Repr odução
CINEMA
Visto por 1,25 milhão em três dias, ‘T r opa de elite 2’ r eafir ma o talento do r oteirista Bráulio Montavani, indicado para o Oscar por ‘Cidade de Deus’
Carlos Helí de Almeida
Aos 47 anos, o paulista Bráulio Manto v ani pode ser consider ado o m ais bem-sucedido r oteirista br asileir o . Indicado par a o Oscar pelo r oteir o de
Cidade de Deus
(2002) e autor das mais contundentes histórias da última década, como
Ônibus 174
(2002),
O ano em que meus pais saír am de férias
(2006) e
Última par ada 174
(2008), Manto v ani f az parte da equipe que aca ba de mar car outr o gol par a o cinema nacional: lançado na última se x - ta-feir a,
T ropa de elite 2
, de J osé P adilha, que dá sequência à saga do capitão Nas - cimento (W agner Mour a), f oi assistido por cer ca de 1,25 milhão de pessoas em três dias em cartaz, tornando-se a maior estr eia da Retomada. – Duvido que tenham cor agem de c hamar
T ropa 2
de f ascista, como fi- z er am com o primeir o filme – diz o r oteirista, que contribuiu com
Tr o p a de elite
.
‘T ropa de elite 2’ se desen v olv e colado à nossa realidade. F oi difícil não se com - prometer com os reais en v olvidos?
– Na v er dade, não f oi. O tempo todo pensamos em per sonagens de ficção . Os f atos ajudar am a compor os per sona - gens. A intenção n unca f oi r epr oduzir no filme per sonagens específicos da r ea - lidade. O v er dadeir o antagonista de Nas - cimento não tem nome nem r osto , é o sistema, e os per sonagens contr a os quais ele luta r epr esentam f acetas desse sis - tema. Essas r epr esentações f or am cons - truídas a partir de dados da r ealidade. Utilizamos apenas o que nos inter essa v a, combinando difer entes f atos e pessoas. teir o f oi indicado par a o O scar . Não po - demos nos esquecer de que se tr ata do r oteir o de um filme f alado em português, idioma que os americanos costumam confundir com o fr ancês, o russo e até o polonês. O português é uma língua e xó - tica nos EU A. Mesmo assim, meu r oteir o ganhou uma indicação da Academia. Depois dessa, ficou difícil par a mim le v ar a sério qualquer crítica maledicente. Aliás, r ar amente leio críticas.
Seus roteiros mais premiados f alam da realidade social. O tema o a paixona?
– O que esses filmes que escr e vi têm em com um é o f ato de todos estar em ba - seados em g r andes histórias, que pr o - duzir am em mim um efeito perturbador . Escolho pr ojetos que tenham esse efeito em mim. Não é o tema que me seduz. É o impacto da história.
Acredita que filmes como ‘T ropa 2’ possam ajudar a m u dar a realidade?
– P enso que alguns filmes têm o p oder de pr o v ocar discussões sobr e a r ealidade. Mas esse poder tem mais a v er com a qualidade artística dos filmes do que com a escolha do tema. O mais polêmico dos temas pode passar desper ce bido se o filme f or insípido .
T ropa de elite 2
é tudo ,
Que tipo de material v ocê e o P adilha usaram como pesquisa?
– O P adilha pesquisou m uito mais do que eu toda a parte policial da história. Ele conhece oficiais do Bope e con v er sou com delegados que in v estigar am as mi - lícias. Eu me concentr ei no material que o deputado Mar celo F r eixo me passou e nas minhas con v er sas com ele. Assisti a todos os depoimentos da CPI das mi - lícias. Acr edito que, no total, vi mais de 20 hor as de milicianos negando a e xis - tência das milícias.
Como v ocê analisaria o primeiro ‘T ro- pa’ em relação ao se gundo?
– São filmes equi v alentes. Ambos cum - pr em o seu papel, dentr o dos limites que nos autoimpusemos. Do ponto de vista artístico , não hesito em diz er que
T ropa 2
me ag r ada m uito mais que o primeir o . A história é mais comple xa, a tr ama mais intrincada, o pr otagonista (Nascimento) mais bem desen v olvido . T ecnicamente,
T ropa 2
super a o primeir o em todos os sentidos. T odos os en v olvidos consegui - r am ir m ais longe em suas r especti v as funções. Não me sentia tão or gulhoso de f az er parte de um filme desde
Cidade de Deus
. T udo o que fiz emos de bom no r oteir o ficou m uito melhor no filme.
“O que me seduz éo impacto da história”
‘T ropa de elite’ f oi acusado de f ascista. T eme que isso aconteça com ‘T ropa 2’?
– Ac ho que f alo por todos: n unca ti v emos medo de nada quando começamos a criar
T ropa de elite 2
. F iz emos o filme que queríamos f az er . Eu, particularmente, não costumo dar importância a críticas como as que f or am feitas ao primeir o
Tropa
. V ai soar arr o gante, mas é a v er - dade: quando
Cidade de Deus
f oi lançado , um crítico de jornal me c hamou de sub-T ar antino . Meses depois, o meu r o - menos insípido . É um filme que equi v ale a um soco no estômago . P ortanto , tem potencial par a colocar o tema da se - gur ança pública em pauta. Se isso acon - tecer , já é um mérito . Esper ar que um filme m ude a r ealidade é uma mistur a de arr o gância e ingen uidade. O filme pode ajudar a de bater um tema, instigar as pessoas a se pr eocupar em com o assunto . Mas quem pode m udar a r ealidade são as pessoas. O filme pode ser vir , na melhor das hipóteses, como estím ulo .
EQUIPE – Mantovani e Nascimento (no detalhe): criador e criatura