CINEMA
O esperado ‘Armageddon time’, de James Gray, é recebido com aplausos em Cannes
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
redacao@jb.com.br
Publicado em 22/05/2022 às 11:38
Alterado em 22/05/2022 às 11:38

Inspirado na infância do diretor e com um elenco de estrelas incluindo Anthony Hopkins, Anne Hathaway e Jeremy Strong, “Armageddon time” traz uma trama de amizade e lealdade ambientada na Nova York dos anos 1980.
O filme segue Paul (Banks Repeta), um aluno da sexta série inspirado em Gray, de família de classe média. Hathaway e Strong vivem os pais de Paul, e Hopkins interpreta seu avô.
Na escola, o melhor amigo de Paul, Johnny (Jaylin Webb), é um garoto negro com menos vantagens, que é tratado de forma diferenciada. Quando a família de Paul decide mandá-lo para uma escola particular, a diferença só aumenta.
Gray está de volta a Cannes onde já teve quatro filmes na programação: “Caminho sem volta” (2000), “Os donos da noite” (2007), “Amantes” (2008) e “Era uma vez em Nova York” (2013).
Na conferência de imprensa, na sexta feira (20), Gray disse que escreveu o roteiro antes de uma série de eventos, incluindo o assassinato de George Floyd, e que sua ideia inicial para o filme era mostrar “camadas de privilégio branco”, na década de 1980, que ainda existem hoje.
“Eu adorava contar histórias para meus filhos e eles pediam que eu os levasse para o lugar onde fui criado. Nós fomos lá e havia poucas provas que eu já tinha vivido lá, e que meus pais e meus avós haviam vivido lá também. De repente, uma história começou a surgir e ficou na minha mente desde então” contou o diretor, comentando a questão política do filme, que retrata uma época dos EUA de muitas mudanças.
“A desigualdade crescia como um problema mundial nessa época dos anos 70 e 80. É impossível olhar para o mundo como atualmente construído e não ver o privilégio branco como um dos mecanismos orientadores que existem”, ressaltou Gray, acrescentando que as pessoas que frequentam a escola particular retratada no filme devem ser vistas como tendo privilégios de superpotência.
“É um sistema em que o mesmo grupo chega ao topo, permanece no topo e mantém todos os outros de fora. E esse é o sistema que estamos executando. Como quebrar esse ciclo? Essa para mim é a questão norteadora”, afirmou.
“Armageddon time” é coproduzido pela brasileira RT Features, de Rodrigo Teixeira, que tem tido uma presença frequente no festival francês. Essa coprodução e a sessão de “Deus e o diabo na terra do sol”, de Glauber Rocha, em cópia restaurada na Cannes Classics, são as únicas presenças do Brasil nesta edição de Cannes / 2022.