlle Ray-Gavras é produtora de muitos de seus filmes, e a filha de ambos, Julie Gavras, também é diretora (“A culpa é do Fidel” foi um sucesso em Sundance/2007).
“Athena” é o terceiro longa-metragem de Gavras, também autor do roteiro com Ladj Ly e Elias Bekkeddar.
O filme, que estreou na última sexta feira (2), é um thriller político sobre a trágica história de quatro irmãos que moram no conjunto habitacional Athena e têm suas vidas mudadas quando o mais novo é morto em circunstâncias inexplicáveis. O acontecimento dá início a um embate violento, envolvendo os três irmãos que ficam divididos sobre o que devem fazer.
O mais velho, Moktar (Ouassini Embarek), parece não se importar muito, já que está mais preocupado de que forma esse problema poderá afetar suas operações comerciais ilícitas. O irmão do meio, Abdel (Dali Benssalah), é um herói de guerra condecorado e membro da polícia, e confia que o sistema vai resolver o crime. E o mais alterado, Karim (Sami Slimane), exige que seja realizada alguma ação.
Na coletiva com a imprensa, Gavras começou dizendo que “Athena” é um filme bem complexo para ser visto e entendido logo de manhã, horário no qual a sessão aconteceu.
“Estou aqui para tentar ajudar vocês a digerir esse filme que é muito forte”, definiu, contando como o projeto começou.
“Nós - Ladj Ly e eu - começamos a escrever esse projeto quando tínhamos 15 anos. Por sinal, nós sempre estávamos trabalhando juntos. Quando ele estava fazendo um filme ou um documentário, eu o ajudava, e quando eu estava fazendo um filme ou um videoclipe, ele me ajudava. Há mais ou menos dois anos, tivemos a ideia de começar o projeto, partindo de uma tragédia seguida da divisão entre os irmãos. A raiva, a tristeza e a dor que eles sentem se espalham pelo bairro e logo atingem a todos. Construímos uma iconografia forte e também procuramos fazer uma imersão na história. Isso foi essencial porque queríamos causar sensações e sentimentos na audiência, na medida em que a atuação dos personagens fosse progredindo”.
Gavras contou também que eles queriam imprimir uma sensação de “tempo real”, fazendo com que os espectadores acompanhassem os personagens, sem ter muito tempo para pensar. Ou seja, uma forma na qual a audiência praticamente vivesse cada momento junto com os personagens.
De fato, esse “tempo real” ao qual Gavras se refere realmente acontece e contribui muito para o entendimento da trama.
Em última análise, “Athena” é um filme de guerra urbana, uma tragédia familiar e política, no qual os personagens expressam bem a indignação que as pessoas têm em relação à impunidade, a não aplicação das leis, a um estado hostil e a atos de violência.