CINEMA

‘Tais & Taiane’, de Augusto Sevá, estreia nos cinemas nessa quinta

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 12/10/2021 às 11:13

Alterado em 12/10/2021 às 11:24

Augusto Sevá Foto: Pandora Filmes – Divulgação

“Tais & Taiane”, novo filme de Augusto Sevá, é um road movie sobre amizade e tolerância entre duas garotas e seus sonhos.

Durante uma viagem, sem saber até para onde ou como prosseguir, as duas jovens não têm em quem se apoiar a não ser uma na outra. Cada uma com suas ingenuidades e modo de ser precisa enfrentar as pedras do caminho.

Como detalha o diretor, o filme é a materialização de um velho sonho de reviver o universo estradeiro que experimentou na juventude: da solidão e das intolerâncias, mas também da solidariedade que nasce em encontros e amizades fortuitas ou perenes.

O filme se passa em três dias de poeira, sol, sede, medos e assédios. No acostamento, nos bares, nos postos, caminhando ou nas caronas dos automóveis, motos e caminhões, dormindo ao relento, em cavernas ou entre ferragens e pneus, numa paisagem bela e inóspita.

São duas jovens garotas, muito diferentes entre si, obrigadas a conviver em um ambiente inóspito, de carona em carona. Tais sabe o que quer, Taiane quer apenas sobreviver. Mas até que ambas encontrem seus destinos, viverão por três dias uma aventura inesquecível.

O filme já passou por festivais nos EUA, Europa e Ásia, tendo feito enorme sucesso no Indian Cine Film Festival, em Mumbai, onde Gabriella Vergani e Yasmim Santos dividiram o prêmio de melhor atriz.

Sevá, 67 anos, paulista de Campinas, iniciou na profissão em 1975, dedicando-se tanto ao documentário quanto ao cinema ficcional. A partir de roteiros originais de sua autoria, o cineasta produz e dirige seus filmes que participaram e foram premiados nos principais festivais brasileiros e internacionais, como os de Locarno, San Sebastian, Berlim, Paris, Shangai, Valência, Bombaim, Cleveland, Caribe e Roma. O cineasta exerce seu ofício também como gestor, tendo sido diretor da Ancine e secretário-executivo da Comissão Estadual de Cinema de São Paulo.

Em entrevista exclusiva ao Jornal do Brasil, Sevá falou do filme, da motivação para realizá-lo, do viés biográfico e, em tom algo poético como é seu feitio, concluiu expressando sua teimosia de continuar exercendo com liberdade aquilo em que acredita.

 

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Yasmim Santos, como Taiane, e Gabriella Vergani no papel de Tais (Foto: Pandora Filmes – Divulgação)

 

JORNAL DO BRASIL: Sabe-se que todo filme tem motivações para ser realizado. Mas sempre tem aquela maior que dá o impulso. No caso de “Tais & Taiane”, qual foi?

AUGUSTO SEVÁ: A motivação principal foi abordar o tema da intolerância. Tentar compreendê-la é fundamental para o exercício do cotidiano, das relações pessoais e sociais. Ela nasceu junto com a vida em coletividade. Alimenta-se das diferenças e da diversidade, não como a riqueza de nossa espécie, mas reduzindo-a a fonte de disputas e afirmação de poderes. Sempre houve, mas com a universalização e instantaneidade das informações, encontrou terreno fértil, fortaleceu-se e propiciou que grupos se unam em torno de suas crenças e busquem aniquilar os diferentes. E por ela vivemos hoje uma guerra generalizada entre todos e o desafio de tentar desfazê-la.

Podemos concluir que o filme tem algo de biográfico?

Viajei grande parte do Brasil, de carona em carona, na minha juventude. Com quase nada no bolso e muita vontade de conhecer lugares, paisagens, pessoas e culturas. No acostamento da estrada, você não é nada nem ninguém, sua âncora é apenas uma, você. É uma fantástica experiência de autoconhecimento e de sua capacidade de se resolver, de sobreviver. É conhecer o mundo e as pessoas sem nenhum filtro. Mesmo tendo um caráter onírico, o filme partiu deste mundo: dos caminhoneiros, das borracharias, do sol escaldante no acostamento, dos postos, da sede, dos puteiros e botecos onde circulam e sobrevivem as Taianes e as Taises.

O que influiu na decisão de realizar a trama em 3 dias?

Tais e Taiane são garotas muito diferentes, nas origens e no comportamento. Nem tanto, nos sonhos. Uma é do asfalto, outra do concreto. De início, não se aceitam, mas no enfrentamento das dificuldades e pressões externas, vão encontrando suas convergências, sendo mais tolerantes. Para isso, bastaram os três dias e as três noites bem vividos.

Seus filmes – exibidos e premiados em vários festivais – têm sempre uma identificação imediata com os espectadores. É uma coisa natural, tem algum segredo? Enfim, como consegue isso?

Os poucos cinco longas-metragens que dirigi são o reflexo das minhas experiências de vida e profissional. Não adaptei textos de outros. Escrevo, produzo e dirijo. Procuro obsessivamente um apuro técnico e dramatúrgico, e que o resultado seja agradável de assistir. Mas não fiz nenhum filme de grande sucesso. “Tais & Taiane” foi bem no exterior, por onde começou. Cinco prêmios bem bacanas e propostas de aquisição. Inesperadamente, uma aceitação excepcional na Índia, cultura pela qual tenho grande admiração. Mas não há nenhum segredo ou coelho na cartola, apenas uma teimosia em continuar exercendo com liberdade aquilo em que se acredita.

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