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Pinakotheke SP lança a sagrada geometria de Rubem Valentim em exposição e livro

Para celebrar o centenário desse extraordinário artista, que fez do sagrado sua vida e obra, será lançado um livro com 292 páginas, com consultoria de Bené Fonteles, amigo mais próximo e que acompanhou por duas décadas Rubem Valentim, nascido em Salvador, em 9?de novembro de 1922, e falecido em São Paulo, em 30 de janeiro de 1991

Por CADERNO B, [email protected]
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Publicado em 30/06/2022 às 16:15

Rubem Valentim - Sem título, 1962, óleo tela 70,0 x 50,0 cm Foto: divulgação

A Pinakotheke São Paulo lançará nesse sábado (2), às 11h, o livro “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” (Edições Pinakotheke), bilíngüe (port/ingl), com 292 páginas, em formato 21 x 27cm, apresentação de Max Perlingeiro, e texto de Bené Fonteles, amigo mais próximo e que acompanhou por duas décadas Rubem Valentim, extraordinário artista, que fez do sagrado sua vida e obra. O livro, que celebra o centenário de Rubem Valentim, contém ainda depoimentos sobre o artista e sua obra escritos por personalidades da arte como Ferreira Gullar, Giulio Carlo Argan, Theon Spanudis, Roberto Pontual, Clarival do Prado Valladares e Emanoel Araújo.

Com edição de Camila Perlingeiro e coordenação geral de Luli Hunt, a publicação busca preencher uma lacuna na história da arte sobre este grande artista, e foi possível graças ao patrocínio do Itaú Cultural, a partir da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Secretaria de Cultura/Ministério do Turismo). “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” poderá ser encontrado nas sedes da Pinakotheke, em São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza, nas livrarias e plataformas de livros na internet. O preço é R$ 120.

Para marcar o lançamento do livro, a Pinakotheke São Paulo faz a exposição “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, com perto de 100 trabalhos do artista, em pinturas e desenhos, e ainda seus “objetos”, com pintura sobre madeira. A curadoria é de Max Perlingeiro com consultoria de Bené Fonteles. Será exibido, em looping, o vídeo “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria”, feito especialmente para a ocasião, com 28’15 de duração, direção de Max Perlingeiro, edição de Fabricio Marques, narração de Bené Fonteles e fotografia de Andre Caliento Barone.

 

Macaque in the trees
[Rubem Valentim] Publicação conta com depoimentos sobre o artista e sua obra escritos por diversas personalidades da arte (Foto: reprodução do livro)

 

 

ENSAIO FOTOGRÁFICO DE CHRISTIAN CRAVO

Estará também na exposição um ensaio fotográfico de Christian Cravo do “Templo de Oxalá”, conjunto com 20 esculturas e 10 relevos criado em 1974 por Rubem Valentim, pertencente ao Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador.

 

SIMBOLOGIA MÁGICA

Nascido em Salvador, em 9 de novembro de 1922, e falecido em São Paulo, em 30 de janeiro de 1991, “Valentim queria essa conexão sagrada em complementação com a estética. Rubem Valentim é um artista essencial para uma melhor compreensão da tradição afro-brasileira; e Bené Fonteles, seu principal estudioso e interlocutor por sua conexão espiritual”, escreve Max Perlingeiro no texto “Um artista sacerdote”, na apresentação do livro. “A pedido do artista, Bené torna-se o Ogã (palavra que vem do iorubá e significa ‘Senhor da minha casa’) do terreiro de Valentim. Aquele que cuida de sua vida e, em consequência, de sua obra. É mais um caso de amizade que a Pinakotheke torna visível!”, destaca Max, responsável pelo planejamento e organização da publicação e curador da exposição.

Giulio Carlo Argan (1909-1992), o grande teórico da arte que conviveu com o artista no início dos anos 1960, durante sua estada em Roma, escreveu sobre ele: “Os seus signos são deduzidos da simbologia mágica que se transmite com as tradições populares dos negros da Bahia. A evocação destes signos simbólico-mágicos não tem, entretanto, nada de folclorístico. É necessário expor, antes, que eles aparecem subitamente imunizados, privados das suas próprias virtudes originárias, evocativas ou provocatórias: o artista os elabora até que a obscuridade ameaçadora do fetiche se esclareça na límpida forma do mito. Decompõe-nos e os geometriza, arranca-os da originária semente iconográfica; depois os reorganiza segundo simetrias rigorosas, os reduz à essencialidade de uma geometria primária, feita de verticais, horizontais, triângulos, círculos, quadrados, retângulos; enfim, torna-os macroscopicamente manifestos em acuradas, profundas zonas colorísticas, entre as quais procura precisas relações métricas, proporcionais, difíceis equivalências entre signos e fundo”.

