Quando ‘Beco do Pesadelo’ (‘Nightmare Alley’), o novo filme de Guillermo del Toro (do ganhador do Oscar ‘A forma da água’), estreou nos EUA, foi um tremendo fracasso (não fez nem US$10 mi, tendo custado quase dez vezes isso). Achei estranho. Já que o filme original, de 1947 (o noir ‘O beco das almas perdidas’), no qual este se baseia, tem uma ótima trama e bons (sórdidos) personagens. Agora, entendi alguns dos motivos: o filme é longo (2h30), arrastado, e tenta explicar tudo o que, no original, ficava subentendido nos detalhes. Como todo film noir que se preze.

Alguns exemplos: ele leva toda a primeira hora para explicar de onde veio o protagonista (qual a sua ‘motivação’) e mostrar coisas que o original faz em 20 minutos. E tem um meio mega arrastado, que explica, em detalhes, os truques e golpes do vidente de araque, nos tirando as surpresas! Como que subestimando o poder de dedução das plateias atuais. No fim das contas, as explicações resultam em enrolações e diálogos infindáveis que dão sono. Uma pena.

A trama, que envolve um camarada de passado obscuro, Stanton Carlisle (Bradley Cooper, mal escalado, renderia melhor com Leonardo DiCaprio, que recusou o papel), mostra o que um ser humano pode fazer para ganhar dinheiro e se dar bem na vida. Stanton, após aprender os truques/códigos da ‘mentalista’ do mafuá onde trabalha (Toni Collette), foge com a mocinha (Rooney Mara) e vai tentar carreira solo, como ‘advinhador’ de boates e hotéis de luxo. Tudo vai bem, até que ele conhece psiquiatra (Cate Blanchett, femme fatale de primeira) que pode lhe entregar segredos de seus clientes, para que, assim, ele possa usar em seus truques/golpes.

O foco, na trama original, é mostrar que o ser humano é capaz de tudo para se dar bem. GDT explora isso. Só que de forma muito explicada e alongada, não dando chance para a sutileza. Além do mais, seu mafuá é um bocado bem produzido e cheio de CGI (deu saudade da série do HBO, ‘Carnivale’, que mostrava esse universo de forma bem mais realista). E seu noir colorido cansa. Apenas o violento final sacode a plateia.

Ainda que GDT tenha feito uma adaptação do livro onde o filme original se baseou (embora tenha cenas e diálogos idênticos e adicione sexo e violência mais escancarados) e saiba como filmar e dirigir, ele mostra nesta revisão – cara e repleta de astros ganhadores ou indicados ao Oscar -, de ‘Nightmare Alley’, que sua praia é mesmo o cinema fantástico (vide os ótimos ‘O labirinto do Fauno’ e ‘Hellboy’). Vamos ver se com a sua versão dark de ‘Pinóquio’ (que estreia este ano), feita em animação stop-motion, ele se sai melhor. Afinal, estará de volta ao seu ambiente, que é o cinema fantástico, onde manda bem.

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