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‘Abestalhados 2’, uma hilária aventura no Festival do Rio

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Por MYRNA SILVEIRA BRANDÃO
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Publicado em 08/10/2022 às 16:30

O cineasta Marcos Jorge Foto: Fábio Braga

"Abestalhados2", de Marcos Jorge e Marcelo Botta, é um dos títulos da Prèmiere Brasil Hors Concours do Festival do Rio. O filme segue Paulo Carmo (Paulinho Serra), Manuel Oliveira (Raul Chequer), Eric Rios (Leandro Ramos) e Alex Balas (Felipe Torres), quatro amigos que têm o sonho de fazer um filme de ação e aventura. Para isso têm também o desafio de superar vários obstáculos, e embarcam numa hilária aventura em busca do reconhecimento e do sucesso. “Abestalhados 2” mostra também que a dedicação e a amizade podem superar muitas dificuldades.

Marcos Jorge, além de diretor, é roteirista, fotógrafo, e curador. Seu primeiro longa-metragem de ficção, “Estômago”, foi exibido no Festival de Berlim em 2008 e, entre outros, ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de melhor filme e audiência. Após realizar outros filmes de ficção, dirigiu em 2022 a série documental “O caso Celso Daniel”.

Marcelo Botta, por sua vez, além da codireção de “Abestalhados 2”, dirigiu a série para televisão “Auto posto” e “Viajo, logo existo”, entre outras.

Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, Marcos Jorge falou sobre a proposta inovadora de “Abestalhados 2”, as razões para mesclar atores e gêneros e sua expectativa quanto à receptividade do público para o filme.

 

JORNAL DO BRASIL - O filme tem uma proposta bastante inovadora. Como surgiu a ideia?

MARCOS JORGE - A centelha que deflagrou o filme foi uma conversa minha com a produtora Cláudia da Natividade, em que dizíamos que deveríamos fazer uma comédia popular, mas do nosso jeito. A Cláudia então saiu-se com a piada de, neste caso, fazer logo o filme 2, uma continuação, justamente para ficar mais parecido com as comédias que fazem sucesso no Brasil. Apesar de ter sido dita como uma piada, imediatamente percebemos que havia algo ali, algo de muito engraçado, e que falava de nós, que tentamos fazer cinema no Brasil. Cláudia ficou com aquilo na cabeça, e dias depois saiu-se com um título: Abestalhados 2, um título que ela queria também parecido com os das comédias populares. Disso, desta premissa (fazer logo o 2) e dum título, nasceu o projeto, que foi desenvolvido por mim e pelo Marcelo Botta, com a importante parceria do Pedro Leite e do Gabriel di Giacomo. E desde o começo nossa proposta foi fazer de nós mesmos, cineastas (e por cineastas entendo todos nós que fazemos “cinema”, inclusive quem escreve sobre), o foco das piadas do filme. Até porque entendemos que, em tempos como o que vivemos hoje, a piada voltada ao outro deixou de ser engraçada, e só rindo de nós mesmos, de nossos defeitos e idiossincrasias, é que se pode fazer um humor moderno e atual.

 

Para fazer o filme vocês mesclaram não só atores de vários veículos – teatro, televisão, cinema – mas também gêneros. Qual a principal intenção? Unificar a arte, homenagens... ?

“Abestalhados 2” tenta encontrar formas inusitadas de fazer graça e em função disso recorre a muitos estilos e gêneros (en passant, é a primeira “comédia de ação” de verdade já feita no Brasil). Com os atores não poderia ser diferente. Deliberadamente pensamos o roteiro de modo que ele incluísse muitas participações especiais, e ao escolhê-las pensamos justamente nisso que você bem notou: variedade de origens. Claro que tivemos também um desejo de homenagear a grande tradição cômica de nosso país, da qual somos todos devedores quando fazemos comédia.

 

“Estômago” teve um grande sucesso em Berlim/2008 e identificação com o público. E assim são seus outros trabalhos. Como consegue manter essa sintonia?

Meu desejo é e sempre foi fazer filmes para um público o mais amplo possível, filmes que pudessem falar ao coração de todas as pessoas, e fazer isso com histórias inteligentes e significativas. Este objetivo pressupõe coisas difíceis de conciliar, como clareza narrativa e complexidade dramática. Você me diz que algumas vezes este desejo se realizou em meus filmes, e isso me deixa muito feliz, especialmente porque são muitos os passos para se conseguir isso, e tantas as possibilidades de tropeços pelo caminho. Talvez a coisa mais importante, que nunca perdi de vista, é jamais subestimar a inteligência do público.

 

E agora com esse novo filme? Qual sua expectativa com o público?

Em tempos de streaming dominante fica cada vez mais difícil avaliar a reação do público aos filmes que estamos fazendo. A janela dos cinemas vai ficando cada vez mais estreita e isso é muito triste; somente nela, neste confronto cara a cara propiciado pelo cinema, que realmente conseguimos entender o efeito das histórias que contamos. No streaming nossos filmes podem fazer milhões de espectadores, mas deles não vemos nem os risos nem as lágrimas, e mesmo quando conseguimos entender algumas reações pelas redes sociais, trata-se de reações desprovidas daquele calor pós-projeção, aquele entusiasmo com que às vezes somos brindados pelas pessoas que gostam de nossos filmes logo após vê-los na tela grande. Então, em tempos recentes, tendo a moderar minhas expectativas nos lançamentos e apostar mais na “carreira longa” dos filmes, que sempre encontram um jeito de serem vistos e chegar ao seu público.

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