POLÍTICA

Após reunião com Bolsonaro, embaixador de Israel ataca Brasil e causa mal-estar com o governo Lula

Daniel Zonshein disse que o grupo Hezbollah, baseado no Líbano, teria membros no Brasil 'porque aqui há quem os ajude'. Nas redes, internautas pedem expulsão do diplomata

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 09/11/2023 às 12:29

Alterado em 09/11/2023 às 13:31

O embaixador de Israel, Daniel Zohar Zonshinea Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

A reunião do embaixador de Israel com Jair Bolsonaro (PL), nesta quarta-feira (8), gerou desgaste com o Itamaraty. O servidor de perfil extremista Daniel Zonshein se reuniu com deputados bolsonaristas e o ex-presidente, na Câmara dos Deputados, sob a desculpa de mostrar imagens "exlusivas" dos ataques do Hamas contra o Estado judeu no mês passado.

No encontro, ele resolveu atacar diretamente o Brasil e fazer insinuações sobre a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em entrevista ao jornal O Globo, o embaixador isralense deu a entender que o grupo Hezbollah, baseado no Líbano, teria integrantes se infiltrando no Brasil “porque aqui há quem os ajude”. 

Zonshine citou como exemplo a tríplice fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai onde, segundo ele, há fugitivos do Oriente Médio e pessoas que apoiam financeiramente as atividades do grupo extremista libanês.

“O interesse do Hezbollah em qualquer lugar do mundo é matar os judeus. Se escolheram o Brasil, é porque tem gente que os ajuda”, afirmou o diplomata do Estado judeu.

A declaração ocorre no contexto das prisões temporárias de dois brasileiros que, supostamente, teriam sido recrutados e financiados pelo Hezbollah, grupo fundamentalista islâmico do Líbano, a fim de planejar ataques terroistas a prédios da comunidade judaica no Brasil, incluindo sinagogas.

O diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos Rodrigues, afirmou, nesta quinta-feira (9), que as declarações feitas pelo embaixador de Israel no Brasil causaram "mal-estar" e "surpresa".

"Foi uma surpresa negativa, uma vez que historicamente há relações entre Brasil e Israel. Eu repudio completamente", disse Andrei ao Blog da Camila Bomfim.

Zonshine já havia causado mal-estar e uma ligeira crise diplomática por conta de suas declarações radicais. A reunião de quarta no Congresso Nacional, ao lado de Bolsonaro e de parlamentares ultrarreacionários, só intensificou o descontentamento no Planalto e no Itamaraty, sobretudo porque internautas vêm pedindo a expulsão do embaixador israelense do território brasileiro.

Mas há um alerta no meio diplomático que, apesar de discordar das declarações, o Brasil não deve inflamar a discussão ou tomar atitudes mais drásticas enquanto não conseguir retirar o grupo de 24 brasileiros e 10 palestinos imigrantes de Gaza.

"Foco absoluto nos brasileiros. Qualquer ruído que cause dificuldades para esse esforço não é assunto para agora", afirmou uma fonte ao blog.

A fronteira da Faixa de Gaza com o Egito, pela cidade de Rafah, foi reaberta nesta quinta-feira (10) para a saída de estrangeiros do território palestino. Mas, segundo o embaixador do Brasil na Palestina, Alessandro Candeias, a lista com autorizações não foi atualizada.

Os estrangeiros que puderam deixar o território nesta quinta são os que estavam em listas divulgadas na quarta-feira, mas que tiveram sua saída também adiada após a fronteira ser fechada por questões de segurança. Os brasileiros ainda não receberam aval para deixar a zona de genocídio.