Natal esculpido em arte

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Por PATRÍCIA SECCO

Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos reúne os 12 profetas, principais obras de Aleijadinho

Aleijadinho não esculpiu apenas santos: esculpiu a própria alma do Brasil.

Em cada pedra-sabão ferida por suas mãos, há silêncio, devoção e resistência.

Filho do barroco, filho da terra, ele transformou a dor do corpo em elevação do espírito, fazendo da limitação física um gesto de transcendência.

Ele era iluminado!

Seus profetas não são distantes — olham-nos nos olhos. Eles têm rugas, peso e humanidade.

Lá em casa, no alto de uma montanha da Gávea, tinha um corredor com azulejos portugueses e abóbodas no teto e 5 nichos onde moravam 5 estátuas de profetas do Aleijadinho.

Cada vez que eu passava lá, sentia uma paz inenarrável. Eram santos que caminhavam comigo todos os dias. Que sorte a minha morar com esses companheiros.

Naquelas pedras, Aleijadinho escreveu orações sem palavras, onde o sagrado se mistura ao humano, e o sofrimento se converte em beleza eterna. E que beleza!

Em Ouro Preto e Congonhas, o tempo parece ajoelhar-se diante de sua obra. Ali, o Brasil aprendeu que a arte sacra pode ser profunda, intensa, quase visceral — não apenas louvor, mas também confissão.

Aleijadinho nos ensinou que a fé não precisa ser perfeita para ser verdadeira. E a fé me guia.

Sua obra permanece como um ato de coragem: criar quando o corpo falha, acreditar quando tudo dói.

Aleijadinho é mais do que um artista do barroco brasileiro — é um símbolo de força, espiritualidade e identidade. Um homem que, mesmo quebrado, construiu eternidades.

Sempre no Natal, me vem aquela imagem dos profetas olhando e conversando comigo.

Amém.