CINEMA

'45 do segundo tempo', de Luiz Villaça, estreia nos cinemas na quinta-feira

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 16/08/2022 às 12:38

Alterado em 16/08/2022 às 12:43

Atores Ary França, Tony Ramos e Cássio Gabus Mendes divulgação

O filme tem um elenco estelar, trazendo, entre outros, Tony Ramos, Cássio Gabus Mendes, Ary França, Denise Fraga e Louise Cardoso.

A história segue Pedro Baresi (Ramos), um palmeirense roxo e dono da tradicional cantina italiana Baresi, que reencontra depois de 40 anos seus amigos de colégio Ivan (Gabus Mendes) e Mariano (França) para recriar uma foto tirada na inauguração do metrô de São Paulo em 1974. Pedro ama futebol, ama a culinária italiana e ama sua vira-lata Calabresa, mas as dificuldades financeiras e a falta de esperança o fazem refletir sobre sua própria existência.

É uma emocionante comédia sobre escolhas, amizades e redescobrimento, na qual Pedro, Ivan e Mariano revivem memórias dos melhores dias de suas vidas e seguem em busca de Soninha (Louise Cardoso), a musa da infância dos três.

Villaça, além de ser um excelente diretor de atores, é um realizador de filmes tocantes que conseguem imediata identificação com os espectadores, como “Cristina quer casar”, “Por trás do pano” e, entre muitos outros, o comovente “O contador de histórias” – baseado na história real de um egresso da Funabem, que, praticamente adotado por uma pedagoga francesa, se torna um professor e um contador de histórias internacional. Esses são apenas alguns exemplos do seu cinema humanista e consequente.

Na entrevista ao JORNAL DO BRASIL, o diretor falou sobre os vários temas abordados em “45 do segundo tempo”; os resultados que espera com o filme; e sua esperança de uma nova perspectiva para nossa cultura e o cinema brasileiro.

 

Macaque in the trees
Luiz Villaça, diretor do filme "45 do Segundo Tempo" (Foto: divulgação)

 

 

JORNAL DO BRASIL - O filme pode ser visto por vários olhares: escolhas, amizade, redescobrimento, memória, futebol e muitos outros. Qual deles o define melhor?

LUIZ VILLAÇA - O filme fala sobre a ação do tempo em nossas vidas. As expectativas que criamos e o que de fato se concretiza. Acredito que, nos tempos que vivemos, o filme chega numa hora muito boa. Uma história de um reencontro de uma velha e sólida amizade que o tempo levou. A possibilidade de contarmos com o outro. O olhar que nos faz existir. Um abraço dado. Acredito na diferença e na possibilidade de construção. Sem o outro não existimos.


 

Seus filmes têm sido focados em histórias que tocam o coração, mas também trazem muitos ensinamentos. Impossível não vir à cabeça “O contador de histórias”. Você tem essa intenção, é algo consciente?

Eu acredito em filmes que nos tocam, que nos fazem rir e chorar ao mesmo tempo, que se comunicam com o público e se relacionam. Sempre me encantei com aquela incrível sensação de necessidade de viver após uma boa sessão no cinema. Esse momento tão simples e tão mágico, ir ao cinema. Fico feliz que você cite “O contador de histórias”, e acredito que, como todos os meus outros filmes, esse também traz essa simples necessidade do outro. De cruzarmos olhares, de nos abraçarmos. Nos dias de hoje soa piegas, mas garanto que é necessário. Precisamos de uma sociedade desarmada, de braços abertos ou de braços dados. Infelizmente, caminhamos para esse individualismo insuportável, esse esquecimento de que não somos nada sem o outro.

 


Os vários motes do filme atraem também um público bem diverso. Qual a expectativa quanto à receptividade?

A expectativa é de que a gente tenha espaço e tempo para o cinema nacional. Precisamos ter a possibilidade desse encontro. Temos um cinema sólido, criativo e diverso. Cineastas, técnicos e atores de um talento imenso. Histórias que reconhecemos. Sinto orgulho de estar entre tantos talentos. O “45 do segundo tempo” faz parte dessa luta por espaço, pelas salas de cinema, pela imensa vontade de receber nosso publico que, sim, sempre que vai ao cinema e assiste a um filme brasileiro, ama. Há que se criar condições para termos mais possibilidades para gerar esse encontro.

 


Como você vê o cinema brasileiro hoje e a possibilidade de termos uma nova perspectiva para nossa cultura e nossos filmes?

Temos um governo que tudo o que fez foi destruir. Esse é seu grande legado: destruição. Tenho a esperança que a gente se una e que no dia 1º de janeiro de 2023 a gente comece uma reconstrução desse país. Um país que olhe para a educação, a cultura, saúde, meio ambiente e, principalmente, que nunca compreenda a miséria. Que não suporte essa diferença social. Precisamos voltar a nos olhar. Espero que essa parte de nossa história fique para trás, como um grande pesadelo que vivemos.
Quanto ao nosso cinema? Ele é grande. E sempre continuará.

 

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