Antiga residência de D. Pedro I em Niterói ameaçada de degradação
Revitalização do Palacete Imperial de Niterói e reabertura do Museu Histórico da Cidade
Cresci caminhando e andando de ônibus pelas ruas do Centro de Niterói, entre edifícios antigos e calçadas gastas pelo tempo. Sempre me intrigou aquele prédio imponente na Rua Marechal Deodoro, com suas janelas largas, detalhes arquitetônicos e uma dignidade silenciosa — o Palacete Imperial, como aprendi mais tarde. Mas nunca ninguém me contou, nem na escola, nem nos jornais, que ali havia morado D. Pedro I, que ali funcionaram repartições do Império e da Província, ou que aquele lugar era um verdadeiro marco da história do Brasil.
Na verdade, quase ninguém fala disso.
A maioria dos moradores de Niterói sequer sabe que a cidade foi capital da Província do Rio de Janeiro, nem que esse Palacete foi o primeiro imóvel incorporado ao patrimônio da província, em 1842, adquirido em leilão por ordem do Presidente Honório Carneiro Leão, futuro Marquês de Paraná. Um prédio que viu nascer o Estado do Rio de Janeiro e abrigou não apenas D. Pedro I e a Marquesa de Santos, mas também a Tesouraria Geral, a Guarda Policial e outras instituições fundadoras da nossa história.
Hoje, parte desse prédio abriga um restaurante popular. Outra parte, uma agência bancária. O restante, está abandonado, descaracterizado, apagado sob tinta e silêncio. Tudo isso, mesmo sendo tombado pelo INEPAC em 1990 e pela Prefeitura em 2001.
Niterói já teve um Museu Histórico — mas foi fechado e nunca mais reaberto. E ironicamente, o espaço mais adequado para receber esse museu está ali, à espera de vida: o próprio Palacete.
Estamos às vésperas de sediar parte dos Jogos Pan-Americanos, e mais uma vez a cidade será vitrine para o mundo. Será que não é o momento de mostrar também nossa história? Será que não é hora de restaurar o Palacete e devolvê-lo à cultura, à educação e à memória?
Segundo o IPHAN e o INEPAC, o abandono de bens tombados é um dos principais fatores de perda patrimonial no Brasil. E segundo a UNESCO, cada real investido em patrimônio cultural pode gerar até R$ 4 em retorno turístico, social e econômico.
Mas mais do que isso, preservar o Palacete é honrar a nossa história, a nossa identidade, a memória de um Brasil que não pode ser apagado por ideologias, esquecimento ou negligência institucional.
Por isso, lanço IDEIA LEGISLATIVA levada ao Senado Federal foi arquivada por falta de apoio.
Renan Guedes Hart, nasceu em Niterói, RJ. É formado em Música, História, Teologia com especialização em Cultura e Literatura. Atualmente, cursa Filosofia, ampliando ainda mais sua trajetória intelectual e humanística.