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Pedra e Ar

Por meio de edital público nacional, EAV Parque Lage tem curso on-line gratuito de verão com bolsas mensais de permanência de R$ 600

Por CADERNO B, [email protected]
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Publicado em 19/02/2021 às 11:43

Alterado em 19/02/2021 às 11:44

O palacete do Parque Lage, onde está sediada a EAV Foto: Renan Lima/Divulgação

Em resposta à pandemia de covid-19, a Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV) atua de forma propositiva e realiza o curso on-line gratuito Pedra e Ar, voltado a artistas com poéticas em desenvolvimento. Com aulas até 26 de março, o programa visa a fomentar e apoiar a produção artística e discursiva com caráter crítico, experimental e disruptivo por meio de encontros periódicos com artistas, teóricos e demais agentes do campo cultural.

A seleção, feita por meio de edital público nacional, divulgou os 12 candidatos selecionados. Uma bolsa de permanência de R$ 600 mensais vai remunerar os participantes do curso, como alternativa à excludente economia material do mundo da arte.

Para a diretora da instituição, Yole Mendonça, esta iniciativa é uma ação contrária ao processo de precarização e vulnerabilidade dos alunos e artistas durante a pandemia: “Esta importante conquista atualiza a radicalidade da EAV, que responde ao grave problema econômico dos trabalhadores da cultura, criando possibilidades para que os artistas não só invistam em formação e ampliem repertório, mas, sobretudo, para que permaneçam sendo artistas”, afirma.

O título do programa toma por empréstimo o nome de um dos objetos relacionais criados pela artista Lygia Clark. "Pedra e Ar" (1966) é constituído de uma pedra — objeto, peso, matéria, signo e forma — e um saco plástico repleto de ar. O sentido desta prática é apreendido a partir do contato, da experiência, da relação e do encontro, num movimento de contração e expansão, próprio daquilo que respira e é vivo.

“Em um momento de crise social e sanitária, interessa imaginar coletivamente que economia material, relacional e afetiva temos urgência em instituir. É momento das instituições contribuírem de maneira direta na vida dos artistas, não há tempo para metáforas. Com velocidade, precisamos imaginar outros modos de vivermos em sociedade. Enquanto entendermos a arte como um processo meramente simbólico, vamos perpetuar a violenta desigualdade do setor cultural”, reflete Ulisses Carrilho, curador da EAV.

Macaque in the trees
Preta Ferreira (Foto: Divulgação)
Macaque in the trees
Paulo Galo (Foto: Divulgação)

Os encontros têm o objetivo de criar uma comunidade temporária de discussão e ação a partir da arte produzida em todos os estados brasileiros. O curso, que prevê debates em torno do fazer e pensar arte, será realizado em plataformas de videoconferência, por meio de encontros síncronos acompanhados pelos professores-orientadores Clarissa Diniz e Ulisses Carrilho, coordenadores do Programa de Formação e Deformação da EAV Parque Lage. Ao longo do trimestre, serão intercalados exercícios práticos e provocações teóricas, que mobilizarão turma e convidados do campo da cultura em torno de cinco eixos temáticos: ‘Matérias’, ‘Corpos e corporeidades’, ‘Coletividades’, ‘Imagens’, ‘Cura e cuidado’.

Afirmando o caráter público da EAV como escola livre e a crença na arte como um exercício de imaginação, parte da programação acontece de forma aberta, para alunos não matriculados, privilegiando uma mirada pública e crítica aos processos de trabalho. No dia 18 de dezembro, foi realizada uma aula-espetáculo com transmissão ao vivo pelo canal do Youtube da EAV Parque Lage.

A curadora e professora Clarissa Diniz, que coordena o projeto em parceria com Carrilho, apresenta o Pedra e Ar como um processo de conversa e de escuta entre pessoas artistas e não-artistas de lugares diversos: “Quase um ano depois do início da pandemia, será um espaço-tempo para refletirmos sobre nossas percepções, experiências, desejos. Para tanto, convidamos as pessoas participantes a habitar discussões tão íntimas quanto públicas, que se darão a partir de cinco eixos centrais. Teremos encontros, aulas, debates e conversas livres que pretendem historicizar, problematizar, esgarçar e experimentar esses territórios a partir dos atravessamentos criados nessa convivência de verão", conclui Diniz.

23/ fevereiro: Aula aberta Ciclo 3 – “Coletividades” - Quem é quem

PRETA FERREIRA
Janice Ferreira, a Preta, é multiartista, comunicadora inata e de formação. É a mais velha dos oito irmãos. Na adolescência, veio da Bahia para São Paulo e, desde cedo, trabalhou para ajudar na complementação da renda familiar. Formada em publicidade, consolidou sua carreira na produção cultural. É também a autora e intérprete do single Minha Carne. Tem por missão “transformar o mundo, para o desenvolvimento cultural e econômico, a partir de pequenos grupos, com promoção da paz e justiça social”, pontua. Na Ocupação 9 de Julho, Preta organiza eventos culturais e socioeducativos, desde pesquisas acadêmicas, laboratórios, oficinas, shows e ações de saúde e lazer.

DAIARA TUKANO
Daiara Hori Figueroa Sampaio - Duhigô, do povo indígena Tukano – Ye’pá Mahsã, clã Eremiri Hãusiro Parameri do Alto Rio Negro na Amazônia brasileira, nascida em São Paulo. Artista, ativista, educadora e comunicadora. Mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília, pesquisa o direito à memória e à verdade dos povos indígenas. Coordena a rádio Yandê, primeira web rádio indígena do Brasil. Estuda a cultura, história e espiritualidade tradicional de seu povo junto a sua família.

PAULO GALO
Galo é fundador e porta voz dos entregadores antifascistas, movimento que se propõem a empoderar o trabalhador informal.

Serviço:
PEDRA E AR – Curso gratuito de verão com bolsa de permanência / 23/ fevereiro: Aula aberta Ciclo 3 - “Coletividade” / 09/ março - Aula aberta Ciclo 4 - “Cura e cuidado” / 23/ março - Aula aberta Ciclo 5 - “Imagem” / Mais informações: [email protected]