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Pag. 54 - Intrincados laços de família

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A vida em família é difícil no cinema de josé eduardo belmonte. em meu mundo em perigo , elias (eucir de souza) disputa na justiça a guarda do filho (rafael henrique miguel) com a ex-mulher (justine otondo), emocionalmente desestabilizada, com quem trava uma relação marcada por constantes atritos. fito (milhem cortaz), por sua vez, é humilhado pelo pai alcoólatra (wolney de assis), que não hesita em assediar a própria nora (ziza brisola).

Já ísis (rosane mulholand, presente em quase todos os filmes de belmonte) se refugia do convívio com a mãe e a irmã (rápidas participações de mãe e filha na vida real, helena ignez e djin sganzerla) num quarto de hotel.

São personagens à beira do transbordamento, desnorteados. elias e ísis se encontram, mas não se expressam, pelo menos de início, através da fala. do mutismo passam a evocar fatos ínti mos por meio de sussurros, enquanto fito procura o responsável pelo atropelamento do pai. todos parecem, em medidas variáveis, autocentrados. ainda assim, em determinado momento, elias e ísis demonstram interesse por histórias de pessoas que não conhecem, o que confere a meu mundo em perigo um interessante sabor documental.

A investida numa trilha marcada por sonoridades que remetem ao primitivo e ao ancestral confere estranheza ao filme, roteirizado pelo próprio diretor em parceria com o dramaturgo mario bortolotto. no elenco, vale destacar o ótimo trabalho de eucir de souza. e a excelente participação de milhem cortaz, surpreendendo nas reações emocionais de seu personagem. exibido no festival de brasília de 2007 e lançado, portanto, com atraso em circuito comercial, meu mundo em perigo é, com certeza, o melhor longa-metragem de belmonte até o instante.