CINEMA
Novo filme de Karim Aïnouz é ovacionado em Cannes
Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 10/07/2021 às 11:08
Alterado em 10/07/2021 às 11:45
“O Marinheiro das Montanhas”, de Karim Aïnouz, teve première mundial nessa sexta feira (9), na prestigiada “Sessões Especiais” da 74ª edição do Festival de Cannes.
Acompanhando de sua equipe, Aïnouz abriu a sessão com um discurso em que chamava a atenção para o grave estado em que o Brasil se encontra por conta das ações do governo federal:
“Não posso deixar de lembrar que, enquanto estou aqui celebrando com vocês, milhares de brasileiros estão morrendo por absoluto descaso deste governo fascista na condução da pandemia. A democracia brasileira respira por aparelhos. Parece que falar do Brasil hoje é falar de um ente querido que está entre a vida e a morte. O mundo precisa agir urgentemente para frear este governo, cuja maior especialidade é destruir e matar deliberadamente. Além das mais de 500 mil mortes com a covid, muitas outras vidas foram perdidas por responsabilidade direta desta necropolítica. Como acontece em governos autoritários, os artistas, a ciência e as universidades públicas foram os primeiros a ser atingidos. A produção cultural em todo o país está quase totalmente paralisada, em um ato calculado de destruição imposto pelo governo federal. Hoje o cinema brasileiro e toda a sua imensa cadeia produtiva enfrentam o desafio de sobreviver neste cenário” , discursou o diretor.
“O Marinheiro das Montanhas” revisita as origens do cineasta a partir da relação entre seus pais, uma brasileira e um argelino. É um diário de viagem filmado na sua primeira ida à Argélia.
O filme é narrado por Karim, que lê uma carta para sua mãe, Iracema, já falecida, transformada em uma companheira imaginária de viagem. Enquanto relata e comenta episódios da jornada, ele reativa memórias familiares e revela os muitos sentimentos contraditórios que marcam o seu percurso. O longa faz uma costura fina entre a história de amor dos pais do diretor, a Guerra da Independência Argelina, memórias de infância e os contrates entre Cabília (região montanhosa no norte da Argélia) e Fortaleza, cidade natal de Karim e de sua mãe. Passado, presente e futuro se entrelaçam em uma singular travessia.
Em junho último, quando a seleção do filme foi anunciada, na entrevista exclusiva ao JORNAL DO BRASIL Aïnouz havia dito que, de alguma forma, “O Marinheiro das Montanhas” é seu primeiro filme.
“O filme que sempre sonhei em fazer e que só consegui realizar muitos anos depois. Essa história de amor entre os meus pais habitou meu imaginário desde que eu me entendo por gente e, de alguma forma, transformá-la em filme foi o que me levou para o cinema”, revelou o cineasta na ocasião, complementando agora com a memorável sessão de première do filme.
“Uma emoção gigante ter tido essa recepção e esses encontros que tivemos aqui hoje. O que eu poderia esperar mais de um filme do que isso? A recepção foi de um calor maior do que o calor de Fortaleza”, ressaltou o diretor após a emocionada reação da plateia que ovacionou o filme.