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Duda Oliveira LEVA 'Enredados' ao Centro Cultural Correios

Com curadoria de Carlos Leal e texto crítico de Patricia Toscano, a mostra propõe narrativas poéticas emergentes sobre nosso próprio arbítrio

Por CADERNO B, [email protected]
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Publicado em 18/10/2021 às 12:39

Alterado em 18/10/2021 às 12:39

Duda Oliveira Foto: divulgação

O Centro Cultural Correios inaugura a exposição ‘Enredados’, nova individual da artista Duda Oliveira, que acontece no próximo dia 21 a partir das 17h. A mostra apresenta como resultado de sua pesquisa artística um conjunto de 12 obras composto por 6 esculturas e 6 pinturas abstratas de grandes formatos que dialogam entre a organicidade marítima e a materialidade industrial. O corpo de trabalho contextualiza as narrativas poéticas filosóficas construtivas e questiona às tramas sociais sistêmicas humanas. A exposição tem curadoria de Carlos Leal, com texto crítico de Patricia Toscano e fica em exibição até 4 de dezembro.

Filha de um pai pregoeiro de pesca e mãe bordadeira, além de sua formação artística, Duda Oliveira exerce o direito ambiental e advoga na arte intersecionando seus talentos. Sua produção artística é inspirada e influenciada pelos insights filosóficos de diversos pensadores tradicionais e contemporâneos, pelas obras de Jorge Amado, e a arte da pesca na Baía de Guanabara. Artista plástica contemporânea, niteroiense, que estudou arte experimental na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e História da Arte e da Arquitetura do Brasil, na Puc/Rio. Desde 2018 vem apresentando sua arte num ritmo intenso de exposições. Os trabalhos da artista vêm ganhando destaque nas Feiras Internacionais da Alemanha, Luxemburgo, em Salas Culturais em Portugal, nos Museus MASP, MAC Niterói, dentre outros relevantes espaços culturais no Brasil e exterior.

 

Macaque in the trees
A mostra apresenta como resultado de sua pesquisa artística um conjunto de 12 obras composto por 6 esculturas e 6 pinturas abstratas de grandes formatos (Foto: divulgação)


Em uma provocação sensível e metafórica, a artista alude a pesca de cerco com suas obras, tipo de pesca que utiliza o instrumento sarrico para formar a teia na qual o cardume não consegue desfazer e sair.

‘Enredados’ convida à reflexão sobre as redes que nos cercam, política, social, humana, digital e econômica que visam alcançar a excelência dos maiores e melhores. A reflexão é sobre o quanto nos preparamos e ansiamos estar dentro dessa sarricada como a melhor safra desse pescado, por algo ou alguém a qual nem temos consciência.

Independente das escolhas que tecem a humanidade numa costura de pertencimento entre ‘ser’ e ‘ter’, o indivíduo faz parte de um grupo onde a escolha vem antes mesmo de escolher, onde define-se antes de refletir e propor o próprio arbítrio em qualquer esfera coletiva.

Faz-se sempre esse processo de primazia e a exposição aprofunda essa reflexão ao questionar “O que seria qualificado como o melhor?”.

Na obra “Enredados”, cujo nome intitula a exposição, teoricamente encontram-se os selecionados, mas ao mesmo tempo existe uma inversão de valores do que foi priorizado. O que é seleto e bom? O que realmente nos tornamos para sermos qualificados? Estas obras da Duda Oliveira incessantemente dialogam neste universo, as obras que carregam o azul anil remetem-nos a essa ilusão. Quanto existe de pretensão mais do que realidade? O que é real e o que é desejável? O que fica no mundo da perspectiva?

“Dotada da frágil força de seu fazer artístico, emerge em alguns objetos escultóricos propositalmente surrados, o questionamento poético existencialista acerca das marcas que insistem em permanecer. Nas telas resultadas de sua potente expressão catársica pictórica a artista reflete quanto as marcas estriadas que carregam nossas histórias. Quantas marcas trazemos de nossas próprias lutas, do próprio uso, o quanto nos datamos?” diz Patricia Toscano, crítica e curadora de arte, especializada em conectar os ecossistemas da arte, tecnologia e inovação.

