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Cantora Sinéad O’Connor, dona do hit ‘Nothing Compares 2 U’, morre aos 56 anos

Irlandesa havia perdido o filho adolescente no início do ano passado

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 26/07/2023 às 17:45

Alterado em 26/07/2023 às 21:49

Sinéad O’Connor fez sucesso na década de 90 Foto: Wikimedia Commons

A cantora irlandesa Sinéad O’Connor, intérprete do hit 'Nothing Compares 2 U', morreu nesta quarta-feira, aos 56 anos. A informação foi confirmada pela família, mas a causa da morte ainda não foi revelada.

"É com muita tristeza que comunicamos o falecimento de nossa querida Sinéad. Família e amigos estão devastados e pediram privacidade neste momento tão difícil", disse a família da artista, em nota.

O’Connor, que alcançou a fama a partir de 1990, falava abertamente - e por décadas - sobre a luta que travava contra doenças mentais, probrema agravado em 2022, após o suicídio de seu filho Shane, de 17 anos. Ela disse se culpar pela morte do adolescente, que estava internado em um centro de tratamento para saúde mental. O jovem fugiu do hospital em que estava sob observação justamente para evitar que atentasse contra a própria vida.

Na ocasião, pelo Twitter, a cantora declarou que Shane "decidiu encerrar sua luta terrena" e ameaçou processar o hospital. Shane é filho da cantora com o ex-marido, o cantor folk Donal Lunny. Na ocasião, ela cancelou todos os shows do ano por causa da perda.

Esta não foi a única tragédia que a cantora enfrentou durante a vida. No livro Rememberings, de 2021, ela falou sobre a infância traumática e violenta, com episódios de abusos sexuais cometidos pela mãe. De acordo com a revista People, após os pais se divorciarem quando criança, a mãe dela Marie “não estava bem” e a espancava diariamente, por vezes no abdômen.

“Minha mãe tinha essa obsessão de destruir meu útero”, disse a cantora à publicação.

O’Connor ainda era conhecida como uma militante pelos direitos das mulheres e crítica a abusos religiosos, como a pressão pela proibição do aborto.

Carreira

Sinead O’Connor nasceu em Dublin, na Irlanda, em 1966. A cantora começou a carreira musical em 1987, com o álbum The Lion and the Cobra, tendo se apresentado, nessa época, em diversos países da Europa, ganhando visibilidade e alguma notoriedade.

Foi seu segundo trabalho, o disco I Do Not Want What I Haven’t Got, de 1990, que garantiu à cantora uma carreira internacional. É nele que está seu maior hit, Nothing Compares 2 U, composta por Prince. A canção fez com que o álbum atingisse a primeira posição entre os mais vendidos em inúmeros países. E o vídeo da música no YouTube tem quase 400 milhões de visualizações.

Em 1992, ela lançou o terceiro álbum de estúdio, intitulado "Am I Not Your Girl?”. Foi neste mesmo ano que a carreira ficou marcada por uma polêmica. O’Connor rasgou uma foto do papa João Paulo II durante uma apresentação no Saturday Night Live, em que cantou a música War, que critica preconceitos e desigualdades sociais.

A cantora, que já tinha relatado professar a fé católica, disse ter rasgado a foto do papa em protesto contra as denúncias de abuso sexual a clérigos da Igreja. Na época, a instituição passava por uma crise, com bispos e membros do alto escalão do Vaticano sendo denunciados.

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Irlandesa raspava o cabelo como 'protesto' desde o início da carreira (Foto: Reprodução/Facebook)

Sua carreira musical ainda inclui o álbum Universal Mother, lançado em 1994, que contém a faixa Fire On Babylon, que fala sobre abuso sexual infantil. Em seguida, veio o EP Gospel Oak, que tem seis músicas dedicadas aos povos de Ruanda, Israel e Irlanda.

Depois de uma pausa na carreira, em 2000, lançou ao disco Faith and Courage, dois anos mais tarde, foi a vez de Sean-Nós Nua, que traz canções folclóricas irlandesas. Em 2003, lançou She Who Dwells in the Secret Place of the Most High Shall Abide Under the Shadow of the Almighty, um disco duplo coletânea com um registro ao vivo e outro com faixas raras e covers.

O'Connor recebeu o prêmio inaugural de Álbum Irlandês Clássico no RTÉ Choice Music Awards no início deste ano. Segundo o Irish Times, na ocasião, ela foi aplaudida de pé ao dedicar o prêmio, por "I do not want what I haven't got", a “todo e qualquer membro da comunidade de refugiados da Irlanda”.

No total, ela tem dez álbuns de estúdio gravados e planejava lançar um novo trabalho em breve. Ela também faria uma turnê por Oceania, Europa e Estados Unidos a partir do ano que vem.

Mais polêmicas religiosas

A polêmica com o papa não foi a única vez em que a artista se envolveu com uma crise na Igreja Católica. Em 1999, ela foi nomeada sacerdotisa da Igreja Independente Católica, na França. A cantora foi excomungada e sua ordenação revogada, já que a Igreja Católica não permite que mulheres seja sacerdotisas.

Em 2018, a cantora se converteu ao Islamismo e também revelou ter mudado de nome, passando a chamar-se Shuhada’ Davitt. No mesmo ano criou mais polêmica ao dizer que não queria mais estar perto de pessoas brancas. “Em momento nenhum, por nenhuma razão. São nojentas”, disse em uma publicação no Twitter. No ano seguinte, ela chegou a acusar Prince de ter tentado agredi-la.

O corte de cabelo

Na adolescência, Sinead estava trabalhando no disco "The Lion and the Cobra", seu álbum de estreia lançado em 1987, quando foi convidada pelo Nigel Grainge, um executivo de sua gravadora, para almoçar. Ele pediu que ela deixasse o cabelo curto crescer e se vestisse mais como uma menina. A jovem que estava começando na música foi até o cabeleireiro e raspou a cabeça. Corte que ela manteve por muitos anos.

Em 2011, ela voltou ao noticiário internacional por aparecer com um visual diferente. Durante um show que fez no Manchester International Festival, na cidade inglesa, Sinéad apareceu com as madeixas curtas. Entretanto, o corte raspado voltou a ser sua preferência e se manteve até o fim de sua vida.