SÃO PAULO

Presidente da Enel minimiza apagão e diz que empresa 'está fazendo um trabalho incrível'

Ao menos 200 mil imóveis na Grande São Paulo seguem sem energia elétrica, nesta terça, após temporal que castigou a região na sexta passada

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 07/11/2023 às 11:18

Alterado em 07/11/2023 às 12:47

Nicola Cotugno, o ex-presidente da Enel no Brasil Foto: Arquivo pessoal

O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, afirmou que a concessionária "está fazendo um trabalho incrível" para mitigar os efeitos colaterais provocados pela tempestade que castigou São Paulo na sexta-feira passada (3). A declaração, no entanto, não pegou bem entre os paulistanos, uma vez que alguns bairros da capital seguem sem energia elétrica desde sábado (4).

Ainda de acordo com o executivo, o apagão foi causado por um "evento extraordinário", do qual ele afirma que a Enel "não teve controle". As declarações foram publicadas nesta terça-feira (7), em uma entrevista ao jornal Folha de S. Paulo.

"Não teve qualquer negligência nossa. Não é para nos desculparmos, não. Foi algo excepcional. Quando chega um furacão no Texas, o problema não é a empresa elétrica, é o furacão. Aqui estamos acostumados com eventos menores. Mas, se olharmos de uma forma racional e não emocional, a gente está fazendo um trabalho incrível por um fenômeno pelo qual não tivemos controle.”

Cotugno destacou que, das quase 8 milhões de pessoas afetadas na sexta, 960 mil tiveram a energia restabelecida até o fim de sábado. Ele reconheceu os problemas iniciais de comunicação com o call center, mas afirmou que a situação foi resolvida e a transparência foi mantida com atualizações consistentes. Entretanto, ao menos 200 mil imóveis na Grande São Paulo seguiam no escuro até a manhã desta terça.

Na opinião do executivo, a crise de energia evidencia a necessidade de lidar com eventos climáticos extremos, sugerindo que o enterramento de redes elétricas poderia ser uma solução. Atualmente, a cidade de São Paulo tem cerca de 20 mil km de fios aéreos, segundo a Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecom Competitivas (TelComp), mas menos de 0,3% da rede está totalmente subterrânea.

"Enterrar os fios exige um projeto de país, com custos compartilhados. Temos que avaliar a abrangência, velocidade, entender quais as áreas mais frágeis. Não é enterrar em qualquer rua. Se começarmos agora, em quatro ou cinco anos já veremos resultados efetivos", esclareceu.

Corte de funcionários

A empresa italiana adquiriu, em 2018, 73% das ações da estatal Eletropaulo, tornando-se a acionista majoritária da companhia de energia elétrica. A transação foi concretizada por 1,48 bilhão de dólares (cerca de 5,5 bilhões de reais, nos valores da época). Em dezembro daquele ano, a Eletropaulo passou a se chamar Enel Distribuição São Paulo.

De 2019 até o momento, a Enel promoveu um corte de 36% no seu quadro de funcionários. Em 2019, a empresa contabilizava 23.835 colaboradores, entre próprios e terceirizados. O número passou para 15.366 no terceiro trimestre de 2023. O corte no efetivo ocorre nos mesmos anos em que o número de consumidores atendidos pela empresa subiu 7%.

Ao ser questionado se essa redução de funcionários impactou na resposta da Enel ao apagão, o presidente assegurou que as equipes de campo foram mantidas e que a qualidade do serviço melhorou desde 2019. A falta de mão de obra, porém, é apontada constantemente como um dos fatores que levaram ao apagão, e também teria contribuído com a baixa qualidade do serviço ofertado pela Enel no estado.