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Pag. 35 - Um explorador de contradições

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Diretor de ‘Fora da lei’, sobre a Guerra da Argélia, diz que filme reflete fatos históricos Myrna Silveira Brandão ESPECIAL PARA O JB D esde que estreou no Festival de Cannes do ano passado, Fora da lei , do diretor francês de origem argelina Rachid Bouchareb, sobre a luta da Argélia pela independência, vem causando polêmica onde é exibido. O filme, em cartaz desde sábado na cidade, começa descrevendo a revolta dos argelinos contra a ocupação francesa, em 1945, um dia depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e a reação do governo francês, que resultou num massacre sangrento, com milhares de vítimas.

A partir daí, assume o ponto de vista de três irmãos de uma mesma família argelina, expulsa de suas terras pelos colonizadores franceses. Três destinos que continuarão, na França, e cada um à sua maneira, a luta pela independência de seu país de origem.

Jamel Debbouze, Sami Bouajila e Roschdy Zem encabeçam o elenco.

O diretor tem reputação de polêmico. Em estilo semelhante, já tinha realizado Dias de glória (2006), que conta a história dos homens das ex-colônias francesas – argelinos, marroquinos e senegaleses – que engrossaram as fileiras do Exército da França durante a Segunda Guerra Mundial, e a discriminação de que foram vítimas. Lançado três anos mais tarde, London river também misturou suas raízes africanas com os atenta dos terroristas na Inglaterra. Bouchareb se defende dizendo que os fatos – e seus desdobramentos políticos – não foram criados por ele.

– Fora da lei reflete o que aconteceu, não sendo necessariamente a minha opinião – ressaltou o diretor. – É preciso deixar claro que se trata de uma obra de ficção. O cinema deve estar numa posição de enfrentar qualquer assunto. Tenho feito isso como cineasta, com a minha própria sensibilidade, sem forçar ninguém a partilhar das mesmas ideias.

Alheio à polêmica que o filme vem causando, particularmente na França, onde foi boicotado pelos grupos de extrema-direita, Bouchareb prefere lembrar sua condição de realizador: – Faço cinema. Se historiadores, público e políticos querem resolver o problema, que o façam, para que possamos, com serenidade, virar essas páginas.