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Auto da Compadecida, a Ópera, em turnê nacional
Por CADERNO B
cadernob@jb.com.br
Publicado em 23/05/2023 às 12:58
Alterado em 23/05/2023 às 12:58

Alana Gandra - Depois de estrear com sucesso no ano passado nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, a Orquestra Ouro Preto (OOP) começa nesta terça-feira (23) uma turnê nacional de Auto da Compadecida, a ópera, montagem para o texto de Ariano Suassuna. A primeira apresentação será em na capital paraense, Belém, passando em seguida por Belo Horizonte, Manaus e Rio de Janeiro.
Escrito por Suassuna em 1955, o texto é considerado uma obra-prima pelo professor de Literatura da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Luiz Ricardo Leitão. “Primeiro, porque ele sabe conjugar toda a herança ibérica com os elementos nativos, até de outras matrizes religiosas. O tema e a linguagem de que ele se vale recolhem a influência ibérica mas, ao mesmo tempo, trabalham como ela foi processada aqui, que é o cordel, a fabulação do artista popular nordestino. Esse é o primeiro mérito dele, que vai reunir o popular e a tradição ibérica na mesma obra”, disse Leitão.
A obra se destaca também, segundo o professor da Uerj, por desenvolver características caricatas e criativas de personagens que, não obstante sua parca condição social, caso dos personagens principais Chicó e João Grilo, fazem contraponto com o poder da Igreja, representado pelo bispo e pelo padre da cidade, além da figura do coronel.
“Temos ainda essas representações sendo ludibriadas, dribladas pela astúcia do personagem aparentemente simplório, mas que sabe dar a volta nas figuras hegemônicas dos poderes da cidade. Isso é muito interessante.”
Na avaliação do professor Luiz Ricardo Leitão, o texto retrata a astúcia para sobreviver à desigualdade e à opressão, seja de que tipo for. Além desses aspectos, a obra traz a comédia de erros, que é uma tradição do teatro de costumes brasileiro que vem desde o século 19 e sobre o qual Ariano Suassuna trabalhou.
Autor
Ariano Vilar Suassuna nasceu em João Pessoa, em de 16 de junho de 1927 e morreu em Recife, no dia 23 de julho de 2014. Foi um intelectual, escritor, teórico da arte, dramaturgo, romancista, ensaísta, poeta, artista plástico, professor, advogado e palestrante brasileiro.
Idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida (1955) e Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971), Suassuna foi um incansável defensor da cultura do Nordeste do Brasil e um dos maiores expoentes da literatura brasileira.
Em 2012, foi indicado pela Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal como representante do Brasil na disputa pelo Prêmio Nobel de Literatura.
Turnê
A turnê do Auto da Compadecida, a ópera começa nesta terça (23), no Theatro da Paz, em Belém (PA). Nessa quarta (24) haverá uma segunda apresentação no mesmo local. Os ingressos já estão esgotados para as apresentações na capital paraense.
A ópera tem música original do compositor Tim Rescala, que assina o libreto com o maestro Rodrigo Toffolo, também responsável pela concepção e direção musical do espetáculo. Para o maestro, o desafio de adaptar o texto de Suassuna, que já teve inúmeras montagens no teatro, foi quase um presente.
"Foi uma felicidade muito grande a gente ter tido essa oportunidade. Foi um aprendizado poder trabalhar e adaptar o texto para ópera, para dar uma vida, uma energia diferente para uma obra brasileira e tão nossa”.
Esta é a segunda temporada da ópera, que vai em seguida para Belo Horizonte, nos dias 13 e 14 de junho, com apresentações no Palácio das Artes e ingressos a preços de R$ 40 e R$ 80. Em seguida, o espetáculo chega ao Teatro Amazonas, em Manaus, nos dias 24 e 25 de junho, com ingressos entre R$ 25 e R$ 80.
A turnê termina no Rio de Janeiro, no dia 15 de julho, com uma super montagem gratuita no Posto 2 da Praia de Copacabana, zona sul da capital fluminense, às 17h30.
Orquestra
No ano de 2000, o músico Rufo Herrera e o produtor Ronaldo Toffolo, associados a um grupo de instrumentistas que integravam o grupo Trilos e o Quarteto Ouro Preto, criaram a Orquestra Experimental da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), hoje Orquestra Ouro Preto. O diretor artístico e regente titular é o maestro Rodrigo Toffolo.
A atuação da OOP é marcada pelo experimentalismo e ineditismo. O grupo já se apresentou nas principais capitais do país e no exterior, com presença de grande público em apresentações na Inglaterra, Portugal, Espanha, Argentina e Bolívia. (com Agência Brasil)