Sobretaxa dos EUA causa embaraço na bancada ruralista, que cobra Lula, mas silencia sobre Trump
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Por Aquiles Lins - A ameaça do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros a partir de 1º de agosto mergulhou a bancada ruralista em um dilema político. Com forte alinhamento ao bolsonarismo e vínculos históricos com o trumpismo, deputados e senadores da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) preferem mirar suas críticas no presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas evitam condenar publicamente a medida que pode gerar prejuízos bilionários ao agronegócio.
Segundo reportagem do jornal O Globo, a apreensão é grande entre os parlamentares do agro, principalmente pela importância dos Estados Unidos como segundo maior parceiro comercial do Brasil. Os setores mais vulneráveis à nova tarifa são justamente os mais influentes na base bolsonarista: produtores de café, carne e laranja.
Embora a FPA tenha emitido nota defendendo uma “resposta firme e estratégica” do governo federal e pedindo uma “diplomacia afiada”, o grupo tem evitado qualquer crítica direta à família Bolsonaro ou ao presidente norte-americano. A explicação é política: boa parte desses parlamentares foi eleita sob a chancela de Jair Bolsonaro, que ainda exerce forte influência no campo e nos estados produtores.
O presidente da FPA, deputado Pedro Lupion (PP-PR), resumiu o tom adotado pela bancada: “A postura (da oposição) de culpa do governo federal é correta. Houve um derretimento das relações diplomáticas com os Estados Unidos. O desafio deve permanecer na linha diplomática para que se resolva tecnicamente o assunto. É necessário equilíbrio e não confundir economia com política ou ideologia”.
Internamente, ruralistas citam como gatilhos da reação americana declarações de Lula, como a defesa de uma moeda alternativa ao dólar durante a cúpula dos Brics. “Eu acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que nossa relação comercial não precise passar pelo dólar”, afirmou o presidente na semana passada, criticando a centralidade da moeda americana nas transações globais.
O desconforto se agrava diante de outras posturas da política externa do governo Lula, como o apoio à causa palestina e a recusa em criticar regimes autoritários como os de Cuba, Venezuela e Irã — o que, na visão de parlamentares do agro, fragiliza as relações com países ocidentais.
Apesar do atrito com Lula, os ruralistas mantêm diálogo com o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD-MT), considerado um interlocutor pragmático e disposto a conter danos. Fávaro classificou a medida anunciada por Trump como “indecente” e afirmou já ter contatado as principais entidades do setor. O ministro também prometeu buscar novos mercados para as exportações brasileiras.