CINEMA
Dario Argento, mestre do terror italiano, estreia ‘Dark Glasses’ no Festival de Berlim
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 14/02/2022 às 12:28
Alterado em 14/02/2022 às 12:28

Exibido na sexta-feira (11), em noite de gala e fora de competição, o filme integra a seleta Berlinale Special do festival
“Dark Glasses” é um thriller sobre um serial killer que assombra as noites de Roma. Asia Argento, filha do diretor, integra o elenco que inclui Ilenia Pastorelli, Andrea Gherpelli, Mario Pirrello, entre outros.
A trama se passa durante o verão, em uma Roma quase deserta, envolta em um eclipse solar hipnótico, quando um misterioso serial killer está na mira de prostitutas de alto nível.
Após dez anos, Argento, 81 anos, volta a dirigir um filme envolvendo aspectos políticos e algo humanístico, sem deixar de incluir seu lendário toque de horror.
Na coletiva com a imprensa em Berlim, Dario falou sobre o filme, sua origem brasileira, e como foi trabalhar com Asia, sua filha e também diretora - entre outros do celebrado “Incompresa” (Incompreendida), premiado em Cannes e exibido em vários festivais pelo mundo.
JORNAL DO BRASIL - Fale um pouco sobre sua origem, sabemos que sua mãe é brasileira.
DARIO ARGENTO - É um pedido que sempre me fazem. Minha mãe é brasileira, nascida em Porto Alegre. Morou um tempo no Rio de Janeiro e em São Paulo, migrando posteriormente para a Itália. Ela era fotógrafa e começou a se tornar famosa, principalmente por suas fotos de atrizes de cinema. Ela me ensinou várias coisas, o que faz com que 80% dos personagens dos meus filmes sejam mulheres ou crianças pequenas. Minha mãe era minha inspiração sobre como eram as mulheres e como eu via o universo feminino. Ser de origem brasileira me deixa muito feliz, eu amo e, ocasionalmente, visito o país.
Como foi dirigir sua própria filha?
Quando estamos no set, não somos pai e filha. Eu sou o diretor e ela, a atriz. Às vezes, brincamos um pouco um com o outro, mas nada muito constante. Somos profissionais na maior parte do tempo quando estamos filmando, mesmo que ela me chame de “pai”, depois de tudo.
O filme tem uma atmosfera construída de forma muito adequada, principalmente nas contraposições entre dia e noite. Houve intenção de fazer um tributo a Antonioni (Michelangelo Antonioni, o mestre da incomunicabilidade)?
Eu quis fazer uma homenagem a Antonioni e também a Roma filmando em um local que foi tão importante para minha carreira. As pessoas não conhecem a área rural de Roma, que é bem diferente da beleza da Toscana, por exemplo, O interior é mais intenso, repleto de florestas e gostei muito de filmar lá.
Como mestre do cinema de terror, quais são seus maiores medos?
Já me perguntaram muito isso (risos). Eu não tenho mais medo do que as outras pessoas e não tenho fobia específica. Tenho medos normais que alguém me ataque ou de adoecer. Mas nenhum medo em particular, apenas aqueles temores simples que às vezes ocorrem, nada muito grandioso. Mas, dependendo de como conto as histórias, os medos podem tornar-se enormes e é isso que me inspira para contá-las.
PERGUNTA PARA ASIA ARGENTO
Recentemente, você falou sobre o desejo de deixar a carreira de atriz, o que você quis dizer com isso?
Quando estamos praticando um ofício por tanto tempo, precisamos parar um pouco para retornar com a paixão renovada e vontade de fazer as coisas novamente. Então é um grande privilégio poder trabalhar agora com algo tão incrível e realmente investir no significado disso e não realizar alguma coisa apenas por dinheiro.