CINEMA
'Marighella' tem lançamento agendado nas telas brasileiras
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 21/10/2021 às 12:16
Alterado em 21/10/2021 às 12:21
“Marighella”, de Wagner Moura, que marca a estreia do ator na direção, teve sua primeira exibição em Berlim, um dos festivais mais importantes do mundo. Era a quarta vez do ator na Berlinale, onde já tinha estado com os filmes “Tropa de Elite” (2008), como o Capitão Nascimento, e que ganhou o Urso de Ouro, “Tropa de Elite 2” (2011) e “Praia do Futuro” (2014, de Karim Aïnouz, que também concorreu ao Urso).
O filme teve uma concorrida noite de gala no evento, onde foi apresentado fora de competição.
Desde então os realizadores vinham se esforçando para o lançamento no Brasil, o que finalmente acontece agora no próximo dia 4/11, depois de passar por importantes festivais mundo afora. Além de Berlim, Seattle, Hong Kong, Sidney, Santiago, Havana, Istambul, Atenas, Estocolmo, Cairo. Entre cerca de 30 exibições em países dos cinco continentes, terá também pré-estreias a partir do dia 1º de novembro em todo o Brasil.
Moura, bastante conhecido internacionalmente (graças inclusive ao Pablo Escobar que protagonizou duas temporadas de “Narcos”), acertou em cheio quando escolheu para sua estreia como cineasta a trajetória de Marighella (1911-1969), conterrâneo de Escobar.
Marighella estava entre dois polos e não tinha muito tempo para ter medo: de um lado, uma violenta ditadura, de outro, uma esquerda intimidada. Cercado por guerrilheiros 30 anos mais novos e dispostos a reagir, o líder revolucionário escolheu a ação.
Com locações na Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, o filme é uma cinebiografia sobre o guerrilheiro baiano que lutou contra a ditadura militar. Morto numa emboscada em 1969, Marighella criou o grupo de guerrilha urbana ALN (Ação Libertadora Nacional), comandou greves e foi detido por escrever poemas políticos.
O elenco, que tem Seu Jorge no papel de Marighella, conta ainda com Adriana Esteves (Clara, sua esposa), Bruno Gagliasso, Luiz Carlos Vasconcellos, Herson Capri, Humberto Carrão, Bella Camero, Ana Paula Bouzas, Carla Ribas, Jorge Paz, entre outros.
A vida pessoal é contada no tempo da própria narrativa, seguindo dois eixos: a angústia que o separa do filho Carlinhos, e a aflição de Clara, de quem Marighella também se afasta por conta das perseguições políticas.
O roteiro foi escrito por Wagner e Felipe Braga a partir da biografia homônima do jornalista Mario Magalhães (“O guerrilheiro que incendiou o mundo”, Companhia das Letras, 2012).
Na coletiva após a projeção em Berlim, Moura disse que ficou muito feliz de ter feito o filme: “Ele não é uma resposta a nenhum governo em particular, é maior do que isso. Mas claro que qualquer obra de arte precisa ter um diálogo com seu próprio tempo. Então o modo como o filme será recebido não pode ser desvinculado da realidade atual”, ressaltou na ocasião, acrescentando que é também um filme sobre resistência.
“Marighella não é um documentário, é um filme sobre a história do meu país”, complementou.
Falando sobre a questão do financiamento, lembrou a dificuldade de conseguir recursos para qualquer projeto que seja controverso: “Não foi fácil financiar um filme sobre um guerrilheiro que era visto como revolucionário por um lado e terrorista por outro”, afirmou.
Respondendo a uma pergunta sobre o foco na relação de Marighella com seu filho Carlinhos, disse que esse era um ponto importante. “O filme é também sobre o sacrifício, pai e filho se sacrificando. É sobre o amor e o sacrifício”, enfatizou.
Moura disse que não se considera propriamente um diretor. “Sou um ator que fez um filme, mas certamente quero repetir a experiência algum dia. A parte de estar no set, trabalhar o roteiro, definir a linguagem e inspirar as pessoas a ver o mesmo que vemos não foi complicada. Procuramos trabalhar o mais próximo possível”, contou.
Seu Jorge, por sua vez, que também esteve presente na coletiva, disse que “Marighella” é um filme que fala da luta pela liberdade e pelo progresso e das lutas em geral do povo brasileiro marcado pela superação.
“Fiquei muito orgulhoso de ter feito o filme. Me preparei muito, li o livro que foi escrito sobre ele e outros. O desafio de recontar esta parte da história do Brasil significou muito para mim”, afirmou o ator.
Ao final, Moura disse estar ansioso para o lançamento no circuito brasileiro. “Gostaria de lançá-lo logo no Brasil, exibir na Bahia – mostrá-lo, por exemplo, em áreas pobres”, detalhou o consagrado ator que precisou esperar dois anos e 9 meses para então dividir seu impactante filme com os espectadores brasileiros.