“O que a sua pintura, em última análise, quer demonstrar é que nas atuais concepções do espaço e do tempo os símbolos e os signos de uma experiência antiga, ancestral, conservam uma carga semântica não inferior à geometria pitagórica ou euclidiana”, continua Argan. “O seu apelo à simbologia mágica não é, portanto, o apelo à floresta; é, talvez, a recordação inconsciente de uma grande e luminosa civilização negra anterior às conquistas ocidentais. Por isso, a configuração de suas imagens é também mais claramente heráldica e emblemática do que simbólico-mágica”.

 

Macaque in the trees
Rubem Valentim - Objeto emblemático 1, 1969, óleo madeira 152,0 x 102,5 x 25,0 cm (Foto: divulgação)

 

MELHOR SÍNTESE SINCRÉTICA 

Paraense nascido em 1953, artista plástico e poeta, Bené Fonteles destaca que Rubem Valentim “talvez seja o artista que fez melhor e mais intensamente a síntese sincrética em todas as Américas afetadas por uma colonização brutal que ainda atormenta a consciência no século 21”. “Artista extraordinário que decodificou, durante cinco décadas, a herança mestiça na busca obsessiva de um fazer sempre leal sua ‘riscadura e sentir brasileiros’, atravessado por propósitos de uma rigorosa e radical artesania”. Ele comenta que Rubem Valentim afirmava: “Fora do fazer, não há salvação”. “Esta salvação era eivada pela radicalidade de um artista-sacerdote – como ele queria ser em seu mosteiro-ateliê sonorizado pelos cantos gregorianos ou, ainda, Bach e Mozart”, observa Fonteles. “Seja em Brasília ou São Paulo, desenvolvia seu projeto inspirado por sua vocação construtiva vinda da tradição milenar de nossa arte ameríndia assim como dos povos que atravessaram o Atlântico em meio a toda dor e a redimiram num raro projeto cultural e espiritual sem paralelo no mundo. Valentim é produto vital desse ser mestiço que nos tornamos”.

 

COLEÇÕES E LOCAIS PÚBLICOS

Em 1963, estava sendo criado o Museu de Arte Moderna de Roma, que adquiriu três obras de Rubem Valentim. Em Roma, a Galleria Nazionalle d’Arte Moderna e o Palácio Doria Pamphili também têm obras do artista. Outras instituições na Europa com trabalhos de Rubem Valentim são o Museu de Arte Moderna de Paris, e o Museu de Arte e História de Genebra, na Suíça. O Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), nos EUA, e Museu de Arte de Ontário, no Canadá, têm obras do artista. Na África, há obras de Rubem Valentim no Museu de Arte de Lagos, na Nigéria, e no Museu de Arte de Marrakech, no Marrocos.

No Brasil, coleções e locais públicos onde podem ser vistas obras de Rubem Valentim: em São Paulo – Biblioteca Municipal Mário de Andrade, Centro Cultural São Paulo, Museu Afro-Brasil, Museu de Arte Contemporânea da USP, Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte de São Paulo, Pinacoteca do Estado de São Paulo, Praça da Sé, e Coleção Itaú-Unibanco. Em Brasília: Coleção de Arte do Banco do Brasil, no Centro Cultural Banco do Brasil, Palácio do Itamaraty, Palácio do Buriti, Ministério da Educação, e Secretaria da Fazenda do Distrito Federal. Em Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia. No Rio de Janeiro: Museu de Arte Moderna.

Serviço: Lançamento do livro e exposição “Rubem Valentim (1922-1991) – Sagrada Geometria” / Pinakotheke São Paulo / Lançamento e Abertura: 2 de julho de 2022, das 11h às 16h / Até 30 de julho de 2022 / Curadoria de Max Perlingeiro / Consultoria: Bené Fonteles / Rua Ministro Nelson Hungria, 200, Morumbi, São Paulo / Tel.11 3758-0546 / Segunda a sexta, das 10h às 18h / Sábados, das 10h às 16h
Entrada gratuita

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