POLÍTICA

Ex-sócio de Flávio Bolsonaro na Kopenhagen o acusa de calote e ameaça colocá-lo na prisão

Alexandre Santini diz saber de vários 'podres' com potencial para colocar o senador atrás das grades. Ele cita compras de imóveis e 'mesada' para manter o silêncio de Queiroz

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 09/11/2023 às 11:15

Alterado em 09/11/2023 às 12:37

Flávio, Bolsonaro e Alexandre Santini Foto: Reprodução/Facebook

Alexandre Ferreira Dias Santini, ex-sócio do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em uma loja de chocolates da Kopenhagen, afirma que o filho 01 de Jair Bolsonaro lhe deve uma bolada de quase R$ 1,5 milhão de reais. A informação é da coluna de Rodrigo Rangel, do Metrópoles

Além de sócios, Santini e Flávio foram amigos por mais de 20 anos. A aliança começou a ruir, no entanto, quando o Ministério Público do Rio de Janeiro passou a investigar as chamadas "rachadinhas" no gabinete de Flávio B. na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). A promotoria alega que a chocolateria foi aberta para lavar o dinheiro obtido no esquema, o que, de acordo com os investigadores, torna Santini uma espécie de laranja de luxo na sociedade.

O fechamento da loja, somado à suposta dívida milionária de Flávio para com seu antigo sócio, desgastou a amizade. O laço só foi rompido de vez no primeiro turno da campanha eleitoral do ano passado. Nem um nem outro explica os motivos da briga. Mas Santini parece obstinado a contar tudo o que sabe sobre todos os crimes cometidos pelo primogênito do ex-presidente. E diz que tem "podres" o suficiente para jogar o ex-amigo atrás das grades.

A lista de segredos é extensa e inclui desde mesadas para manter o silêncio de Fabrício Queiroz até indícios de tráfico de influência no governo de Jair Bolsonaro (PL). No primeiro semestre deste ano, Alexandre Santini mandou para Flávio alguns recados cifrados pelas redes sociais.

“Não adianta tentar escapar, tudo é questão de tempo, pois provas não faltam para seus inúmeros ‘crimes na política’ que vão te levar para a PRISÃO”, chegou a escrever o ex-sócio em um dos posts, sem citar o senador nominalmente.

A dívida milionária

De lá para cá, muita coisa aconteceu e a crise entre os dois escalou. A parte mais visível da contenda ganhou forma nas últimas semanas, com uma notificação extrajudicial que os advogados de Santini enviaram para Flávio Bolsonaro. No documento, Santini afirma que ficou no prejuízo ao abrir com Flávio Bolsonaro a Bolsotini Chocolates e Café Ltda, razão social da loja de chocolates instalada no shopping Via Parque, na Barra da Tijuca.

Na peça, primeiro passo de um processo judicial de cobrança, ele diz que, ao fazer os aportes iniciais para a abertura do negócio, o senador pagou sua parte, o equivalente a R$ 200 mil, em dinheiro vivo. Santini diz que, do investimento inicial de R$ 1 milhão, pôs R$ 450 mil do próprio bolso, enquanto a dentista Fernanda Bolsonaro, mulher do senador, aportou R$ 350 mil por meio de uma transferência bancária.

Também sustenta que, embora a sociedade fosse dividida meio a meio, Flávio sempre ficou com a maior parte dos lucros: R$ 1,7 milhão (dos quais R$ 700 mil foram retirados em dinheiro), contra R$ 644 mil.

O ex-sócio argumenta ainda que pagava contas da Bolsotini sem ser reembolsado e que, quando foi preciso vender a loja, depois de o estouro das rachadinhas inviabilizar o negócio, ficou só com R$ 529 mil, enquanto Flávio recebeu R$ 875 mil. Por essas diferenças, o ex-sócio agora cobra do filho 01 de Jair Bolsonaro exatos R$ 1.473.344,46.

Calote de Flávio revolta Santini

Flávio ignorou a primeira notificação extrajudicial, o que fez com que Santini tomasse mais uma medida rumo à judicialização da cobrança. Em 1º de novembro, ele protocolou na Justiça de Brasília uma reclamação pré-processual com os mesmos argumentos e listando os mesmos números. Até agora, não houve resultado.

Ignorado pelo ex-sócio e ex-amigo, ele começou a pressionar Flávio a acertar o que deve, sob pena de revelar segredos capazes não apenas de abreviar a carreira política do filho 01 de Jair Bolsonaro, mas também de levá-lo para a prisão.

Os segredos que Alexandre Santini diz ter envolvem transações em dinheiro vivo que incluem aquisições milionárias de imóveis feitas por Flávio, pagamentos de despesas pessoais com recursos de origem suspeita supostamente obtidos graças à influência do senador no governo federal durante o período em que o pai foi presidente e bastidores de como ele, emparedado pelo escândalo das rachadinhas, administrou o silêncio de Fabrício Queiroz.

O ex-sócio de Flávio tem repetido que está disposto a relatar tudo às autoridades, e conta que tem se aproximado de advogados ligados ao PT que estariam dispostos a auxiliá-lo na empreitada, garantindo a proteção necessária para que ele fale o que sabe: "Se eu quiser, eu ponho o Flávio na cadeia. Com o que eu tenho na mão, ele vai preso. Sei tudo da vida dele”, afirmou dias atrás, ainda de acordo com a reportagem.

Em um sinal do quão pesado está o clima entre os dois, o próprio Flávio Bolsonaro, procurado, admitiu estar recebendo “recados”. “Ele tem mandado recados esquisitos para mim. Já me pediu dinheiro e eu não dei. Não quero dar linha para maluco. É um ex-sócio e ex-amigo”, disse o senador.

O encontro no Senado

O rompimento definitivo com Flávio se deu, diz Santini, pouco antes do primeiro turno das eleições presidenciais do ano passado. O ex-sócio afirma que procurou o senador em seu gabinete, no Congresso Nacional, e lá os dois tiveram uma tensa discussão. Ele conta que chegou para apresentar a cobrança e saiu com a certeza de que a amizade de outrora havia mesmo acabado.

“Eu falei: 'olha, Flávio, está aqui a planilha que você me deve'. Sempre trazendo para o valor presente. 'Todo o valor, sem ser ajustado, aqui você me deve 1,7 milhão. Tá aqui, olha'. Ele sabe que é isso. Ele olhou e falou: ‘Tá bom’. ‘Eu falei: Tá, quando você pode pagar?’ ‘Agora eu não posso.’ ‘Tá bom.’ ‘Quando você vai me pagar?’ ‘Pensando bem, eu não vou te pagar, porque eu não te devo nada. Se quiser, procure a Justiça e você vai perder porque eu tenho poder’”, conta. “Olha quem você é e olha quem eu sou… Você vai perder tempo e dinheiro. Você vai se f.”, teria dito Flávio, ainda de acordo com os relatos de seu ex-sócio.

Foi depois dessa conversa que Santini começou a considerar a possibilidade de falar.

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