Em um processo experimental, Duda Oliveira mergulha tecido lona crua na Baía de Guanabara repleta de derivados de petróleo e dejetos de óleos, cujo aquecimento e alimento orgânico, estimulou a proliferação de fungos resultando em um esfumaçado plástico natural peculiar em suas pinturas. Nas esculturas, a artista ressignifica o metal naval, cimento, vergalhões e a madeira inutilizada, em boa parte das obras. Partindo destes experimentos, Duda convida o público a refletir sobre a potência existencial de vida, transformação e esperança no caos.

O questionamento se estende sobre a busca da funcionalidade nos objetos e nos humanos, do quanto ambos são explorados eternamente enquanto ainda possuem ‘utilidade’. Em contraponto o que volta para casa é a sobra, aquilo que não mais satisfaz aquele sistema. Então resta o cansaço e o que é inutilizável, tudo o que era bom e seleto ficou naquela rede.


A ARTISTA

Artista plástica contemporânea, niteroiense, que estudou arte experimental na Escola de Artes Visuais do Parque Lage e História da Arte e da Arquitetura do Brasil, na Puc/Rio. Desde 2018 vem apresentando sua arte num ritmo intenso de exposições. Os trabalhos da artista vêm ganhando destaque nas Feiras Internacionais da Alemanha, Luxemburgo, em Salas Culturais em Portugal, nos Museus MASP, MAC Niterói, dentre outros relevantes espaços culturais no Brasil e exterior.

A visão literária e poética da pesca levou a escultora Duda Oliveira a se aventurar no mundo da arte e do Direito Ambiental. A proximidade da escultora com o universo factível da pesca trazia-lhe também um forte senso de crítica social e propósitos de defesa dos valores constituídos por esse grupo. Há 20 anos ingressou na militância do Direito Ambiental, especializando-se em Sociologia Política, para empreender de forma participativa.

Com a luta e o árduo trabalho estressante na carreira de advogada veio a necessidade de uma terapia alternativa. Foi assim que a arte entrou em sua vida. “A escultura e pintura é a minha fuga, um momento que fico ligada somente a mim. Mas ainda nela, eu consigo materializar a pesca. A minha principal obra é um pescador jogando sua rede. A vida sempre me levou para esse lado, em todos seus extremos”, conta a artista.

A percepção sensível da artista dialoga com as frágeis estruturas sociais ignoradas pela sociedade. Sobre essa perspectiva, a artista lança um olhar semiótico sobre as relações humanas, desconstrói seu pano de fundo e analisa o cotidiano das cidades.

Assim se dá a manifestação de arte contemporânea no universo da artista, a qual só se permite intuir através de um novo olhar sobre as coisas que sempre existiram e sempre estiveram muito próximas à percepção, mas que foram moldadas pelas razões mundiais dominantes, limitando o alcance do cognitivo.

A artista teve sua infância permeada pela atividade extrativista de pescado, memória de forte reminiscência em suas obras, sempre fazendo paralelos ambientais principalmente à Baía de Guanabara e a toda paisagem de informação de indústrias de transformação, estaleiros e de operários.

Suas obras possuem ressonância intuitiva. D.O. acredita que não existe o artista sem o outro. Dogmas e teorias não desenvolvem o potencial da percepção. É necessário ter olhar sensível para tudo que seja simples, tranquilo e generoso.

 

Serviço: ENREDADOS / Artista: Duda Oliveira / Curadoria: Carlos Leal / Texto Crítico: Patricia Toscano / Abertura: 21/10 às 17h / Período: 21/10 a 04/12/2021 / Horário: De terça a sábado, de 12:00 - 19:00, seguindo todos os protocolos de higienização, segurança e prevenção da covid19. / Local: Centro Cultural Correios Rio de Janeiro / Endereço: Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro – Rio de Janeiro / Entrada: gratuita / Galeria Online

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